Por Patricia Mariuzzo
Na década de 2010, Monterrey, no México, foi fortemente afetada por uma onda de violência. Localizada na região nordeste e com uma das maiores populações do país, a cidade abriga o Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey (ou Tec Monterrey). A insegurança alterou a rotina da cidade e da universidade, gerando desistência de alunos e fazendo cair o número de novas matrículas. A partir da premissa de que os desafios exigem soluções criativas e inovadoras e que sejam construídas a partir da colaboração dos cidadãos, organizações da sociedade civil, poder público e da academia, o Tec Monterrey assumiu o compromisso com todo o polígono onde o seu campus está localizado e passou a desenhar um novo plano urbano para a área. O resultado é o DistritoTec.
Baseado em um diagnóstico exaustivo da região onde está o Tec Monterrey e de todo o seu entorno, com 24 colônias (ou bairros), o Master Plan 2014 do Tec Monterrey foi elaborado com a participação, orientação e colaboração da comunidade, de professores do Tec e de uma ampla equipe de profissionais. O objetivo era implementar modificações capazes de gerar condições de convivência, colaboração e desenvolvimento. “Entendemos o nosso papel como catalisadores de mudanças e nosso potencial de aportar segurança urbana”, contou Ana Lorena González, gerente do DistritoTec.
Em 2012, o Tec Monterrey iniciou a implantação do projeto envolvendo 54 hectares do campus. O processo contou com investimentos do próprio Tec, mas também da prefeitura da cidade e do estado de Novo León. Nas associações de bairro, foi iniciado um processo para restabelecer as estruturas de representação em um movimento que culminou na formação do Conselho de Vizinhos, que conta com representantes das 25 colônias. De acordo com Ana Lorena, houve um trabalho exaustivo de mudança de cultura, dentro e fora da universidade. “Tentamos implementar um uso de espaço mais racional, privilegiando as vivências e os encontros, com ativação das ruas, realização de eventos, de modo a gerar encontros que sejam positivos para todos”, contou.
No campus propriamente dito, foi feita uma remodelação da biblioteca, tornando o espaço mais atraente e acessível. O prédio da reitoria também passou por mudanças. Hoje ele tem espaços de uso compartilhado, um auditório e um saguão para exposições. Carros deixaram de circular. Há estacionamentos externos, de onde alunos e funcionários caminham até o campus, que também recebeu um novo e moderno centro esportivo. O Tec Monterrey também assumiu a tarefa de demolir um estádio de futebol, instalando no mesmo local um campo de futebol americano para treinos do time da universidade e um parque natural aberto à comunidade. “Estes espaços e o próprio campus podem ser acessado por toda a comunidade do entorno. Organizamos pelo menos dois eventos por semana para os vizinhos e para empresas. A ideia é que a comunidade se aproprie do espaço”, contou José Aquino, responsável pela área de comunicação do DistritoTec. Entre as atividades estão sessões de cinema, exposições de arte ao ar livre e o Callejero, quando uma das ruas do entorno é fechada para receber a comunidade com atividades culturais e de comércio local.
Mudando o entorno
Foram também significativas as mudanças no entorno do campus do Tec Monterrey, a começar pela implantação de uma rotatória na entrada principal da universidade para garantir melhores condições de segurança para os motoristas e pedestres que transitam por ali. Também foram criados mais de três quilômetros de ruas completas, que incluem calçadas largas, redutores de velocidade, espaços de recuo para os automóveis e ciclovias. A sede do DistritoTec fica em um prédio em uma destas ruas completas. O plano urbano também impactou duas praças localizadas em comunidades do entorno, que foram revitalizadas e voltaram a ser frequentadas pelas pessoas.
Distrito de inovação
O plano diretor do Distrito estabeleceu três grandes eixos de atuação: a evolução do campus, as melhorias no entorno urbano e a criação de um cluster de inovação. A fase atual do projeto é justamente consolidar o DistritoTec como um distrito de inovação. Por conta da queda nos índices de violência, empresas voltaram a se interessar pela área, gerando investimentos privados da ordem de US$ 500 milhões para melhorias na infraestrutura no distrito.
O Tec Monterrey está investindo na construção de dois prédios icônicos, um dedicado a laboratórios de pesquisas em áreas como medicina e engenharia de materiais e outro para coworking e startups. “São dois prédios icônicos, com espaços atraentes e integrados à vida urbana. Queremos criar um ecossistema global de inovação”, contou Jessica Fonseca, líder do ecossistema de inovação do DistritoTec. A prefeitura está fazendo parcerias com proprietários de imóveis no entorno do campus para revitalizá-los e transformar seu uso para inovação e negócios. E, para fazer jus ao conceito da cidade de 15 minutos – onde as pessoas trabalham, moram e tem seu lazer num raio de deslocamento de 15 minutos – o Tec Monterrey adquiriu imóveis para convertê-los em prédios de apartamentos para estudantes, pesquisadores e profissionais deste sistema de inovação. A expectativa é oferecer 1000 unidades residenciais nos próximos anos.
Patrícia Mariuzzo é especialista em divulgação de ciência, gestora de comunicação do Hids Unicamp e pesquisadora associada do Ceuci.