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Técnica emprega insulina em colírio
para combater síndrome do olho seco

Quem sofre de síndrome do olho seco poderá ganhar em breve um aliado: um novo colírio que tem em sua fórmula a insulina, hormônio que estimula o metabolismo dos tecidos e, neste caso, pode contribuir para a produção de lágrimas. Segundo o oftalmologista Eduardo Melani Rocha, pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, a idéia de incorporar a insulina na formulação do colírio veio de estudos experimentais para compreender a influência de diferentes hormônios - a insulina em particular - no funcionamento da glândula lacrimal.

Graças às pesquisas feitas para entender a ação dos hormônios nos tecidos oculares, os cientistas já sabiam que eles tinham um papel importante na nutrição das células. Era preciso descobrir se a insulina estava presente nesses tecidos e que papel ela desempenhava em relação a eles. Especialistas do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia da Unicamp isolaram tecidos oculares da circulação sangüínea para checar se o hormônio chegava até eles. Se a substância fosse identificada, seria uma evidência de que havia sido transportada pela lágrima.

A pesquisa localizou nos tecidos oculares receptores específicos para a insulina, indicando, assim, a sua ação no local. "Ao observar sua importância, formulamos a hipótese de que esse hormônio seria útil para corrigir distúrbios da secreção lacrimal", explica Rocha. Cada grupo de colírio, segundo o pesquisador, tem características que fazem com que ele seja indicado para um número restrito de doenças. Os atuais colírios disponíveis no mercado seguem duas estratégias: umidificam e prolongam essa umidificação (lágrimas artificiais) ou revertem a inflamação, que pode ser a causa da síndrome do olho seco. Com essa nova fórmula envolvendo a insulina, mais do que repor a umidade dos olhos, a proposta é estimular o tecido a produzir mais fluido lacrimal.

A expectativa é que a novidade chegue ao mercado dentro de dois anos. A pesquisa deve realizar testes, a partir de 2005, com voluntários sadios e, depois, com pacientes com olho seco. "Precisamos testar a eficácia da formulação em seres humanos, pois não existem bons modelos animais, dado que os olhos destes são muito mais resistentes", explica Rocha. "Por ser o olho seco uma síndrome multifatorial, esperamos que pelo menos em parte dos casos a nova estratégia seja benéfica", afirma. O pesquisador da Unicamp também entrou com o pedido de patente para a nova fórmula. Se os resultados dos testes forem positivos, Rocha diz acreditar que o colírio tem boas chances de ter um preço competitivo, já que boa parte da fórmula é de origem nacional e já produzida em larga escala para aplicação em outros medicamentos. "Hoje, o mercado de medicações oculares está dividido entre várias empresas. Assim, a aceitação poderá ocorrer sem obstáculos", ressalta.

Síndrome
Segundo o oftalmologista da Unicamp, entre 2 a 15% das pessoas podem apresentar a síndrome do olho seco, que é um desconforto da superfície ocular por falta de produção ou aumento na perda de lágrima, podendo causar dano a essa superfície. Segundo Rocha, pessoas com doenças inflamatórias como reumatismos, doenças hormonais como diabetes mellitus ou distúrbios da tireóide - uma das mais importantes glândulas do corpo humano, que executa as tarefas de supervisionar, estimular e induzir todos os órgãos e funções do corpo em uma determinada seqüência - podem ter a síndrome do olho seco com mais freqüência. "No dia-a-dia, pessoas normais podem ter esses sintomas por causas externas que vão desde ambiente seco, com ventos ou extremos de temperatura. Tabagismo e distúrbios alimentares também podem causar o problema", alerta o pesquisador. De acordo com ele, o uso de lente de contato e cirurgias oculares ou de pálpebra também podem causar a síndrome ou induzi-la, ainda que transitoriamente.

Quem tem a síndrome do olho seco freqüentemente tem a sensação de areia nos olhos, olho vermelho, sensação de peso nas pálpebras, embaçamento na vista aos esforços visuais e fotofobia. Os riscos provocados por essa síndrome vão desde a inflamação até a úlcera de córnea, além de infecções oportunistas, problemas que, em alguns casos - "ainda que muito raramente", observa Rocha -, podem gerar a necessidade de transplante de córnea ou levar à perda da visão.

Função das lágrimas

As lágrimas são o mecanismo natural do organismo para proteger a superfície ocular contra infecções e efeitos corrosivos da sujeira e da poeira. Elas ajudam a criar uma superfície corneana de modo que a visão permaneça clara e sem distorções. Uma produção adequada de lágrimas é importante para a manutenção da saúde, do conforto e da capacidade de controle de infecções no olho. Se o olho não produz lágrimas suficientes para realizar essas funções, pode ser necessário o uso de colírio que estimule a umidificação dos olhos (as lágrimas artificiais).

 

Atualizado em 14/06/04
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