Projeto revela altos índices de contaminação de laticínios clandestinos no estado de São Paulo
A contaminação do leite e seus derivados é um dos graves problemas envolvendo a segurança alimentar no Brasil. Análises feitas por instituições de pesquisa e de defesa do consumidor têm demonstrado que vários produtos derivados do leite não deveriam estar disponíveis no mercado por serem classificados como impróprios para o consumo humano. Dentre os laticínios comercializados no país, os informais ou clandestinos representam cerca de 40% do total e são os que apresentam os níveis de contaminação mais preocupantes.
A primeira fase do projeto de pesquisa "Produtos lácteos clandestinos: Dimensionamento real do problema no estado de São Paulo como parâmetro para elaboração de políticas públicas que visem seu combate", financiado pela Fapesp, foi realizada pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e pelo Instituto Biológico, ambos ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo. Os resultados, concluídos no final de maio, evidenciaram a precariedade higiênico-sanitária desses produtos lácteos. "Como esperado, os resultados das análises mostraram índices de contaminação bastante elevados", afirmou Airton Vialta, pesquisador do Ital e coordenador do projeto.
Os
pesquisadores do Ital e Instituto Biológico realizaram análises
microbiológicas e microscópicas em 314 amostras de
queijo e leite comercializadas de forma clandestina em diversas
regiões do estado de São Paulo. "As análises
microbiológicas mostraram principalmente a presença
de coliformes fecais e S. Aureus (uma bactéria que
pode causar intoxicação alimentar) acima dos limites
estabelecidos pela legislação, enquanto as análises
microscópicas revelaram a presença de pêlo de
roedor e de fragmento ou mosca inteira, tornando tais produtos impróprios
para o consumo humano", explicou o coordenador do projeto.
Do
total de amostras analisadas, 60% foram condenadas para o consumo
humano. Esse percentual pode ser ainda maior, quando consideradas
outras análises que foram feitas, mesmo sem estar previstas
na legislação
para alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). "Se fossem consideradas impróprias para o
consumo, as amostras nas quais detectou-se DNA das bactérias
Brucella sp. e/ou M. Bovis (bactérias que transmitem
zoonoses que podem ser retransmitidas a humanos) os valores saltariam
para mais de 64,3% do total", alertou Vialta.
As
análises microscópicas também revelaram a precariedade
das condições de higiene em que foram produzidos os
alimentos analisados; 95% das amostras, por exemplo, apresentaram
pelo menos um tipo de sujeira como pêlos (de humano, suíno,
bovino, eqüino ou roedor), fios diversos, grão de areia,
ácaro, inseto inteiro e/ou fragmento de inseto. "Com
a divulgação dos resultados, pretendemos levar a um
cumprimento efetivo da legislação, ou mesmo, à
criação de outros mecanismos e políticas públicas
que visem, não apenas reprimir a produção e
comercialização dos clandestinos, mas também,
estimular as pessoas que trabalham na informalidade a passar para
a formalidade", enfatizou o pesquisador do Ital.
Na
segunda etapa, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária, instituição
parceira do projeto, deve usar os resultados da primeira fase para
elaboração de políticas públicas que
busquem diminuir a informalidade do setor de laticínios.