Ministério da Saúde prioriza ações
de combate à hepatite C
Terminou hoje, em Brasília, o primeiro I Fórum de
Gestores do Programa de Hepatites Virais, que reuniu representantes
das Secretarias de Saúde federal, estaduais e municipais,
organizações não-governamentais e das Coordenações
Estaduais de DST/AIDS, para apresentar as novas propostas do programa,
incentivar uma maior participação dos estados e municípios
no combate à doença e articular os programas já
existentes. A crescente preocupação com as hepatites
virais vem de um alerta soado pela Organização Mundial
da Saúde (OMS), que estima que a taxa de mortalidade causada
pelo vírus da hepatite C aumentará em dez vezes nos
próximos anos.
Segundo
a Organização, até o ano 2000, havia 170 milhões
de pessoas infectadas pelo vírus causador da hepatite C (VHC)
no mundo, contra 36 milhões infectados pelo HIV (vírus
causador da Aids), com uma mortalidade anual de 476 mil pessoas.
A hepatite C preocupa as autoridades mundiais de saúde, por
ainda não existirem formas de imunização, os
exames e procedimentos para tratamento serem muito caros, limitando
o acesso para a maioria da população. "Suprir
a população com medicamentos e exames torna-se então
uma obrigação constitucional do Estado", revela
o presidente do Grupo Esperança - ONG de apoio aos portadores
de hepatite C da baixada santista, Jeová Fragoso.
"Entre
as pessoas infectadas, 40% vão chegar ao estado crônico
da doença, quase todas precisarão de transplantes,
mas boa parte delas não conseguirá realizá-lo.
Além disso, o consumo de álcool por pacientes contaminados
intensifica os sintomas em até 30%", informa Ilka Boin,
hepatologista do Gastrocentro da Unicamp, que realiza cerca de 40
transplantes de fígado por ano. Para ela, a única
maneira de evitar a necessidade de novos transplantes seria o diagnóstico
precoce da hepatite e o acompanhamento médico e multidisciplinar
destes pacientes.
O
Programa Nacional de Hepatites Virais
Os gastos públicos previstos com a hepatite C devem ser bem
altos. Os pacientes com resultado positivo precisam realizar novos
exames, para a dosagem da carga viral, que custam cerca de R$ 700,
além do gasto com a medicação específica
que custa em média 5 a 10 mil reais por mês, por paciente.
A maioria dos planos de saúde privados não cobre os
gastos com estes exames e tratamentos, enquanto o Estado encontra
sérias dificuldades em fornecer medicamentos.
"Antigamente
os medicamentos eram fornecido apenas através de ordem judicial.
Agora, as secretarias estaduais fazem a distribuição
do medicamento, porém apenas para o vírus de tipo
1" , lamenta Fragoso. A hepatite C é transmitida por
6 diferentes tipos de vírus, sendo que no Brasil 3 deles
são mais comuns, entre eles o tipo 1.
O
Programa Nacional de Hepatites Virais (PNHV) foi instituído
em 2002, porém seu funcionamento foi prejudicado por não
ter dotação orçamentária. No governo
atual, as hepatites foram indicadas pelo Ministério da Saúde
como a terceira prioridade de enfrentamento, ficando atrás
apenas da Aids e da tuberculose. Assim, o programa passou a contar
com o financiamento do governo federal, além de verba do
Banco Mundial. As próximas ações serão
em conjunto com o Programa DST/Aids que já conta com infra-estrutura
montada. Serão implementadas a triagem e o diagnóstico
sorológico nos cerca de 240 centros de testagem e aconselhamento
já existentes em todo o país.
"A
ação prioritária do programa seria a de responder
às necessidades dos portadores, facilitando a entrada dessas
pessoas no Sistema Único de Saúde, pois os hospitais
que atendem estes pacientes geralmente são os de alta complexidade
- hospitais terciários" comenta Gerusa Maria Figueiredo,
atual coordenadora do PNHV.
Além
disso, o governo está realizando uma campanha educativa que
envolve a ajuda de 4 mil rádios comunitárias em todo
o país. "Não é efetiva a realização
de uma mega campanha publicitária; são necessárias
doses homeopáticas de informação", acredita
Boin.
Pesquisa
O PNHP firmou um convênio com a Universidade Federal de Pernambuco
para a realização de um inquérito que identificará
a prevalência das hepatites virais no Brasil. O convênio
prevê investimento de R$ 2,2 milhões na pesquisa, que
abrangerá, aproximadamente, 31,2 mil pessoas a partir dos
5 anos de idade, residentes na zona urbana de todas as capitais
brasileiras. "Este inquérito nos permitirá alcançar
a real magnitude do problema. Vamos assim avaliar as medidas de
controle que estão sendo implantadas e se elas estão
causando o impacto esperado" acredita Figueiredo, coordenadora
do PNHV.
O
inquérito é uma das reinvidicações das
ONGs de portadores de hepatites virais. No Brasil ainda não
existem estudos capazes de estabelecer a real prevalência
da hepatite C. Entre os poucos dados disponíveis estão
os retirados a partir de exames de triagem de doações
de sangue na rede de hemocentros, que revelam que 1,2% estão
contaminados com o vírus da hepatite C, valor semelhante
às taxas mundiais.
"A
reinvindicação das ONGs é pela disponibilização
do testes, atendimento adequado, medicamentos e também investimento
em pesquisa na área. A pesquisa em hepatite C está
muito nas mãos de laboratórios multinacionais "
desabafa Fragoso. Para minimizar este impacto, o país conta
com uma cooperação técnica com Cuba visando
a transferência de tecnologia para a Fiocruz na produção
de vacinas, nos casos das hepatites A e B, além de produtos
tecnológicos e medicamentos.
A
hepatite C
A descoberta do vírus causador da hepatite C ocorreu em 1989
enquanto que os testes diagnósticos só foram disponibilizados
em 1992. No Brasil, a testagem obrigatória de sangue nos
hemocentros passou a ser realizada em 1993, porém a efetivação
do Programa Nacional de Hepatites Virais ocorreu apenas em 2002,
sendo que agora muitos estados e municípios ainda não
contam com o programa. Estima-se que cerca de 3,3 milhões
de brasileiros estejam infectados pelo vírus da hepatite
C, o que pode ter ocorrido por meio do contato com sangue infectado.
Para a prevenção é recomendado não compartilhar
nenhum tipo de material perfuro cortante como seringas, e no caso
da utilização de serviços para fazer tatuagem,
piercings, pedicure ou manicure, fazê-los sempre com material
próprio, "pois nem sempre é possível avaliar
se a estufa ou o material foram desinfetados apropriadamente",
aconselha Gerusa Figueiredo, do Ministério da Saúde.