Por Kyle A. Thomas, Peter DeScioli e Steven Pinker
Uma ofensa representa uma ameaça maior à reputação do transgressor se uma audiência não somente sabe privadamente sobre a transgressão, mas também sabe que o transgressor sabe que eles(as) sabem. Alguém que fracassa em uma tarefa ou decepciona um amigo ficará malvisto se não pedir desculpa, mas vai ficar ainda pior se a audiência souber que ele sabe que a audiência presenciou a ofensa e ainda não há pedido de desculpa à vista.
Esta é uma versão resumida de artigo publicado originalmente em Evolution and Human Behavior, volume 39, edição 2, março de 2018, pags. 179-190
Introdução
Imagine-se derrubando um prato de comida no colo diante de uma multidão. Depois, talvez você fixe seu olhar no seu celular para evitar admitir a trapalhada diante dos espectadores. Da mesma forma, depois de decepcionar sua família ou seus colegas, pode ser difícil olhá-los nos olhos. Por que as pessoas evitam admitir suas gafes ou transgressões que elas sabem que a audiência, ou o público, já conhece?
Depois de uma transgressão, as pessoas sentem as emoções autoconscientes negativas de vergonha, embaraço ou culpa, e essas emoções as ajudam a regular suas relações (Beer, Heerey, Keltner, Scabini, & Knight, 2003; Keltner & Buswell, 1997; Ketelaar & Au, 2003; Miller, 1995; Steckler & Tracy, 2014; Sznycer et al., 2016; Tangney & Tracy, 2012; Tracy & Robins, 2004). Um transgressor demonstrou inépcia, o que pode prejudicar sua reputação como cooperador valioso ou pode demonstrar desprezo pelo bem-estar de alguém, o que pode prejudicar sua reputação como cooperador digno de confiança. O desconforto causado pelas emoções resultantes, mesmo quando sentidas privadamente, motiva a pessoa a gerenciar essas ameaças, atraindo sua atenção para a transgressão e motivando-a a fazer correções e evitar atos semelhantes no futuro (Ketelaar & Au, 2003; McCullough, 2008; Sznycer et al., 2016; Trivers, 1971).
A ideia que as emoções autoconscientes regulam as relações também explica por que a presença de uma audiência ou um público intensifica as sensações de embaraço, vergonha e culpa (Bosch et al., 2009; Gruenewald, Kemeny, Aziz, & Fahey, 2004; McCullough, 2008; Modigliani, 1971; Smith, Webster, Parrot, & Eyre, 2002; Tangney, Miller, Flicker, & Barlow, 1996; Wolf, Cohen, Panter, & Insko, 2010). Se os espectadores inferem que uma transgressão é resultado de uma disposição estável que indica futura incompetência ou abuso, têm então motivos para desvalorizar, condenar ao ostracismo ou punir o transgressor. Para evitar essas consequências prejudiciais, o transgressor precisa persuadir os espectadores que o ato não foi intencional e, portanto, não é representativo de sua disposição subjacente, ou que ele mudará sua disposição e não repetirá o comportamento no futuro. Além disso, para que tais garantias sejam mais que apenas conversa fiada e egoísta, precisam soar confiáveis: o transgressor deve sofrer um custo na forma de desconforto visível e talvez reparação concreta, bem como exibir sinais de que a alteração nas prioridades é produto de emoções involuntárias em vez de cálculos estratégicos conscientes. Na realidade, a pesquisa sobre psicologia da contrição e perdão mostra que as emoções negativas autoconscientes têm essas especificações (Dijk, de Jong, & Peters, 2009; Dijk, Koenig, Ketelaar, & de Jong, 2011; Frank, 1988; Keltner & Buswell, 1996; Ketelaar & Au, 2003; McCullough, 2008; McCullough, Kurzban, & Tabak, 2010; Tracy & Robins, 2004; Trivers, 1971).
