Por Peter Schulz
Nesses dias, há mais de um ano trabalhando em casa, rememoro a vida presencial anterior na universidade. Presencial, sim, mas já isolada em várias dimensões. Como era difícil (e piorou) conversar, todo mundo encastelado em seus respectivos laboratórios ou em intermináveis reuniões administrativas sem novas ideias. E assim alongam-se currículos. Mas o que se perde com isso? Um exemplo, que talvez inspire para oxigenar nossa academia: a Academia Olímpia.
Einstein, que todos sabem quem é, alguns anos antes de seu “ano miraculoso”, estava desempregado e, para sobreviver, antes de ser efetivado em seu emprego no escritório de patentes (onde depois, nas horas vagas, formulou os trabalhos que tornaram o ano de 1905 tão especial, que recebeu a alcunha de miraculoso) , resolveu dar aulas particulares de física e matemática, tanto para estudantes universitários, quanto de ensino médio.
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O primeiro a aparecer foi um estudante de filosofia, Maurice Solovine, e a longa conversa inicial transformou as aulas em longas conversas sobre ciência e filosofia.
Aos dois se juntou o matemático Conrad Habicht, completando o trio do núcleo duro da academia.
Outros nomes se juntaram esporadicamente.
Destaco aqui que os longos debates, que começavam com um jantar, adentravam muitas vezes a madrugada, quando não até de manhã. Discutia-se as pesquisas de cada um e a ciência da época, mas também David Hume, Spinoza, Stuart Mill e Cervantes.
Einstein, continuadamente, até o fim da vida, destacava o papel da Academia Olímpia na sua formação como cientista.
Que tal? Não é o que está faltando? Não para a impossibilidade de ser um novo Einstein, mas para sair do marasmo autocongratulatório.
Peter Alexander Bleinroth Schulz foi professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp durante 20 anos. Atualmente é professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira. Além de artigos em periódicos especializados em física e cienciometria, dedica-se à divulgação científica e ao estudo de aspectos da interdisciplinaridade. Publicou o livro A encruzilhada da nanotecnologia – inovação, tecnologia e riscos (Vieira & Lent, 2009) e foi curador da exposição “Tão longe, tão perto – as telecomunicações e a sociedade”, no Museu de Arte Brasileira – FAAP, São Paulo (2010). Foi secretário de comunicação da Unicamp.