Projeto busca manter famílias rurais no campo
Aumentar
a qualidade de vida é um dos principais objetivos dos novos
projetos de habitação popular. No meio rural, a falta
de infra-estrutura leva muitos trabalhadores a migrarem para as
cidades, o que dificulta as tentativas de humanização
das moradias. Para reverter esse quadro, algumas cooperativas de
crédito rural fizeram parcerias com universidades e secretarias
de governo estaduais, a fim de facilitar o financiamento de projetos
habitacionais para produtores rurais.
As
primeiras construções já começaram a
ser realizadas no município rural de Luiz Alves, no interior
de Santa Catarina. Os projetos habitacionais foram desenvolvidos
por estudantes de graduação em Engenharia Civil da
Universidade do Vale do Itajaí (Univali-SC) em parceria com
a Cooperativa de Crédito da Agricultura Familiar (Cresol).
São trinta projetos considerados pilotos para se tornarem
modelos de aplicação em outros municípios rurais
brasileiros. A iniciativa tem subsídios federais a fundo
perdido e atende ao Programa Nacional de Subsídio à
Habitação de Interesse Social (PSH), do Ministério
das Cidades.
As
obras tiveram início, em regime de mutirão, no dia
24 de maio, e deverão estar concluídas em 31 de julho.
As casas serão vistoriadas e avaliadas por delegados do Ministério
das Cidades. Já os projetos desenvolvidos pela Univali foram
solicitados em março e finalizados em maio. "Não
tivemos muito tempo para pensar em materiais alternativos, por exemplo",
afirma Silvia Santos, do Centro de Ciências Tecnológicas
da Terra e do Mar da Univali, orientadora dos projetos. Ela acrescenta
que as casas tinham que ter no máximo 70 metros quadrados,
serem construídas em alvenaria ou madeira e custarem no máximo
R$ 16 mil, englobando todos os serviços pertinentes a essa
obra.
Sem
sala de visita, mas com cozinha grande
Antes da elaboração dos projetos, foram feitas entrevistas
com cada um dos mutuários, para levantamento dos tipos de
terrenos e das necessidades dos usuários. Os dados coletados
mostraram que todos os mutuários são produtores rurais,
alguns já aposentados, mas ainda assim em atividade. Metade
deles são bastante jovens, com menos de 30 anos.
As
casas projetadas têm três quartos, em média,
pois muitos moram com os pais, avós e filhos. Há também
dois banheiros, um interno e outro externo. "Muitos chegam
sujos da lida na roça e querem tomar banho antes de entrar
em casa", explica Santos.
Outra
particularidade em relação aos projetos urbanos é
que muitos não quiseram uma sala de visita, mas sim uma grande
cozinha. Vanessa Gomes, do Departamento de Arquitetura e Construção
da Unicamp, acha que essa característica advém da
tradição colonial brasileira, que com forte influência
italiana, prioriza a cozinha como principal área de convívio
da família.
Sustentabilidade
ambiental
O município de Luiz Alves (SC) é o maior e melhor
produtor de banana do país. Porém, de característica
predominantemente rural, ainda não possui sistemas de tratamento
de esgoto, apesar da abundância de água na região.
Para
suprir essa demanda, os projetos arquitetônicos feitos pela
Univali também contemplaram as redes elétricas e hidro-sanitárias.
"Houve toda uma preocupação em criar um sistema
de fossa e de sumidouro, priorizando a questão de não
jogar esgoto doméstico num leito de água", enfatiza
Santos. Outros pontos como armazenamento e reaproveitamento de água
também fazem parte do projeto.
"A
grande intenção é conseguir fazer com que o
trabalhador rural tenha qualidade de vida, estimulando com isso,
a permanência das famílias rurais no campo" finaliza
a pesquisadora da Univali.