Como notamos no início, a intuição sugere que as emoções autoconscientes têm mais uma característica: elas são sentidas ainda com maior intensidade quando o ator reconhece perante a audiência que está consciente de que a audiência tem conhecimento de sua transgressão (por exemplo, olhando nos olhos deles). Neste artigo, tentamos tornar precisa essa hipótese, testar se é correta e explicá-la.
A teoria de jogo e a psicologia do conhecimento comum
A diferença entre evitar e reconhecer eventos pouco lisonjeiros se assemelha à distinção em teoria de jogo entre conhecimento compartilhado e comum. O conhecimento comum é uma recorrência infinita de estados de conhecimento social, tais como A sabe x, B sabe x, A sabe que B sabe x, B sabe que A sabe x, A sabe que B sabe que A sabe x, A sabe que B sabe que A sabe que B sabe x, e assim indefinidamente. Em contraste, o conhecimento compartilhado se refere a qualquer nível menor, finito, de estados de conhecimento social (por ex., A sabe que B sabe que A conhece x, e nada mais).
Pesquisas psicológicas recentes demonstram que as pessoas realmente entendem o conhecimento comum como qualitativamente distinto do conhecimento compartilhado e as decisões dessas pessoas diferem com base nessa distinção (Thomas, DeScioli, Haque, & Pinker, 2014). Thomas et al. (2014) colocou participantes em cenários hipotéticos: tinham de decidir se preferiam trabalhar sozinhos, com prêmio garantido mas inferior, ou se tentariam trabalhar junto com um parceiro para obter prêmio mais alto – que eles só receberiam se o parceiro fizesse a mesma escolha. A fonte da informação sobre os prêmios variava, às vezes permitindo apenas conhecimento privado, às vezes conhecimento compartilhado (transmitido por um menino de recados não confiável), às vezes conhecimento comum (transmitido por um alto-falante). Os participantes tinham mais probabilidade de preferir entrar em coordenação, conseguindo assim um prêmio mais alto, quando tinham conhecimento comum das oportunidades, em linha com as predições teóricas de jogo.
Investigamos o papel do conhecimento comum nas emoções autoconscientes. Especificamente, propomos que, em comparação com o conhecimento compartilhado, o conhecimento comum de uma transgressão impõe um imperativo maior de retificá-la, o que, por sua vez, causa emoções autoconscientes sentidas mais intensamente.
Transgressões sociais, sinais sociais e conhecimento compartilhado
Começamos com a ideia que uma ofensa representa uma ameaça maior à reputação do transgressor se uma audiência não somente sabe privadamente sobre a transgressão, mas também sabe que o transgressor sabe que eles sabem. Alguém que fracassa em uma tarefa ou decepciona um amigo ficará malvisto se não pedir desculpa, mas vai ficar ainda pior se a audiência souber que ele sabe que a audiência presenciou a ofensa e ainda não há pedido de desculpa à vista.
O raciocínio é o seguinte. Um transgressor que deixa de se desculpar quando uma audiência observa a ofensa, sem conhecimento compartilhado, com certeza já fica em uma posição comprometida. Mas a audiência ainda poderia estar incerta sobre as intenções do transgressor. Dessa forma, do ponto de vista da audiência, ainda é possível que o transgressor pretenda comportar-se de forma diferente no futuro. Essa incerteza dá aos espectadores razão para não responder draconianamente (já que eles também podem perder os benefícios de futura cooperação com o ator), e essa pressão moderada sobre o transgressor deve provocar formas brandas de embaraço, culpa e vergonha.
Em contraste, um transgressor que não pede desculpas, nem mesmo quando os espectadores sabem que ele sabe que eles sabem da ofensa transmite informações adicionais: que não está disposto ou que não consegue mudar seu comportamento para preservar sua posição diante dos espectadores. Em outras palavras, ele estaria sinalizando que está preparado para abandonar totalmente a cooperação e renunciar a todos os benefícios dessa cooperação: a estratégia de um psicopata, lobo solitário, um excêntrico ou maluco (consultar também Goffman, 1959, 1978). Para um membro de uma espécie altamente social, as consequências de tal exibição podem ser graves, e assim sugerimos que as emoções autoconscientes se adaptam para evitar tais consequências.
