Implantes de aço inoxidável cada vez 
              mais resistentes à corrosão
            
              Uma 
              pesquisa do Instituto de Química da USP avaliou a resistência 
              à corrosão de diversos tipos de aços inoxidáveis, 
              usados em implantes ortopédicos. Os resultados indicam que 
              as ligas têm obtido cada vez mais estabilidade, o que contribuirá 
              para aumentar a meia-vida de próteses dentro do organismo, 
              evitando procedimentos médicos para dar manutenção 
              nas próteses.
              
              "Nosso estudo confirmou que as ligas mais recentes resistem 
              melhor à corrosão por pite - um tipo de desgaste localizado 
              que se dá a partir do rompimento do filme de óxido 
              que protege a superfície do aço. Agora estamos estudando 
              os elementos responsáveis pela estabilidade, para desenvolvermos 
              materiais ainda melhores", afirma Ruth Villamil, autora da 
              pesquisa desenvolvida no Instituto de Química da USP. 
              
              Em sua pesquisa, a química mediu a oxidação 
              sofrida por amostras de aços imersas em uma solução 
              ácida, que simula as condições eletroquímicas 
              de uma infecção no corpo humano. A primeira amostra, 
              denominada 316L, teve a mais alta reatividade, o que explica a diminuição 
              de seu uso médico, praticamente em todo o mundo, embora ainda 
              tenha sido usado no Brasil até 5 anos atrás, segundo 
              informa o chefe da Ortopedia da Santa Casa de São Paulo, 
              Marcelo Mercadante. Já o aço F138, o mais utilizado 
              nos implantes ortopédicos no Brasil, teve desempenho regular. 
              Enquanto o aço 5832-9 (categoria definida pela Associação 
              Brasileira de Normas Técnicas), ainda não regularizado 
              para este fim no país, apresentou estabilidade química 
              superior, graças ao alto teor de nitrogênio na sua 
              composição o que o torna mais resistente à 
              corrosão. Este aço foi desenvolvido na Europa e já 
              é produzido no Brasil, porém ainda não está 
              sendo usado como prótese, pois ainda aguarda a regulamentação 
              para o seu uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
              (Anvisa). 
            "É 
              preciso que a legislação se adapte com mais agilidade 
              aos avanços científicos, assim como é necessário 
              que os médicos se conscientizem dos problemas da corrosão 
              e se atualizem para recomendarem materiais menos danosos para os 
              usuários", diz Sílvia Maria Leite Agostinho, 
              coordenadora do Laboratório de Eletroquímica, onde 
              o estudo foi desenvolvido. 
            Agostinho 
              pontua, no entanto, que para que esses tipos de aço sejam 
              considerados definitivamente superiores para a confecção 
              de próteses será preciso desenvolver ligas de aços 
              sem níquel, visando diminuir as reações alérgicas 
              que ocorrem nos implantes, atribuídas a esse metal. Os trabalhos 
              estão sendo feitos em parceria com a empresa Villares Metals 
              e com o Hospital Santa Casa de Misericórdia. 
            Atualmente 
              o aço inoxidável é bastante utilizado na ortopedia. 
              Eles entram na composição de próteses (quadril, 
              cotovelo e joelho) e material de osteossínteses, que são 
              hastes, placas e parafusos utilizados para a consolidação 
              de fraturas. Esses materiais, quando em contato com o meio ácido 
              do tecido humano, sofrem desgastes e constante risco de oxidação, 
              podendo causar hipersensibilidade, ou a necessidade de uma nova 
              cirurgia para manutenção. Conseqüentemente, aumentam 
              as despesas para os pacientes ou instituições públicas 
              de saúde. 
            Os 
              materiais mais empregados em próteses permanentes são 
              as ligas de titânio e de cromo-cobalto-molibdênio, mas 
              elas apresentam a desvantagem de serem caras. No Brasil, elas custam 
              cerca de US$ 2,5 mil, enquanto as de aço inoxidável 
              saem por US$ 700. 
              
              Segundo Tomaz Puga Leivas, especialista em Biomecânica do 
              Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, 
              em São Paulo, "os materiais de osteossíntese 
              usados para consolidar fraturas ósseas, têm, geralmente, 
              uma vida útil bem definida, sendo retirados assim que osso 
              se restabelece, antes que a corrosão o danifique. No entanto, 
              as próteses ortopédicas têm uso por tempo prolongado 
              e sofrem com o meio altamente agressivo que constitui o organismo 
              humano, cujos fluidos, ricos em cloreto de sódio, estimulam 
              a corrosão". Assim, próteses que deveriam acompanhar 
              o paciente durante a vida inteira, duram no máximo cerca 
              de 15 anos.
              
              A segurança de produtos como próteses de joelho, de 
              quadril, placas para fixação de ossos, parafusos e 
              hastes, foi discutida em fevereiro durante o "I Fórum 
              de Segurança Sanitária de Produtos para Ortopedia", 
              evento promovido em conjunto pela Anvisa, pelo Instituto Nacional 
              de Traumato-Ortopedia, que integra o Ministério da Saúde, 
              e pela Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores 
              de Implantes. Sérgio Madeira, coordenador do evento, explica 
              que enquanto os Estados Unidos fazem 800 mil cirurgias anuais envolvendo 
              implantes ortopédicos, o Brasil realiza apenas 20 mil. "Em 
              pelo menos dois grandes hospitais de São Paulo a fila de 
              espera por um implante chega a dois anos, o aumento da fila ainda 
              piora mais devido à má qualidade dos implantes, pois 
              muitos pacientes apresentam desgaste precoce dos materiais ou perda 
              da fixação óssea e têm que ser reoperados 
              depois de 3 ou 4 anos, ou até menos". Isto significa 
              riscos muito mais graves e inaceitáveis, acredita Madeira, 
              pois a maior demora na colocação de novos implantes, 
              mantém deficiente a pessoa que, com a prótese, poderia 
              voltar a trabalhar e tornar-se auto-suficiente, deixando de ser 
              um ônus para a família e a sociedade, além de 
              ser custoso para o SUS e para o país.
            
            
            
            
              
								
                 
                  
                    Aços 
                      inoxidáveis 
                    Os 
                      aços inoxidáveis foram descobertos, em 1912, 
                      e são formados por ferro e cerca de 12% de cromo, 
                      um dos principais responsáveis pela resistência 
                      à oxidação. Isso porque, a partir de 
                      um determinado valor e em contato com o oxigênio, 
                      o cromo permite a formação de uma finíssima 
                      película de óxido de cromo na superfície 
                      do aço, película impermeável e insolúvel 
                      aos meios corrosivos usuais. Na verdade, esse tipo de aço 
                      oxida, mas é mais resistente à corrosão. 
                      Além do ferro e do cromo outros elementos como o 
                      níquel, molibidênio e titânio entram 
                      na composição da liga, a presença ou 
                      não desses elementos caracteriza a estrutura, propriedades 
                      mecânicas e o comportamento final do aço inoxidável. 
                      Além do aço inoxidável, outros metais 
                      como o titânio e alguns polímeros como o silicone, 
                      são considerados biocompatíveis ao corpo humano, 
                      ou seja, não reagem em contato com o tecido humano, 
                      por exemplo provocando inflamações.  
                   
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