Software livre irá baratear sistemas industriais de visão
            
              No final de março, o ministro de Ciência e Tecnologia, 
              Eduardo Campos, apresentou à Sociedade Brasileira para o 
              Progresso da Ciência os projetos contemplados com o financiamento 
              total de R$ 4 milhões pela Financiadora de Estudos e Projetos 
              (Finep) para o desenvolvimento de software livre com aplicação 
              em agricultura, educação, saúde, administração 
              pública e gestão empresarial, no prazo de um ano. 
              Um desses projetos produzirá até março de 2005 
              um programa voltado para sistemas computadorizados de visão 
              que realizam, entre outras coisas, o controle de qualidade de produtos 
              nas indústrias.
            Um 
              dos objetivos dessa linha de financiamento da Finep, que destina 
              recursos do Fundo Setorial de Informática para o desenvolvimento 
              de projetos em software livre, é que as universidades e instituições 
              de pesquisa contempladas explorem economicamente os resultados dos 
              projetos através de parcerias com empresas. É exatamente 
              isso que o Departamento 
              de Automação de Sistemas da Universidade Federal 
              de Santa Catarina (UFSC) fazerá com o "Projeto Harpia", 
              que envolve a parceria com a empresa Pollux, de Joinville (SC), 
              e o apoio do Grupo de Usuários de Software Livre da universidade 
              para construir uma ferramenta gráfica que facilite o desenvolvimento 
              de sistemas industriais computadorizados de visão.
            O 
              projeto da UFSC, batizado com o nome de uma das maiores águias 
              do Brasil e das Américas - a harpia (Harpia harpyja), 
              ave com extraordinária capacidade de visão -criará 
              um programa de computador que possibilitará automatizar de 
              forma simplificada e barata os equipamentos de sistemas industriais 
              que simulam a visão humana. Através desses sistemas, 
              que envolvem câmeras, placas de iluminação e 
              software de processamento de imagens, um computador pode, por exemplo, 
              controlar, a partir de características visualmente perceptíveis 
              de um produto - como cor e forma - se ele está em perfeitas 
              condições para ser embalado e distribuído ou 
              se apresenta algum defeito.
            
            Segundo 
              Fernando Deschamps, um dos pesquisadores da UFSC envolvidos no "Projeto 
              Harpia", as pequenas empresas não conseguem arcar com 
              o custo dos softwares atualmente disponíveis para controle 
              de qualidade de produtos, mas o mercado acaba exigindo esse controle 
              para qualquer tipo de empresa. A licença de uso de um software 
              proprietário - que não pode ser copiado, revendido 
              ou alugado - chega a custar em torno de R$ 20 mil. O "Projeto 
              Harpia" desenvolverá um software mais barato que, além 
              de ter o seu código-fonte aberto - principal característica 
              do software livre, que possibilita que ele seja copiado e até 
              modificado - virá acompanhado de um tutorial destinado a 
              facilitar a aprendizagem e o uso de sistemas computadorizados de 
              visão.
            Além 
              desse projeto da UFSC, outros quatro da região Sul, quatro 
              do Nordeste, quatro do Centro-Oeste, um do Norte e 13 do Sudeste 
              também foram contemplados com financiamento da Finep entre 
              R$ 100 e R$ 300 mil, após a seleção de um total 
              de 267 trabalhos inscritos. O governo federal pretende não 
              apenas investir em pesquisas na área, mas também estender 
              a experiência iniciada na gestão petista do Rio Grande 
              do Sul - que governou até 2002 - com o uso de software livre 
              na administração pública, para reduzir as despesas 
              com licenças de uso de software proprietário. Até 
              o final do atual mandato, todo o sistema do Centro de Informática 
              e Processamento de Dados do Senado Federal (Prodasen) terá 
              migrado para o software livre, gerando uma economia anual de R$ 
              3,5 milhões para os cofres públicos.