Além disso, as pesquisas demonstraram que os transgressores tendem a pedir desculpas e confessar estrategicamente (Sznycer, Schniter, Tooby, & Cosmides, 2015). Especificamente, os transgressores tendem a confessar e pedir desculpas quando fazer isso os beneficia mais, que é quando: (1) o custo da transgressão é baixo para a vítima; (2) o benefício da transgressão é alto para eles [os transgressores]; e (3) as vítimas já podem saber da transgressão ou podem facilmente descobrir sobre ela de alguma outra forma. Assim, as vítimas enfrentam um problema de detecção de sinal quando recebem um pedido de desculpas: É um sinal honesto ou é lero-lero estratégico? Principalmente, quando a vítima acha que o transgressor acha que está revelando a transgressão à vítima pela primeira vez – em vez de a vítima já saber o que o transgressor fez –, então o pedido de desculpas do transgressor parece mais crível, já que revela a ofensa e não só remenda as coisas depois que a ofensa já foi descoberta (Sznycer et al., 2015; Utikal, 2012; Weiner, Graham, Peter, & Zmuidinas, 1991). Assim, logo que uma transgressão se torna de conhecimento compartilhado, ambas as partes poderiam, razoavelmente, supor que a expectativa da vítima de receber um pedido de desculpas aumenta; também a janela de tempo do transgressor para fornecer uma desculpa se estreita da mesma forma. Em tais casos, pode ser necessário mais do que apresentar uma desculpa para torná-la crível, e os sinais emocionais incontroláveis produzidos por emoções autoconscientes podem aumentar a credibilidade do que, de outra forma, poderia ser percebido como simples lero-lero.
Essa teoria de gerenciamento de reputações de emoções negativas autoconscientes é consistente com o fato que essas emoções são evocadas por dois tipos diferentes de transgressão: aquelas que mostram desprezo pelo bem-estar de alguém e as que revelam incompetência. Ambas as categorias decorrem de teorias de cooperação e escolha de parceiros, que demonstram como os indivíduos ganham mais com a cooperação quando preferem parceiros que valorizem seu bem-estar e que sejam suficientemente competentes para retribuir (Tooby & Cosmides, 1996; Trivers, 1971). Os transgressores que não fazem reparações têm mais probabilidade de tornar a ofender no futuro, seja devido à indiferença, incompetência, hostilidade ou ignorância. Sugerimos que a falta de contrição é ainda mais reveladora quando a audiência sabe que o ator sabe que a audiência testemunhou a transgressão.
Relações, coordenação e conhecimento comum
Além disso, propomos que o conhecimento comum de uma transgressão é ainda pior para o ator do que o conhecimento compartilhado. O conhecimento compartilhado de uma ofensa ameaça prejudicar a reputação de um ator; o conhecimento comum acrescenta a ameaça adicional de desestabilizar uma relação valiosa.
De uma perspectiva de teoria de jogos, as relações podem ser vistas como jogos de coordenação (Dalkiran et al., 2012; Lee & Pinker, 2010; Pinker, Nowak, & Lee, 2008), já que com frequência é mutuamente vantajoso aparentar bondade, respeito, apoio, indiferença, afeição ou maldade para com os que demonstram a mesma coisa para nós. Ou seja, parceiros sociais geralmente se beneficiam com a coordenação sobre o mesmo tipo de relação, e as incompatibilidades de relações podem custar caro. As pessoas podem usar sinais presentes e históricos passados para estabelecer relações cooperativas. Mesmo assim, cada parte pode abandonar unilateralmente uma relação a qualquer momento. Assim, cada parte se beneficia com a checagem periódica do estado da relação e com a reafirmação de sua compreensão da relação para sua contraparte.
