União Européia pune, tardiamente, a Microsoft
Tentando dar conta de um estrago já feito, foi anunciada
na semana passada a punição imposta pela União
Européia (UE) contra a Microsoft, que fez uso de seu "quase-monopólio"
- como descrito pela própria UE - para varrer do mapa seus
concorrentes no negócio de aplicativos de mídia (como
o RealPlayer) e para dificultar a comunicação
entre o Windows e outros sistemas operacionais. A empresa
norte-americana deverá pagar uma multa de US$613 milhões,
disponibilizar no mercado europeu uma versão do Windows
sem aplicativo de mídia e abrir informações
sobre seu programa que facilitem a comunicação com
outros sistemas operacionais.
Essas
medidas, embora importantes, devem surtir pouco efeito. A Microsoft
já anunciou que apelará da decisão e o processo
judicial poderá se desenrolar até 2009. Mesmo que
este se encerrasse agora, o benefício para as empresas que
produzem aplicativos de mídia chegou tarde. A maior delas,
a RealNetworks, perdeu a liderança do mercado há
tempos e os produtores de mídia digital migraram em massa
para o padrão Microsoft. Além disso, a redução
no preço da licença do sistema operacional sem o aplicativo
de mídia deverá ser muito pequena: o mais provável
é que poucos consumidores adotem essa opção.
Medidas
anteriores foram ineficazes
A decisão judicial mais radical, que poderia afetar mais
significativamente o monopólio da companhia, foi tomada nos
tribunais dos EUA em 2000 e implicava na divisão da Microsoft
em duas empresas. Em 2001, durante o governo Bush, a empresa, que
foi a terceira maior doadora da campanha do atual presidente dos
EUA, conseguiu reverter a decisão. Na ocasião, ela
foi processada por usar de seu monopólio no setor de sistemas
operacionais para obter vantagens no mercado de navegadores. O resultado
final foi escasso: ao usuário final foi disponibilizada uma
ferramenta para fazer com que o navegador da Microsoft fosse desativado
e os fabricantes de computadores ganharam o direito de instalar
navegadores alternativos.
No
processo europeu a proposta da Microsoft foi semelhante: incluir
outros aplicativos de mídia em seu sistema. A União
Européia não aceitou, mas mesmo assim sua decisão
corre o risco de ter resultados tão fracos quanto a dos EUA.
A UE legislou nesse caso (que se iniciou em 2001) sobre o sistema
operacional Windows 2000, mas o sistema padrão vendido
hoje pela empresa já é outro: o Windows XP.
Um processo semelhante sobre o XP ainda está sendo julgado
pela UE e a decisão atual certamente será um precedente.
Outra
parte da pena aplicada ao monopólio foi movida pela concorrente
Sun Microsystens, que se queixa de dificuldades em fazer
com que seu software para servidores comunique-se adequadamente
com o Windows. Agora a Microsoft deverá oferecer informações
- não necessariamente revelar partes do código fonte
- que facilitem essa comunicação, mas poderá
também cobrar royalties por isso. Se a cobrança
se confirmar, isso deverá afastar os desenvolvedores de software
livre desse tipo de projeto. Atualmente, um software livre denominado
Samba já faz esse tipo de comunicação
entre os sistemas livres e o Windows e a decisão da
UE apenas permitirá que sejam desenvolvidos novos aplicativos
- proprietários - com esse mesmo fim.
Microsoft
em busca de novos mercados
Enquanto a União Européia busca reparar os danos causados
pelo abuso do monopólio, a gigante norte-americana já
busca novos alvos: conquistar o mercado de buscadores na internet,
hoje dominado pelo Google. A próxima versão
do Windows, chamada Longhorn, deverá incluir um sistema
de busca na Internet, o que poderia afetar o Google da mesma
forma como, com os aplicativos de mídia, afetou o RealPlayer.
Respondendo ou não a processos, a prática da Microsoft
não parece mudar. Estima-se que, até agora, a empresa
já tenha gasto US$ 1,6 bilhão em litígios judiciais
anti-truste movidos em 10 estados dos EUA.
Em
um deles, movido pelo estado de Minnesota, foram revelados documentos
que mostram que a empresa pressionou a fabricante de chips Intel
a não fazer investimentos na Go Corporation, que desenvolvia
um sistema operacional para computadores de mão. Integra
o processo uma carta de 1990, em que o chefe da Microsoft, Bill
Gates, diz ao executivo-chefe da Intel que qualquer apoio dado à
Go seria considerado como um movimento anti-Microsoft. Além
disso, a Microsoft teria violado acordos de segredo industrial com
a Go.
Ao
que parece, as altas multas não têm sido suficientes
para romper a blindagem da companhia. Sem medidas mais duras, a
disputa não promete ser leal.