Empresa do governador do MT controla
produção de soja no estado
No expressivo crescimento do cenário agrícola brasileiro,
impulsionado principalmente pela produção de soja
nos novos fronts do Mato Grosso, Goiás, sul do Maranhão
e do Piauí, oeste da Bahia e porções dos estados
do Tocantins, Rondônia e Pará, o transporte e a exportação
recebem uma atenção especial. Grande parte desses
grãos é controlada por um pequeno grupo de empresas,
como as multinacionais Cargill, Archer Daniels Midland (ADM) e Bunge
e as brasileiras Maggi e Caramuru, que vêm realizando um uso
corporativo do território na região Centro-Oeste.
As implicações desse oligopólio para o território
brasileiro é o foco do pesquisador Samuel Frederico, que
fez um estudo das modificações no território
brasileiro por meio da modernização e da criação
de novos sistemas de movimentos.
O
pesquisador analisou os Planos Plurianuais (PPAs) do governo FHC
e os grandes projetos que estruturavam esses PPAs: os Eixos Nacionais
de Integração e Desenvolvimento. Os eixos estudados
na pesquisa foram dos novos fronts da soja. Para criação
desses eixos, o governo federal buscou parcerias com grandes empresas,
fazendo com que os trechos que interessavam a elas fossem efetivamente
realizados, enquanto outros, menos interessantes não. "A
hidrovia do Madeira, criada em 1997, é controlada pela maior
empresa produtora de soja do Brasil (o Grupo Maggi). Essa hidrovia
foi construída por meio de uma parceria entre a empresa,
o governo do estado do Amazonas e o governo Federal. Hoje é
o grupo Maggi que detém todo seu controle", explica
Frederico.
Os
outros eixos analisados pela pesquisa são os da ferrovia
Ferronorte, a grande hidrovia do Araguaia-Tocantins e as suas conexões
com a ferrovia dos Carajás e Norte-Sul. O pesquisador informa
que a ferrovia está sendo construída por meio de empréstimos
do BNDES, mas com o objetivo de atender a iniciativa privada, principalmente
das grandes empresas do circuito da soja.
Frederico
alerta para o fato de que há um aumento da quantidade de
soja transportada pela hidrovia do Madeira (um dos principais afluentes
da margem direita do rio Amazonas), mesmo com a redução
da quantidade total de carga transportada. Segundo o pesquisador,
isso demonstra uma monofuncionalização da hidrovia
e um uso cada vez mais seletivo desse sistema de movimento. "Há
um uso corporativo e uma tendência à monofuncionalidade",
critica Frederico.
Um
exemplo do uso cada vez mais corporativo do território, citado
pelo pesquisador, aconteceu no ano passado, no Mato Grosso, quando
o governador do estado, Blairo Maggi, enviou pedidos ao Ministro
da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para que os processos
em andamento de demarcação das áreas de reservas
indígenas no estado não fossem homologados (último
passo para a regularização). Maggi alegou que a expansão
dessas áreas prejudica o "desenvolvimento econômico"
do Mato Grosso, baseado, principalmente, na produção
de soja. Essa iniciativa do governador pode ser melhor entendida
quando se analisa o mapa de produtividade de soja no Brasil. Segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o estado mato-grossense é o maior produtor de soja
do Brasil, sendo as empresas de Maggi as maiores beneficiadas da
produção desses grãos. Assim, a expansão
de reservas indígenas torna-se uma ameaça às
suas empresas.
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Fonte:
IBGE
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A
dependência do produtor de soja em relação às
grandes empresas também chama a atenção do
pesquisador. "Atualmente o sistema de crédito disponível
para o produtor é oferecido por essas empresas, dado que
as áreas de plantio são muito grandes e necessitam
de um grande montante de investimentos", informa. Frederico
explica que o crédito é usado para a compra de maquinário
de alta tecnologia que são muito caros e ultrapassa o limite
oferecido pelo Estado. Como forma de pagamento, os produtores entregam
os grãos da colheita às empresas, entrando, assim,
em um ciclo de dependência. Segundo Frederico, o Estado também
colabora para que as desigualdades territoriais se aprofundem no
território, através de empréstimos supracitados.
"As
áreas dinâmicas do território estão recebendo
investimentos. Contudo, aquelas menos dinâmicas e opacas,
estão ficando cada vez mais esquecidas. Isso tem aprofundado
as desigualdades nas áreas do território brasileiro.
Em contrapartida gera a guerra dos lugares, onde, uma área
compete com a outra para atrair esses investimentos", finaliza.
Federico
defendeu em junho a dissertação Sistemas de movimentos
no território brasileiro: os novos circuitos espaciais produtivos
da soja, pelo Instituto de Geociências (IG), da Unicamp.
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