Como as relações dependem de crenças e expectativas sincronizadas, são frágeis, podendo ser minadas por transgressões intencionais ou até acidentais. Uma amizade pode esfriar e desconhecidos podem migrar de neutros para antagônicos. Nesses casos, os indivíduos ficam na difícil situação de adivinhar os estados mentais dos demais para prever o comportamento futuro deles, e uma transgressão não admitida pode destruir uma relação direcionando as expectativas de uma parte em direção à não-cooperação no futuro.
Esse problema é bem estudado no contexto de conflito violento em que rivais podem acidentalmente entrar em uma “armadilha hobbesiana”, como uma corrida armamentista desenfreada (Pinker, 2011; Schelling, 1960). Por exemplo, duas nações sem vínculos próximos poderiam preferir evitar uma guerra depois de uma disputa, mas cada uma delas pode mobilizar forças militares caso a outra decida atacar, e isso, por sua vez, incentiva cada uma a atacar preventivamente para evitar perder a vantagem de atacar primeiro.
Essa mesma dinâmica pode ocorrer em relações interpessoais. Um amigo, cônjuge, colega ou desconhecido pode ignorar uma pessoa simplesmente por temer o mesmo da outra pessoa. Quando ocorre uma transgressão pública — roubo de dinheiro, suspeita de infidelidade, uma calúnia ou um prato de comida derrubado — os indivíduos podem tentar adivinhar suas relações e acabar em um tipo de “armadilha de deserção” na qual cada um deles enxerga a relação mais negativamente apenas porque pensam que a outra pessoa fez o mesmo.
Para fugir dessas armadilhas, os parceiros precisam de algum modo reafirmar a relação garantindo entre si que ambos pretendem mantê-la. Propomos que as emoções autoconscientes se destinam a facilitar essas reafirmações: ajudam um transgressor a sinalizar contrição de forma imediata e pública a fim de impedir uma espiral de deterioração do relacionamento. Consistentes com essa ideia, pesquisas têm mostrado que o embaraço e o rubor das faces podem servir como sinais de contrição e ajudam a apaziguar uma audiência potencialmente hostil (Dijk et al., 2009; Dijk et al., 2011; Keltner, 1995; Keltner & Buswell, 1997), e todas as três emoções autoconscientes negativas motivam as pessoas a tomarem medidas corretivas e fazer correções (Beer et al., 2003; Keltner & Buswell, 1997; Ketelaar & Au, 2003; Tracy & Robins, 2004).
Essencialmente, a lógica da coordenação implica que o conhecimento comum de uma transgressão pode ser mais prejudicial para uma relação do que, até mesmo, níveis arbitrariamente altos de conhecimento compartilhado. Alinhando as crenças e expectativas dos indivíduos, o conhecimento comum de uma transgressão pode forçar os parceiros sociais a reconhecerem verdades desagradáveis e criarem uma armadilha de deserção que pode destruir sua relação caso não seja abordada. Em contraste, se uma transgressão social for meramente de conhecimento compartilhado, os parceiros sociais não são necessariamente forçados a reconhecê-la, o que pode mantê-los afastados de uma armadilha de deserção. Uma pequena quantia de incerteza significa que deixar de pedir desculpas não é necessariamente uma afronta direta que desafia o status quo, mas, em vez disso, poderia ser uma tentativa de evadir-se da ofensa. Embora a vítima ainda possa preferir desculpas à evasão, esta última pelo menos sugere que o ator pretende manter o status quo. Em resumo, o conhecimento comum de uma transgressão força as pessoas a revisitarem, renegociarem, e/ou reafirmarem os termos de sua relação; ao passo que, até níveis elevados de conhecimento compartilhado proporcionam espaço de manobra que permite às pessoas simplesmente ignorarem a infração se assim desejarem (Dalkiran et al., 2012 fornecem um modelo formal desse fenômeno).
Finalmente, as ameaças colocadas pelo conhecimento comum também podem ir além da relação em si e incluir terceiros que observam ou descobrem a infração. Quando uma infração é de conhecimento comum, os terceiros têm maior capacidade para condenar e punir o infrator (DeScioli & Kurzban, 2013). Portanto, o conhecimento comum representa uma ameaça especial vinda de terceiros, além do dano que pode fazer dentro dos relacionamentos.
