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Técnica de ressonância magnética ajuda no tratamento de talassemia

A anemia é popularmente conhecida como uma doença causada pela má alimentação, que afeta o sangue dos indivíduos. Neste caso, a carência de vitaminas e sais minerais leva o corpo a produzir glóbulos vermelhos com menos hemoglobina, substância responsável pelo transporte e fornecimento de oxigênio ao nosso corpo. No entanto, existe uma forma de anemia que não está diretamente associada à alimentação, é hereditária e ainda atinge várias pessoas pelo mundo. Trata-se da "beta-talassemia major", que faz com que o indivíduo necessite até de transfusões semanais de sangue. As transfusões periódicas podem acarretar sérios danos à saúde do paciente, pois causam acúmulo de ferro no organismo, principalmente coração, fígado e pâncreas. O tratamento também implica, portanto, no uso de medicamentos denominados quelantes, que combatem esse acúmulo de ferro.

O diagnóstico dos pacientes brasileiros era dificultado, até pouco tempo, porque era impossível identificar precisamente a quantidade de ferro acumulado no organismo, o que envolve a realização de um exame de ressonância magnética tipo "T2*" (lê-se "T 2 estrela"). Tal procedimento está sendo feito, desde do dia 17 de maio, no Hospital Albert Einstein. A pesquisa que culminou com esse fato coloca o Brasil entre os cinco países capazes de proporcionar um tratamento de ponta para os talassêmicos, juntamente com Grécia, Itália, EUA e Inglaterra. Pesquisadores da Unicamp também estão prestes a integrar o projeto e já realizam os exames de ressonância em caráter experimental.

O termo talassemia deriva da combinação das palavras gregas "thalassa" e "emas", respectivamente "mar " e "sangue", em português. Foi assim que os médicos denominaram uma antiga doença presente nas populações que vivem em regiões banhadas pelo Mar Mediterrâneo, como Itália e Grécia. Ao longo do tempo, a talassemia se espalhou pelo mundo e atualmente atinge cerca de 200 mil pessoas, em países como Austrália, EUA, Canadá, Índia, Argentina e Brasil, entre outros. No nosso país, existem cerca de 485 pacientes, 75% dos quais estão na região Sudeste, que historicamente recebeu grande contingente de imigrantes da Europa meridional. De acordo com dados da Associação Brasileira dos Talassêmicos (Abrasta), uma associação sem fins lucrativos que visa melhorar a qualidade de vida e o tratamento dos talassêmicos, esses números incluem formas mais brandas da talassemia, denominadas "beta-talassemia minor" e "intermediária", porém mais de 60% são de talassemia major.

Segundo Merula Steagall, presidente da Abrasta, o domínio da técnica para realização desse tipo de ressonância representa um grande avanço para o tratamento da doença. Ela afirma que, até então, a dosagem dos medicamentos usava como referência avaliações relacionadas ao quadro geral da saúde do paciente. "Agora, com a ressonância, será possível aferir com precisão a quantidade de ferro que foi possível eliminar do organismo com o uso da medicação". Steagall também realça que isso permitirá adequar a terapia às necessidades individuais de cada paciente. Embora o exame ainda seja caracterizado como parte de uma pesquisa, ele está em fase fase final de avaliação dos resultados e conclusão.

O Hospital das Clínicas da Unicamp está se preparando para se integrar à pesquisa. Segundo o cardiologista Juliano Fernandes, que integra a equipe da universidade, já foram realizados alguns testes preliminares para adequação do equipamento de ressonância de Campinas, que também é usado nos exames de rotina. Segundo ele, o diferencial do exame que avalia a concentração de ferro no coração é a utilização de um software específico e do método já desenvolvido pela equipe do Hospital Albert Eisntein. O pesquisador também realça que o impacto do domínio dessa técnica para o tratamento da talassemia é imenso: "Isso pode barrar o aparecimento de problemas cardíacos precoces, prevenindo a principal causa de morte nesta doença", afirma.

O diferencial da pesquisa brasileira em relação ao que é feito nos outros países, segundo Merula Steagall, é que os resultados obtidos por meio da ressonância serão avaliados em conjunto com uma série de outros exames relacionados à concentração de ferro no organismo como um todo, configurando um check-up completo. Serão atendidos 200 pacientes por ano, gratuitamente, durante três anos, totalizando 600 pacientes. Está previsto um acordo com o governo federal, que pagará as passagens e a estadia de pacientes de outros estados, e o hospital oferecerá os exames necessários. A técnica vai beneficiar também pacientes com outras patologias, cujo tratamento implica na realização de transfusões de sangue constantes, gerando acúmulo de ferro nos tecidos.

A pesquisa será apresentada no Congresso Internacional das Associações de Apoio para Combate à Talassemia, de 22 a 25 de maio, em Chipre. Mais informações podem ser obtidas no site da Abrasta.

 

Transfusões periódicas geram acúmulo de ferro

Os glóbulos vermelhos, também chamados de células hemácias, são compostos de várias moléculas de hemoglobina, proteína responsável pelo fornecimento de oxigênio ao organismo. Eles são produzidos pela nossa medula, de acordo com a necessidade de renovação do nosso "estoque" no sangue. Nas pessoas sem anemia, após um período de vida útil, as hemácias antigas são substituídas e os átomos de ferro, que fazem parte da sua composição, são assimilados pelas novas hemácias que se formam. A medula dos talassêmicos, porém, não produz novas hemácias, já que seu "estoque" é renovado devido às transfusões de sangue periódicas. Deste modo, o ferro originário das antigas hemácias não é aproveitado pelo organismo, acumulando-se ao longo do tempo e causando, a longo prazo, danos à saúde.
Atualizado em 25/05/04
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