Produção de borracha cresce no estado de São
Paulo
A heveicultura (cultivo de borracha) vem aumentando sua produção
nacional. Ao contrário do que muitos pensam, essa atividade
não está, em sua maior parte, presente na floresta
tropical úmida brasileira. Ela vem ganhando novas territorialidades
no estado de São Paulo. Já em 1998, o estado foi responsável
por 50% da produção brasileira, que foi de 70 mil
toneladas. Em 2003 constatou-se que, devido a melhoramentos genéticos
da planta, houve um aumento de 70% da produção nacional,
sendo que a produção da região amazônica
corresponde a menos de 10 % da produção nacional.
Dois
municípios do interior do estado de São Paulo são
os novos pólos de cultivo de borracha: Catanduva e São
José do Rio Preto. Segundo alguns agricultores da região,
esta atividade é mais rentável do que a laranja -
antiga cultura do lugar - podendo chegar a um lucro seis vezes maior.
Carlos
Walter Porto Gonçalves, professor de Geografia da Universidade
Federal Fluminense (UFF), estudou os movimentos sociais na Amazônia
e acredita que a produção de borracha em São
Paulo não ameace de maneira direta os seringueiros da floresta
amazônica, pois os extratores fazem uso múltiplo da
floresta e comercializam também outros produtos, como castanhas,
óleo de copaíba ou de andiroba, artesanato, etc. "Essa
diversidade de fontes de recursos é exatamente uma estratégia
de sobrevivência, inclusive para situações como
essas. É claro que se eles fossem monoextratores, fatalmente
sentiriam o efeito disso de uma determinada maneira", acredita
Gonçalves.
A
produção amazônica de borracha já é
muito pequena, e não poderia suprir as necessidades nacionais.
Em 2002, a produção nacional de heveicultura teve
um crescimento de 5,9%, sendo que São Paulo cresceu em proporção
maior, atingindo os 7%: a região do Planalto Ocidental Paulista
oferece clima e solos favoráveis para este tipo de cultura.
Os
altos índices de produção atribuídos
a São Paulo são fruto da tecnologia. Os seringais
paulistas produzem uma média de 1200 kg/ha, podendo chegar
a 1500 kg/ha onde a aplicação de tecnologia é
maior. Isto coloca São Paulo entre os mais eficientes produtores
de borracha do mundo, junto com Tailândia (1100 kg/ha), Malásia
(1000 kg/ha) e Indonésia (750kg/ha).
A
produção de borracha no Norte
A coordenadora de pesquisa e monitoramento do Centro de Trabalhos
Amazônicos do Acre (CTA - Acre), Magna Cunha, explica que
em 1876, os ingleses levaram sementes da seringueira brasileira
para a Malásia, no Sul da Ásia. Trinta anos depois,
esse país acabou ultrapassando o Brasil na produção
de borracha, devido à tecnologia usada e também ao
regime de plantação que dispunha as seringueiras lado
a lado, ao contrário da Amazônia, onde elas ficam dispersas
na floresta.
No
Acre, segundo Cunha, os seringueiros trabalham com a extração
de borracha visando uma ação social. Ela conta que
os subsídios oferecidos às famílias têm
proporcionado a retomada das atividades da extração
de borracha, porém não de forma satisfatória.
"A ajuda que o seringueiro tem aqui com a borracha é
pelo fato do estado ser a terra de Chico Mendes", explica ela.
"A reativação do setor foi graças aos
subsídios oferecidos pelo governo no início de sua
gestão, que colocou R$ 0,40 em cima do preço da borracha.
Hoje, com os subsídios, o seringueiro pode vender o quilo
a R$ 1,50". Além disso, há uma série de
convênios e parcerias que o estado do Acre vem fechando com
instituições privadas. O município de Xapuri,
responsável pela maior produção de borracha
do estado, estabeleceu uma parceria com a Pirelli, fomentando o
retorno das famílias aos seringais.
A
pesquisadora do CTA acredita que o uso intensivo da tecnologia em
São Paulo pode ameaçar os seringueiros de borracha
do Acre. Gonçalves acredita que não, mas concorda,
em parte, com as críticas: "a produção
de São Paulo", argumenta o pesquisador, "é
uma monocultura e vai na direção contrária
da região tropical à qual está inserida".
Os custos que se têm para manter uma monocultura a longo prazo
são altos, ainda mais no caso das seringueiras, que precisam
de sete a oito anos para começar a produção.
Gonçalves destaca também que toda monocultura é
vulnerável, na medida em que visa o mercado mundial: "ao
invés de estar voltado para mercado local e nacional, você
entra em uma lógica que é a da globalização:
tem que estar concorrendo sempre e com todo mundo". Segundo
o pesquisador, a característica desse tipo de modelo é
a instabilidade.
Usando
como exemplo de comparação o caso do Centro-Oeste
brasileiro, Gonçalves ainda explica que a organização
do espaço decorrente dessa lógica de mercado é
perversa. "A monocultura da soja é um bom negócio
para o Brasil, até que um outro país nos supere na
produção dessa commodity". Para ele, o
maior obstáculo para que tenhamos uma organização
espacial mais justa é a grande desigualdade social gerada
a partir dessas ações. "Os empresários
do Mato Grosso usam tratores sofisticadíssimos que fazem
plantio direto e são equipados com GPS. Cada um custa cerca
de U$ 230 mil. Você já imaginou a concentração
de terras e riquezas que teremos na mão de uma única
pessoa?", finaliza o pesquisador.