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"Colchão" de ar no solo pode prejudicar plantações

Um estudo realizado no Senegal pelo Institut de Recherche pour lé Dévelopment (IRD), da França, constatou a presença de um colchão de ar localizado abaixo das plantações de arroz irrigadas por inundação. O fenômeno dificulta e até pode impedir que a água utilizada na irrigação atinja as camadas mais profundas do solo. De acordo com Claude Hammecker, pesquisador do IRD, o problema pode ocorrer em vários lugares, inclusive no Brasil. "Esse é um tipo de fenômeno que acontece, mas muitas pessoas não sabem disso e acabam desprezando o problema", confirma Antonio Antonino, professor da Universidade Federal de Pernambuco, que participou desse estudo através de uma cooperação não-formal com o IRD.

O cultivo de arroz necessita de grandes volumes de água, principalmente quando a irrigação é feita por inundação. Nesse tipo de irrigação, é necessário manter sempre uma lâmina de água sobre o solo para favorecer a infiltração. Entretanto, em alguns casos, a água não consegue atingir as camadas mais profundas do solo, o que provoca um acúmulo de sais que não podem ser lixiviados, ou seja, lavados pela água. Esse fenômeno pode levar a uma perda na qualidade do solo, interferindo negativamente no crescimento das plantas.

Os pesquisadores fizeram um balanço entre a quantidade de água utilizada na irrigação e a quantidade de água absorvida pelo solo durante cerca de 100 dias, período necessário ao cultivo do arroz. As plantações estavam localizadas em solos argilosos e acima de um lençol freático. Eles constataram que a maior parte da água colocada havia sido consumida pelas plantas e que a taxa absorvida pelo solo era menor que 0,1 mm por dia.

A equipe detectou a existência de uma zona, situada entre 40 e 50 cm abaixo da superfície do solo, onde não havia infiltração. Através de modelos digitais de medição, a equipe comprovou a existência de um colchão de ar nessa região.

"Esse é um processo natural que dificulta a transferência de água para as camadas mais profundas do solo. À medida que se coloca água no solo e essa água evapora, fica o sal, que se concentra cada vez mais: como o colchão de ar impede ou dificulta a transferência de água para as camadas mais profundas, é como se houvesse uma impossibilidade de lavar os sais do solo", esclarece Antonino.

A formação desse colchão de ar deve-se basicamente ao tipo de irrigação empregada. "No caso da cultura de arroz, onde a irrigação é, em geral, feita por inundação, anos e anos de irrigação contribuem para elevar o nível do lençol freático", explica Hammecker. O ar fica então comprimido entre o lençol freático e a frente de umedecimento proporcionada pela irrigação constante.

Segundo Antonino, o solo destinado ao cultivo de arroz "tem por natureza uma condutividade hidráulica baixa, quer dizer, ele transmite água lentamente. Os poros, pequenos, já estão com uma camada de água, o que impede que o ar saia. A água quer entrar e o ar quer sair. Então, há uma compressão dessa camada".

Ele explica que, no entanto, se o solo fosse permeável seria difícil manter a lâmina de água necessária ao cultivo. "Quando você faz uma irrigação desse tipo para determinada cultura, a intenção é que você já tenha o próprio solo com baixa condutividade, para evitar a perda de grandes quantidades de água".

Os pesquisadores acreditam que a existência desse colchão de ar no solo possa explicar, por exemplo, o processo de salinização que atinge as plantações de arroz no nordeste da Tailândia, onde uma equipe do IRD está atualmente conduzindo um estudo. A esperança é que, com a pesquisa, sejam desenvolvidas novas práticas de cultivo que levem em conta esse fenômeno.

Atualizado em 10/05/04
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