Governo promete diminuir problema 
              da seca no semi-árido
              
              
            Anunciado 
              pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o Programa Água 
              Doce/Sede Zero prevê esforços para garantir água 
              a populações isoladas do Semi-Árido nordestino 
              e "gerar condições para a vida harmoniosa destas 
              comunidades nestas regiões". A forma adotada para chegar 
              a este resultado será a implantação de equipamentos 
              de dessalinização em poços tubulares para aproveitamento 
              de águas subterrâneas salobras e salinas. O projeto 
              envolve dez ministérios do governo federal, sob a coordenação 
              da Secretaria de Recursos Hídricos, além de representações, 
              agências e institutos ligados à questão da seca 
              no Nordeste. O conjunto de ações prevê também 
              a gestão participativa dos governos estaduais e municipais.
            O 
              próprio governo informa que programas anteriores de instalação 
              de dessalinizadores - equipamentos que tiram o excesso de sal da 
              água captada no subsolo e a tornam potável - já 
              foram realizados, mas desta vez a ação deverá 
              obter os resultados esperados porque, paralelamente, serão 
              realizadas ações para promover "o uso sustentável 
              dos recursos hídricos, como a gestão participativa 
              na organização comunitária, no uso de energias 
              alternativas, no desenvolvimento de pesquisas, na recuperação 
              ambiental e na proteção da biodiversidade". A 
              sustentabilidade deverá ser garantida pela participação 
              da comunidade local. Um das causas, inclusive, para os fracassos 
              anteriores, na análise do governo, seria o baixo envolvimento 
              comunitário na elaboração e implantação 
              dos projetos, além da falta de um programa de manutenção 
              dos equipamentos que garantisse um destino adequado aos resíduos, 
              gerando impactos ambientais. 
            Os 
              cerca de dois mil dessalinizadores já existentes serão 
              recuperados. O objetivo é atender os 18 milhões de 
              habitantes que vivem nesta região do semi-árido, numa 
              extensão de 882 mil quilômetros quadrados distribuídos 
              entre nove estados nordestinos e o norte de Minas Gerais. Ainda 
              não foram divulgados os números de equipamentos a 
              serem instalados pelo programa nem o total de investimento. 
            Desde 
              a década de 1980, já foram perfurados no semi-árido 
              mais de 100 mil poços, dos quais obteve-se água de 
              alto teor salino, imprópria para consumo. Hoje, a maior parte 
              desses poços e dos equipamentos está desativada. O 
              Programa Água Doce tem como meta, "sempre que possível", 
              associar a dessalinização a sistemas locais de produção, 
              com o aproveitamento dos resíduos em aqüicultura, irrigação 
              de plantas que absorvam sal em quantidade e com potencial para alimentação 
              de caprinos, além de produção de sal, entre 
              outros usos. 
            João 
              Abner, integrante do Núcleo Temático da Seca da Universidade 
              Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ex-diretor do Instituto 
              de Gestão de Águas do Estado, acredita que nenhum 
              programa isolado resolverá a seca do Nordeste. "Defendo 
              soluções integradas para a seca. Acho que a cisterna, 
              por exemplo, é um equipamento obrigatório na casa 
              da família do nordestino do semi-árido, porque ela 
              pega a água pura da chuva a custo zero, enquanto os dessanilizadores 
              têm altos custos de instalação e manutenção", 
              diz o professor. Ele acredita que o desafio do semi-árido 
              é aproveitar os períodos favoráveis de chuva, 
              que atualmente não é aproveitada.
            Esta 
              opinião também é compartilhada por Salvador 
              Carpi Júnior, pesquisador do Instituto de Geociência 
              da Unicamp e colaborador do Núcleo de Estudos e Pesquisas 
              Ambientais, que defende o aproveitamento do excedente nos períodos 
              de chuva e os programas de economia d'água. Para ele, o uso 
              dos dessalinizadores no Brasil era inviável até então 
              por precisar de equipamentos caros, estações dessalinizadoras 
              e ser uma alternativa cara: a água dessalinizada tem um custo 
              cinco vezes superior ao preço da água disponível 
              nas cidades. 
            As 
              cisternas têm capacidade de atender uma família por 
              sete a oito meses com a água das chuvas captada durante os 
              três a quatro meses chuvosos no ano. No entanto, quando ocorrem 
              períodos prolongados de seca - que podem chegar a 15 meses 
              - as cisternas não resolvem o problema, enfatizam os pesquisadores. 
              "Nestes casos extremos, os dessalinizadores podem ajudar", 
              pontua Abner. 
            Em 
              outra campanha, o governo promete instalar um milhão de cisternas 
              até o fim do mandato. O professor da UFRN acredita, no entanto, 
              que essa meta representa apenas uma marca, mas é quase impossível 
              de ser alcançada. Apenas para efeito comparativo, a Federação 
              Brasileira de Bancos (Febraban), parceira do governo no Projeto 
              Cisternas, divulgou a construção de 5.298 reservatórios 
              em 2003.