Biodiversidade auxilia na análise de qualidade de reservatórios
A preocupação com a conservação das águas é um tema cada vez mais em evidência. No Estado de São Paulo, 27% dos corpos d'água que podem abastecer a população foram considerados ruins ou péssimos pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), sendo, na sua maioria, próximos a grandes centros. Grande parte dessas avaliações de qualidade das águas utiliza parâmetros físico-químicos como temperatura, pH ou oxigênio dissolvido. Hoje, entretanto, alguns pesquisadores têm procurado utilizar outras formas de avaliação como, por exemplo, a inclusão de dados sobre a existência e a quantidade de alguns tipos de animais nas águas.
Avaliar a qualidade das águas de reservatórios do estado de São Paulo por meio da caracterização da comunidade zooplanctônica (a comunidade de animais flutuantes dessas águas) associada aos parâmetros físico-químicos é o objetivo central do projeto "Diversidade de zooplâncton em relação à conservação e degradação dos ecossistemas aquáticos do estado de São Paulo", coordenado por Takako Matsumura-Tundisi, pesquisadora do Instituto Internacional de Ecologia (IIE), uma ONG situada na cidade de São Carlos (SP) que trabalha com o desenvolvimento de pesquisas em recursos hídricos e biologia de rios e reservatórios.
Entre os grupos de animais que formam o zooplâncton estão os Rotiferas, Cladoceras e Copepodas, invertebrados pouco conhecidos. Segundo Matsumura-Tundisi, o zooplâncton é uma das comunidades mais ricas em diversidade da água doce, sendo que os maiores grupos podem chegar a possuir mais de 100 mil espécies.
O despejo de esgoto doméstico e industrial, a construção de canais de navegação e represas, o controle do fluxo de água dos rios, a drenagem de áreas e a construção de grandes estruturas de irrigação são alguns dos exemplos de intervenção humana que influenciam, também, a diversidade desses organismos: para Matsumura-Tundisi, o zooplâncton pode ser utilizado como indicador de degradação dos ecossistemas aquáticos. Várias espécies dessa comunidade são extremamente abundantes em ambientes muito eutróficos (que recebem grande carga de esgotos domésticos).
Segundo a pesquisadora, a avaliação da qualidade da água ou o estado de degradação dos reservatórios é feita também "através da medida de certos elementos químicos como a entrada excessiva de fósforo e de nitrogênio na água, a medida de demanda química e biológica de oxigênio, a análise bacteriológica de coliformes totais e fecais, a análise dos contaminantes, de substâncias tóxicas e do florescimento de algas azuis tóxicas".
Na avaliação final sobre a qualidade das águas, a resposta da pesquisadora é preocupante: "dentre as áreas estudadas, a maioria dos reservatórios das bacias do Tietê (Alto e Médio Tietê) se encontra em péssimas condições, enquanto os do Baixo Tietê (Nova Avanhandava e Três Irmãos) se encontram em melhores condições. Os reservatórios da bacia do Paranapanema e do Rio Grande ainda preservam condições razoáveis de qualidade de água".