Ministro pede apoio a instituições cientificas 
              na 
              luta por verbas
            Um 
              pedido de socorro. Foi assim que o Ministro da Educação, 
              Tarso Genro, qualificou sua conversa com as sociedades científicas 
              na sede da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência 
              (SBPC), que aconteceu no último dia 01. De acordo com o ministro, 
              nenhuma mudança importante acontecerá "de dentro 
              para fora", mas somente com a pressão da sociedade. 
              "Se a reforma universitária for gestada somente pelo 
              governo, ela será algo pífio, talvez resulte em algo 
              pior do que já existe", afirmou aos representantes presentes. 
              
            O 
              Ministério da Educação está realizando 
              um processo intenso de consulta a diversos setores da sociedade 
              para o delineamento da reforma. "Em novembro, queremos ter 
              uma espécie de constituição da reforma, um 
              projeto para um processo que é longo", afirmou, referindo-se 
              tanto ao trâmite da reforma no Congresso Nacional como ao 
              processo de implantação dos itens da reforma. Por 
              enquanto, segundo ele, o destino da reforma ainda está sendo 
              discutido e, se a sociedade não participar do debate, quem 
              vencerá serão os organismos internacionais. "Hoje, 
              a visão predominante dentro do governo está de acordo 
              com o Banco Mundial, para quem o Estado deve tratar apenas do ensino 
              básico, sendo o superior uma commodity", afirmou. Genro 
              disse que, embora respeite essa visão, não concorda 
              com ela. "Superávit primário não pode 
              abranger a educação".
            Ao 
              discutir a reforma universitária, o ministro analisou a política 
              nacional como um todo, enfatizando a dificuldade de construção 
              de alternativas de desenvolvimento frente a uma dívida que 
              imobiliza a administração federal. "A política 
              passou a ser simplesmente uma leitura do mercado financeiro. Do 
              jeito que está, as eleições estão se 
              tornando supérfluas, é só deixar para o Banco 
              Central", disse. Ao mesmo tempo ele enfatizou o que seria uma 
              experiência nova no governo, a transição de 
              um modelo neoliberal. Segundo ele, essa é uma experiência 
              que nunca foi tentada no mundo, para a qual não há 
              exemplos.
            Entre 
              os pontos em discussão na reunião estiveram a criação 
              de um núcleo comum para os dois primeiros anos da graduação 
              universitária (que pode ser único para todas as carreiras 
              ou dividido em quatro grandes áreas: humanas, exatas, biológicas 
              e artes); as carreiras dos docentes; a autonomia das universidades 
              federais; e a proposta de "estatização" 
              de vagas da universidade privada. O ministro defendeu esse último 
              ponto afirmando que a medida resultará em economia de recursos 
              pois será mais fácil cobrar a contrapartida das instituições 
              não-públicas. Hoje, muitas universidades, que se dizem 
              filantrópicas, seriam de difícil fiscalização. 
              Com o novo sistema, haveria um critério objetivo para se 
              oferecer ou não a isenção de impostos.
            Outro 
              ponto em debate foi eleição direta para os reitores 
              das universidades. O ministro ouviu dos representantes das sociedades 
              que, em alguns casos, ao invés de resultar em uma melhoria 
              na qualidade do estabelecimento, elas terminam em um pacto de mediocridade. 
              O ministro disse estar ciente desse tipo de problema e explicou 
              que esse ponto foi incorporado à proposta do governo como 
              uma reivindicação de alguns setores, e não 
              por ser algo em que acredita firmemente.
            O 
              ministro recebeu do presidente da SBPC, Ênio Candotti, uma 
              carta em que a entidade pede o exame de algumas propostas que já 
              estariam sendo discutidas por comissões da entidade. Entre 
              elas está a autonomia das universidades federais, cujo modelo 
              das universidades paulistas é tido como exemplar. A carta 
              também solicita que seja examinada com atenção 
              a proposta do núcleo comum para a formação 
              universitária (chamado de "primeiro ciclo"). Em 
              sua fala, Candotti colocou esses pontos, afirmando que não 
              há ainda consensos sólidos entre as instituições 
              e pediu que parte do dinheiro que o ministério atualmente 
              gasta na compra de livros didáticos seja despendeu na produção 
              editorial de material didático de qualidade.