Em resumo: uma relação cooperativa é ameaçada por uma transgressão que é de conhecimento comum (a menos que seja especificamente corrigida), mas é menos ameaçada por uma transgressão que seja meramente de conhecimento compartilhado (que não precisa necessariamente ser corrigida).
Como as emoções autoconscientes ajudam os indivíduos a gerenciarem relações?
As principais teorias das emoções autoconscientes sustentam que elas funcionam para ajudar os indivíduos a gerenciarem relações e navegarem em seu ambiente social (ver Beer et al., 2003; Dijk et al., 2009; Keltner, 1995; Keltner & Buswell, 1997; Ketelaar & Au, 2003; McCullough, 2008; Miller, 1995; Steckler & Tracy, 2014; Sznycer et al., 2016; Tangney & Tracy, 2012; Tracy & Robins, 2004). Especificamente, essas teorias focam na maneira como as emoções autoconscientes motivam as pessoas a evitarem transgressões, evitam que informações prejudiciais se espalhem e acalmam as outras pessoas depois de ocorrer uma transgressão. A descoberta que as emoções autoconscientes são sentidas com maior intensidade quando há uma audiência presente proporciona suporte empírico para esse conjunto de ideias.
No entanto, embora manter a reputação de uma pessoa seja um aspecto importante do gerenciamento de relações, nossa análise sugere outro elemento crítico que as teorias existentes não abordaram: o estabelecimento e manutenção da coordenação. Se relações exigem coordenação, então as emoções autoconscientes serão sentidas com maior intensidade quando uma transgressão for reconhecida frente a uma audiência ou um público, em comparação com quando ela não é reconhecida, porque o conhecimento comum da ofensa coloca uma ameaça à coordenação.
Assim, a teoria da coordenação das emoções autoconscientes estima que o conhecimento comum de uma transgressão vai desencadear sensações mais intensas de embaraço, vergonha ou culpa do que se a transgressão for meramente de conhecimento compartilhado entre uma audiência e o transgressor. As teorias de reputação propostas em pesquisas anteriores não preveem claramente esse outro efeito do conhecimento comum. A reputação de um transgressor pode ser prejudicada logo que alguma outra pessoa descobrir sobre a transgressão dele. Dessa forma, saber que uma audiência está consciente da transgressão é suficiente para saber que a reputação da pessoa está em perigo. O conhecimento comum não precisa aumentar esse perigo porque, uma vez que um transgressor sabe que um terceiro está consciente da ofensa e, mesmo assim, ainda não a aborda, o prejuízo à reputação já foi feito. Propomos que, como as emoções autoconscientes rastreiam preocupações sobre a reputação e a coordenação, elas deveriam ser sentidas mais intensamente com conhecimento compartilhado do que com conhecimento privado, e ainda com maior intensidade com conhecimento comum do que com conhecimento compartilhado.
Teste empírico
Um problema para testar qualquer teoria de emoções autoconscientes negativas de embaraço, culpa e vergonha é como distingui-las de outras emoções com valência negativa tal como raiva, tristeza ou ansiedade. Uma das descobertas mais antigas da ciência afetiva é que as diferentes emoções estão posicionadas ao longo de um pequeno número de dimensões, sendo que as positivas-negativas estão entre as mais destacadas (Rubin & Talarico, 2009; Russell & Barrett, 1999; Watson, Clark, & Tellegen, 1988). Além disso, as diferentes emoções no polo negativo se encaixam em uma classe natural, podendo compartilhar fenomenologia inerente, substratos fisiológicos e patologias (como na comorbidade de depressão, ansiedade e fobias sociais) (Baumeister, Bratslavsky, Finkenauer, & Vohs, 2001; Rozin & Royzman, 2001). Assim, ao testar a hipótese que busca identificar os gatilhos cognitivos e sequelas comportamentais de emoções específicas, é essencial distinguir a experiência e relato dessas emoções a partir de uma negatividade mais global que pode ser desencadeada por uma variedade de situações estressantes não específicas. Nos dois experimentos, tentamos assim distinguir emoções autoconscientes de negatividade mais geral.
