Novas diretrizes para o controle do câncer de mama
O câncer de mama representa hoje a principal causa de morte por câncer entre as mulheres brasileiras. Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicaram que em 2003, houve 9.335 óbitos pela doença e o surgimento de 41.610 novos casos no Brasil. O governo federal pretende diminuir em 20% as taxas de mortalidade por câncer de mama, e na semana passada, o ministro da Saúde, Humberto Costa, lançou no Inca o "Consenso Brasileiro de Mama", documento que vai nortear a política nacional para o controle desta doença. Entre as novidades do "Consenso", as novas diretrizes sobre auto-exame de mama, que não é estimulado de forma isolada, mas como medida paralela à visita a um profissional especializado e à realização de mamografia.
O diretor geral do Inca, José Gomes Temporão, apresentou dados que demonstram gastos do SUS de aproximadamente R$ 19 milhões com internações e R$ 250 milhões com atendimentos ambulatoriais de pacientes com câncer de mama. Segundo o diretor, no ano passado, foram realizadas mais de 2,2 milhões mamografias. As diretrizes do "Consenso" calculam o número ideal de exames no país em cerca de 9 milhões. Temporão reforçou a idéia de que o documento é apenas a primeira etapa no enfrentamento dessa patologia. A partir de agora, diversas medidas - que vão da sensibilização dos profissionais da saúde à melhor distribuição de mamógrafos no país - deverão ser tomadas pelo Ministério da Saúde. "A estruturação da rede de saúde para a adequação às novas normas para o controle do câncer de mama é um grande desafio", comentou Temporão, "mas devemos acreditar que um país que se destaca mundialmente na luta contra a Aids e alcança o segundo lugar na realização de transplante de órgãos pode superar esse obstáculo".
O novo "Consenso" recomenda o exame clínico para todas as mulheres com mais de 40 anos de idade. O auto-exame, um estímulo para o maior conhecimento do corpo pela mulher, pode ser feito paralelamente ao exame físico por profissional treinado. Já as mulheres entre 50 e 69 anos devem realizar a mamografia com o máximo de dois anos entre os exames. Além disso, o exame clínico anual das mamas associado à mamografia deve ser feito pelas mulheres a partir dos 35 anos que pertencem a grupos populacionais de alto risco, como aquelas com história familiar de um parente de primeiro grau com diagnóstico de câncer de mama.
O dia mais adequado para mamografia
De acordo com uma pesquisa de mestrado realizada pelo mastologista Kíssiner Pazuello, no programa de pós-graduação em Bioengenharia da USP de São Carlos, o índice mundial de falso negativo em mamografias é de 15%: a cada 100 exames, 15 não identificam tumores que existiam. Pazuello, orientado pelo professor Homero Schiabel, investigou a variação da densidade mamográfica ao longo de um ciclo menstrual e comprovou que a densidade mamária varia de acordo com o dia do ciclo menstrual e que essa variação interfere na visibilização de possíveis tumores. O estudo foi realizado a partir da análise de mamografias de mulheres e de uma cabra.
"Para obter a variação de densidade" - explica o pesquisador - "era preciso que uma mulher fosse mamografada diariamente durante todo seu ciclo menstrual. Mas isso era inviável, devido a quantidade de radiação que ultrapassaria os limites permitidos". A solução encontrada foi mamografar uma cabra e averiguar a densidade da mama e o comportamento hormonal do animal durante todos os 21 dias de seu ciclo menstrual. Os exames da cabra foram comparados com mamografias de 11 mulheres, radiografadas duas vezes no mesmo mês: no dia da ovulação e fora desse período (antes ou depois da metade do ciclo). A pesquisa, inédita, concluiu que o dia melhor para realizar uma mamografia é o da ovulação, quando a densidade das mamas estará menor.
"A qualidade da imagem mamográfica e, consequentemente, as chances de visibilização de um tumor são maiores nesse período", afirma Pazuello. "Na fase ovulatória (metade do ciclo), a densidade estará menor, pela ação do estrogênio - hormônio ligado à liberação do óvulo. O tumor tem uma arquitetura diferente do restante do tecido mamário. É exatamente essa variação que causa o contraste na imagem mamográfica e permite a identificação de possíveis alterações", conclui. O estudo indica que se antes tínhamos o melhor dia para o auto-exame das mamas (pelos mesmos motivos hormonais) temos agora o melhor dia para se fazer a mamografia.