Aumento
da produção de soja põe em questão
o futuro das regiões de cultivo
A grande preocupação com o futuro dos municípios
que abrigam as plantações de soja no cerrado brasileiro
cresce paralelamente aos altos índices de produção
que esta commodity vem alcançando. A safra ainda está
sendo colhida, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) prevê uma produção de 52,6 milhões
de toneladas, em todos os estados produtores, 2.19% a mais que na
safra anterior que foi de 51,4 milhões. Para Ricardo Abid
Castillo, chefe do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências
da Unicamp, é fundamental colocar em questão o futuro
dos municípios que abrigam a produção sojífera,
dominadas por grandes empresas como a Cargill, Maggi, ADM, Bunge-Ceval
e Caramuru, que detém a maior parte do lucro. Com exceção
do grupo Maggi, as empresas não têm nenhum vínculo
com as regiões, ou seja, não são proprietárias
de terras ou produtoras de soja. "Se as proteínas da
soja forem substituídas por outras, na ração
animal, qual será o destino dessas cidades?", questiona.
A
previsão é que o aumento na produção
nas próximas safras gere um maior investimento nos sistemas
de transporte para escoar a produção, hoje precários
(leia reportagem
da ComCiência sobre o tema). Castillo afirma que a
implantação de macro sistemas técnicos na região
de plantio de soja objetiva unicamente atender às grandes
empresas e o escoamento da produção para exportação.
"[Conseqüentemente], os municípios entram em guerra
fiscal, esquecem o social e comprometem o orçamento para
oferecer obras de infra-estrutura às empresas", observa.
Os
novos fronts agrícolas imprimem uma nova dinâmica territorial
nas regiões do leste do Mato Grosso, noroeste de Goiás,
sul do Maranhão e do Piauí, oeste da Bahia e porções
do estado do Tocantins. Nestes locais a produção de
soja é movida por imperativos da exportação
com parâmetros ditados pelo mercado internacional. Apesar
da região ser conhecida como o polígono dos solos
ácidos, com baixa fertilidade natural e escassez em nutrientes,
as grandes produções de soja são possíveis
através de corretivos aplicados ao solo, como a neutralização
da acidez com a aplicação de calcário e adição
de nutrientes através de fertilizantes.
Como
os sentidos da produção são guiados pela lógica
global, quem menos ganha são os produtores locais. Maria
Estér, do Grupo de Pequenos Produtores Rurais de Galiléia,
no Maranhão, explica que a grande produção
não gera empregos, como é freqüentemente divulgado
pela mídia, pois ela é toda imbuída de tecnologia.
"É preciso apenas um operador que saiba controlar as
imensas máquinas", justifica. Para Éster, a grande
produção de soja traz bons resultados apenas para
as grandes empresas monopolistas, que também acabam prejudicando
os pequenos agricultores que trabalham com agricultura familiar.
"A produção de soja do Maranhão é
toda exportada. Eu não vejo pacote de soja, produzida aqui,
nas prateleiras do mercado. O que eu vejo é soja de São
Paulo e do Sul", conclui.