Editoras universitárias assumem o desafio
de chegar ao leitor
Descobrir o caminho certo para chegar até o leitor é
hoje o desafio das editoras universitárias. Depois de superada
a fase de profissionalização pela qual passaram nos
últimos cinco anos, colocando-as em condições
de igualdade com as grandes editoras comerciais em relação
à qualidade editorial, agora as universitárias focam
suas estratégias em distribuição e vendas.
Quem
dá o diagnóstico é Alcides Buss, presidente
da Associação Brasileira de Editoras Universitárias
(Abeu) e diretor da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Segundo ele, a entidade levará cursos rápidos
de vendas e marketing ao próximo encontro da associação,
que acontece em agosto, em Vitória (ES), atendendo uma necessidade
comum das editoras associadas.
Há
dez anos, havia no Brasil cerca de 60 editoras no setor. Hoje, a
Abeu reúne 107 editoras, a maioria delas universitárias
e outras ligadas a instituições científicas.
O número deverá continuar aumentando, na avaliação
de Buss, em função do crescimento no ensino superior
no país.
As
áreas de Ciências Humanas e Letras predominam
os títulos publicados pelas editoras universitárias
brasileiras. Nos últimos dez meses, essas editoras
lançaram 800 títulos, com uma média de
mil a três mil exemplares por título.
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A
dificuldade atual é fazer com que estas publicações
cheguem às livrarias e enfrentem a precariedade e o alto
custo da distribuição de livros no Brasil, que só
não atinge as grandes editoras. Outra dificuldade é
a pequena quantidade de livrarias espalhadas pelo país. Dados
da Câmara do Livro revelam que existem apenas 1.500, que não
estão presentes em 89% dos municípios. Com pouco espaço
disponível para tantas editoras, as prioridades dos livreiros
são as publicações que tenham venda garantida,
ou seja, é o mercado que acaba definindo o que vai para as
prateleiras.
O
presidente da Abeu acredita que, embora exista mercado para as publicações
universitárias, ainda é necessário marcar presença
nas livrarias. Nesse sentido, a participação nas bienais
tem sido importante. Na última bienal do livro de São
Paulo, finalizada no dia 25, estavam presentes 56 editoras universitárias,
reunidas em um estande. Eventos como este são vistos mais
como uma oportunidade de divulgação das publicações
e editoras do que uma chance de obter lucros, pois as vendas acabam
custeando a presença no evento.
Outras
estratégias
Quase nenhuma das editoras universitárias dispõe de
financiamentos e subsídios vindos do Ministério da
Educação. Assim, sua sobrevivência financeira
também passou a depender da melhoria nas vendas e na distribuição
adotada pelas editoras universitárias, o que incentivou a
criação de livrarias próprias ou redes de distribuição.
A
Editora Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, mantém
duas lojas próprias no Campus universitário e outras
duas no centro de Brasília e no Aeroporto Juscelino Kubitschek.
Por acordo firmado com a Infraero, a Editora UnB - a terceira maior
do ramo universitário - apenas publicações
de editoras universitárias são comercializadas nesta
livraria. Uma outra loja foi inaugurada no Aeroporto dos Guararapes,
no Recife, mas foi fechada em 2003 em razão das baixas vendas.
Agora pensa-se em inaugurar uma nova livraria no Aeroporto Tom Jobim,
no Rio de Janeiro. Com 40 anos de existência a Editora UnB
lança uma média 60 livros ao ano.
Já
a Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), uma das mais
antigas editoras universitárias do Brasil, possui 17 livrarias
(14 no Campus, duas no Centro de São Paulo e uma no interior
do Estado), que registraram um crescimento de 77% nas vendas deste
ano em relação as do ano passado. Neste total, também
estão computados os títulos de outras editoras, a
maioria delas universitárias.
Criada
em 1962, a Edusp sobrevive das suas próprias vendas e não
tem nenhuma verba da reitoria. O único benefício do
qual dispõe é com relação ao corpo de
funcionários, que é composto pelo quadro da universidade
estadual. Segundo a assessora da presidência da Edusp, Marilena
Vizentin, a editora lançou 94 novos títulos em 2003,
o que representou uma queda em relação aos anos anteriores,
que mantinham uma média de 100 lançamentos anuais.
A perspectiva para 2004 é que este número caia ainda
mais.
Na
avaliação de Vizentin, a queda no número de
novos títulos acompanha a realidade do mercado, que sofre
com a economia como um todo e com o alto preço do papel.
Mas, ela concorda que a maior dificuldade das editoras universitárias
é a distribuição e a comercialização.
Além
das próprias livrarias e das grandes feiras, Vizentin lembra
que as feiras alternativas têm sido uma boa forma de distribuição
e venda. A Feira do Livro da História, que acontece anualmente
na USP há cinco anos, por exemplo, dá retorno maior
que uma Bienal. Neste evento, não é cobrado estande
para participação das editoras universitárias.
A única exigência é que sejam comercializados
livros com desconto de 50% sobre o valor de capa.