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Ambientes de trabalho quentes aumentam
incidência de pedras nos rins

Operários da indústria siderúrgica têm nove vezes mais chances de desenvolver a litíase – popularmente conhecida como pedras ou cálculos nos rins – do que aqueles que trabalham longe do metal incandescente. Essa foi a constatação de um estudo desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que analisou os prontuários médicos dos operários de uma siderúrgica do Rio de Janeiro, onde as temperaturas nos ambientes internos chegam até a 80ºC. A alta incidência de cálculos renais nesses funcionários tem explicação: por causa do calor intenso, os trabalhadores perdem muito líquido pelo suor intenso. “O calor, por produzir desidratação crônica, tem importância significativa na ocorrência da litíase”, explica o pesquisador Luiz César Lopes Atan. Com a desidratação, a urina fica muito concentrada, propiciando a formação de cálculos.

A pesquisa foi realizada com 10.326 funcionários entre março de 1999 e dezembro de 2002. Dos 1.289 trabalhadores das áreas com temperaturas elevadas – próximas aos fornos e ao setor de laminação do aço – cerca de 8% apresentaram pelo menos um episódio de cálculo renal. Nos 9.037 funcionários expostos à temperatura ambiente esse índice foi bem menor, 0,86%. “Embora exista envolvimento de fatores alimentares e antecedentes familiares, isto não foi significativo em nosso trabalho”, afirma Atan. A pesquisa também mostrou que o tempo de profissão na empresa e doenças associadas – que poderiam propiciar a formação de pedras nos rins nos operários – não se mostraram significantes neste caso.

No entanto, não são apenas os funcionários de siderúrgicas que devem atentar para esses resultados. Segundo o pesquisador, trabalhadores que convivem com temperaturas altas, como ambulantes de praia, motoristas de ônibus, forneiros de padaria e cozinheiros também têm grandes chances de contrair pedras nos rins.

As pedras nos rins são formadas pelo acúmulo de certas substâncias, como cálcio, ácido úrico, oxalato e cistina, dentro dos rins ou nos canais urinários. A litíase costuma ocorrer três vezes mais em homens do que em mulheres. Além da alta temperatura no ambiente de trabalho, como é o caso dos operários de siderúrgicas, a herança genética, o sedentarismo e a obesidade também são fatores que estão ligados à doença. “A litíase também ocorre por distúrbios metabólicos relacionados a erros alimentares e por fatores hormonais”, acrescenta o autor do estudo.

A ingestão excessiva de sal, carboidratos e proteínas também podem influenciar no aparecimento das pedras nos rins em pacientes que já são predispostos.

Os riscos da doença estão relacionados com as complicações no aparelho urinário, com infecções repetidas – estima-se que cerca de 75% dos pacientes que já tiveram o problema poderão apresentar um novo episódio de formação de cálculos nos próximos 20 anos – e, às vezes, insuficiência renal, nos casos que não são tratados. “Além disso, as manifestações clínicas levam a maior ausência do trabalho, com influência no setor produtivo e maior custo de tratamento”, alerta Atan. Por isso, a dica do pesquisador é que essas siderúrgicas promovam palestras de esclarecimento para a conscientização dos funcionários e instalem bebedouros com água saudável com o acréscimo de citrato de potássio, já que a ação dessa substância no organismo é um fator de proteção contra a doença.

Para as demais pessoas, principalmente aquelas que trabalham em ambientes quentes, a prevenção está relacionada à ingestão de líquidos, estabelecimento de dieta adequada e balanceada – diminuindo a ingestão de carne vermelha e de sal de cozinha –, controle de fatores metabólicos e à prática de atividades físicas, sob orientação.

Atualizado em 24/06/04

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