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Trabalhar alivia a depressão… Pelo menos, em ratos


A depressão pode estar mais ligada a interações com o ambiente do que se pensava. A presença constante de várias pequenas situações desagradáveis e incontroláveis para a pessoa parece provocar ou piorar a doença. Porém, a possibilidade de operar sobre o mundo pode ser importante na recuperação. Pelo menos, é o que acontece com os ratos, de acordo com os resultados da pesquisa da Ana Carmen Dolabela, psicóloga da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Na sua dissertação de mestrado, apresentada ao programa de Psicologia Experimental, a pesquisadora aplicou um modelo experimental em ratos e verificou que a prática de atividades auxiliou na recuperação da doença.

Vários sintomas podem caracterizar um sujeito deprimido: perda de sono, mudança brusca de humor, perda de peso e outros. Para alguns psiquiatras, um traço definidor da depressão é a anedonia, que significa ausência de prazer. Um problema fundamental é determinar o que provoca um quadro de depressão. Alguns fatores do ambiente das pessoas podem causar este quadro, como, por exemplo, a perda de uma pessoa próxima. Entretanto a depressão é também produzida sem grandes traumas: pequenas situações estressantes, que sozinhas não teriam um efeito muito grande, mas em conjunto podem causar a doença.

Objetivo do estudo de Dolabela foi reproduzir em laboratório um modelo experimental de depressão criado por psicofarmacologistas do Reino Unido em 1987, chamado Chronic Mild Stress. Este modelo produz no rato uma anedonia por estressores suaves, como, por exemplo, ligar a luz da caixa do animal, produzir barulho ou cheiro estranho. Entre água pura e água com açúcar, o rato prefere a doce. Por seis semanas submeteu-se um grupo de ratos a alguns estressores suaves. A cada semana era medida a quantidade de água com e sem açúcar que o rato bebia. No final, eles bebiam menos líquido e a preferência pela água com açúcar também diminuiu, sinalizando o surgimento da anedonia. Além disso, os ratos apresentaram outro sintoma característico da depressão: a perda de peso.

O experimento inglês envolvia dois grupos de ratos, um que depois da depressão estabelecida era submetido a um tratamento medicamentoso e outro que não era. No primeiro grupo verificou-se aumento de peso e restabelecimento de situações prazerosas mais rapidamente. No caso de Dolabela, não foram utilizados remédios. Os ratos, divididos em três grupos, foram submetidos a uma experiência de controle para verificar se o trabalho ajudava a recuperação. Ao pressionar uma barra, recebiam água pura e ao pressionar outra barra ganhavam água com açúcar. Um grupo realizou essa atividade apenas antes do experimento com os estressores, o segundo fez isso antes e durante o regime. O último grupo continuou com o exercício depois. Foi constatado que o terceiro grupo teve a mesma reação do grupo que, no experimento inglês, recebia o remédio: a recuperação do peso e o fim da anedonia. "Os últimos sujeitos, que passaram pela situação de controle durante o regime de estressores, voltaram a consumir a sacarose na mesma quantidade que consumiam antes do regime, mais rapidamente do que aqueles que não tiveram esta situação", afirma Dolabela. Aqueles que trabalharam durante o experimento tiveram o efeito da depressão retardado e os que só trabalharam antes não tiveram alteração do quadro.

Homens não são ratos. Porém, os pesquisadores acreditam que parte destes resultados sejam relevantes para a depressão humana. "A interpretação desse experimento fornece algumas dicas de como interações com o ambiente podem influenciar bastante o quadro de depressão, tanto na instalação da doença como na sua recuperação", afirma Maria Amália Andery, coordenadora do programa. "Viver num ambiente em que situações desagradáveis aconteçam sem aviso pode ser um desencadeador da depressão. Por outro lado, para uma pessoa já deprimida, trabalhar, para aquilo que é recompensador, mesmo que pouco, cura a doença mais rápido".

Atualizado em 30/04/04
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