Exigência de modernização no transporte 
              convive com estrutura decadente
            	   
              A forma de organização e estruturação do transporte rodoviário no Brasil e dificuldades econômicas e sociais marcam os moldes nos quais a profissão de caminhoneiro é exercida no país e conformam um processo paradoxal de decadência, exclusão e exigência de modernização. A afirmação é da pesquisadora Maria Luísa Scaramella, que concluiu no início de abril uma pesquisa sobre caminhoneiros.
			   
            Scaramella 
              afirma que a maior greve da categoria no país, ocorrida em 
              julho de 1999, pode ser compreendida como um evento que expressou 
              um processo de decadência no transporte rodoviário 
              nacional, apontando para mudanças. Ao mesmo tempo em que 
              o transporte vem se tornando mais sofisticado, persiste uma estrutura 
              decadente. "As exigências são muitas. Caminhões 
              mais novos, rastreamento por satélite, seguro, logística 
              na distribuição da carga, pontualidade. Mas paralelamente, 
              e distante desse universo de sofisticação, o que se 
              vê são estradas mal conservadas, mal sinalizadas, sem 
              segurança, e uma frota nacional com idade média de 
              18 anos", diz a pesquisadora. Somados a esses problemas existem 
              agravantes como os custos para a manutenção dos caminhões 
              (que aumentam em decorrência da má conservação 
              das estradas), os altos valores dos pedágios e do combustível, 
              baixos fretes e assaltos. 
			   
            De 
              acordo com Scaramella, as empresas transportadoras, principalmente 
              as de grande porte, têm mais capital para suportar os custos 
              e se modernizar, além de ter uma estrutura que se adapta 
              melhor às exigências do mercado. Apesar de estarem 
              sujeitas aos custos embutidos nas viagens de suas frotas, muitas 
              transportadoras subcontratam os serviços de autônomos. 
              A subcontratação é vantajosa, dado o baixo 
              valor do frete. "Os autônomos acabam se tornando parte 
              da fonte de lucro das transportadoras", afirma a pesquisadora, 
              a partir de dados do Centro de estudos Logísticos (CEL), 
              da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As transportadoras, além 
              de serem as principais concorrentes dos caminhoneiros autônomos 
              tornam-se, em muitos casos, suas intermediárias no mercado. 
              
			   
            Para 
              Scaramella, os problemas colocados pela greve de 1999 e pelas anteriores 
              apontam, a longo prazo, para o desaparecimento da categoria de caminhoneiros 
              autônomos. Por não conseguirem 
              competir no mercado, teriam como solução o trabalho 
              na condição de empregados, ou ainda nas cooperativas 
              de caminhoneiros autônomos. Segundo a pesquisadora, o número 
              de cooperativas tem aumentado em todo o país, possibilitando 
              melhores condições de trabalho e inserção 
              no mercado. 
			   
            A 
              pesquisa, intitulada "Nessa longa estrada da vida: um estudo 
              sobre as experiências dos caminhoneiros", foi realizada 
              no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, com 
              financiamento da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento 
              de Pessoal de Nível Superior), e partiu de entrevistas com 
              caminhoneiros com mais de 30 anos de profissão, de São 
              Paulo e do Paraná.
				 
				 
			   
              
                 
                  Modercarga 
                     
                    Na semana de 19 de abril, o Banco Nacional de Desenvolvimento 
                    (BNDES) aprovou as condições do Programa de 
                    Modernização da Frota de Caminhões (Modercarga), 
                    que deverá entrar em vigor a partir de maio e visa 
                    financiar a aquisição de caminhões para 
                    a renovação da frota nacional. Maurício 
                    Borges Lemos, diretor da área de indústria do 
                    BNDES, afirma que a novidade do Modercarga é a extensão 
                    do financiamento a caminhões usados e caminhoneiros 
                    autônomos.  
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