Guia de borboletas auxilia no monitoramento ambiental
            	   
              Áreas perturbadas pelo homem nas regiões tropicais podem possuir uma maior riqueza e abundância de borboletas. A afirmação, que pode parecer estranha à primeira vista, tem sido atribuída por especialistas à complexidade e variedade desses locais, que permitem que espécies originalmente de outras áreas, passem a habitá-los. O levantamento das borboletas pode auxiliar no conhecimento dessa dinâmica de espécies e na criação de índices e indicadores para o monitoramento das áreas naturais antes que as modificações humanas impossibilitem a sobrevivência das espécies.
			   
            Esse 
              levantamento é o objetivo do estudo "Guia das borboletas 
              frugívoras da Reserva Estadual de Morro Grande", publicado 
              hoje na revista Biota 
              Neotropica por um grupo de pesquisadores da Unicamp e da 
              Universidade Católica de Santos.
			   O estudo publicado foi realizado no município de Cotia (SP), onde se encontra uma das maiores áreas de Mata Atlântica fora das encostas das serras litorâneas, a Reserva Estadual do Morro Grande. A paisagem dessa região possui também, pomares, horticulturas e chácaras que, em alguns locais, se misturam à mata em regeneração e a áreas de reflorestamento. É essa variedade de locais que pode permitir que algumas espécies - que naturalmente não ocorreriam na região - possam passar a habitá-lo e outras, mais sensíveis, desapareçam. 
			   O estudo faz parte do projeto "Lepidóptera [borboletas e mariposas] do estado de São Paulo: diversidade, distribuição, recursos e uso em análise e monitoramento ambiental", ligado ao Programa Biota/Fapesp.  "Os objetivos do projeto são conseguir uma listagem de espécies de Lepidóptera para cada lugar estudado e entender a distribuição dessas espécies no espaço, ou seja, se elas mudam de Bioma [tipo de ambiente] dentro do estado", destaca o pesquisador do Museu de História Natural da Unicamp, André Freitas, um dos autores do trabalho. Esses dados, analisados e integrados com algumas outras informações, pode auxiliar na avaliação de áreas naturais e na definição áreas especiais para conservação, que exijam maior atenção e cuidado.
			   
            
              
                  | 
              
              
                | 
                   Espécie 
                    Zaretis itys. O macho (vermelho) e fêmea (amarela). 
                    Foto: Marcio Uehara-Prado, André Freitas, Ronaldo Francini 
                    e Keith Brown Jr.  
                 | 
              
            
            Segundo 
              o grupo de pesquisadores, existem mais de 1.600 espécies 
              de borboletas no estado, algumas que ainda não haviam sido 
              registradas na região e, outras, espécies novas. Entretanto, 
              grandes áreas no interior de São Paulo ainda precisam 
              ser estudadas antes de se tornarem "desconhecíveis (ou 
              seja, destruídas antes de serem conhecidas)" pela transformação 
              total da vegetação original em áreas agrícolas 
              ou industriais.
			   
            O 
              artigo publicado é composto por 18 pranchas com fotos coloridas 
              de 94 espécies encontradas. Guias de campo ilustrados são 
              considerados essenciais para a difusão de conhecimento a 
              respeito da biodiversidade, e são raros no Brasil. Esse tipo 
              de publicação pode ser utilizada tanto por especialistas 
              para auxiliar na identificação e monitoramento das 
              espécies do local como, por exemplo, para a observação 
              das espécies por turistas.