No experimento, os participantes leram frases na primeira pessoa descrevendo situações com uma transgressão que tipicamente gera emoções autoconscientes negativas, raiva ou tristeza. Escolhemos raiva e tristeza como casos de emoções básicas bem estudadas (Ekman, 1999; Tracy & Robins, 2004). Em diferentes versões dos cenários, variamos os níveis de conhecimento das personagens sobre a transgressão como conhecimento privado, compartilhado ou comum. Foi pedido aos participantes que se imaginassem no cenário e avaliassem quanto sentiriam emoções diferentes.
Essencialmente, notamos que as avaliações dos participantes para emoções em cenários hipotéticos podiam refletir uma mistura das emoções reais de outras pessoas que os participantes podem estar experimentando indiretamente, bem como suas crenças sobre quais emoções elas preveem que sentiriam em tais cenários (que podem ou não ser exatas). Cenários escritos podem potencialmente evocar emoções genuínas. Por exemplo, as pessoas comumente relatam retração, medo e outras reações emocionais ao serem solidários com uma personagem fictícia em uma situação estressante. Essas emoções indiretas e imaginadas são o alicerce para teorias baseadas em imaginário tais como dessensibilização e implosão (Holmes, Arntz, & Smucker, 2007; Mar & Oatley, 2008). No entanto, não podemos distinguir emoções genuínas de emoções previstas em auto-relatos, embora esperemos que elas estejam altamente correlacionadas.
Se, conforme previsto pela teoria da coordenação, reconhecer uma transgressão é um gatilho particularmente potente para emoções autoconscientes, então os participantes reportarão emoções autoconscientes mais intensas quando as transgressões forem de conhecimento comum em comparação a conhecimento compartilhado. Como se explicou acima, a teoria da coordenação vai mais além de apenas prever que as emoções autoconscientes devem ser sensíveis a esses níveis variantes de conhecimento; ela também prevê que esses efeitos serão relativamente específicos para as emoções autoconscientes, em oposição a outras emoções negativas que têm importantes funções adicionais além de qualquer papel que possam ter no gerenciamento de relações. Portanto, a teoria da coordenação prevê que os níveis de conhecimento: (a) afetam as avaliações de emoções autoconscientes depois de subtrair o efeito negativo geral; e, (b) afetam as emoções autoconscientes mais do que as emoções básicas tradicionais de raiva e tristeza.
Experimento
No experimento os participantes relataram como reagiriam a diferentes níveis de conhecimento em um de cinco cenários. Três dos cenários foram projetados para evocar emoções autoconscientes negativas: ser apanhado zombando de um amigo, flatulência audível durante uma palestra, ou reportar compras desonestamente para conseguir reembolso. Os outros dois cenários foram projetados para evocar emoções negativas não autoconscientes: tristeza ao descobrir que o companheiro romântico da pessoa está prestes a terminar o relacionamento e raiva por descobrir que um conhecido estava tentando sabotar uma amizade valiosa. Para cada cenário, os participantes avaliavam quanto sentiriam de uma bateria de emoções. As avaliações das múltiplas emoções nos permitiram examinar as emoções autoconscientes depois de subtrair o efeito negativo geral, distinguindo as primeiras das últimas.
Cada participante lia cinco frases diferentes (apresentadas em ordem aleatória) que descreviam diferentes níveis de conhecimento do evento focal em um dos cenários. Ou seja, o cenário variava entre assuntos; ao passo que o conhecimento variava dentro dos assuntos, indo de conhecimento privado, em que só o participante tinha conhecimento do evento focal, até conhecimento compartilhado, em que o participante e outra pessoa sabiam sobre o evento focal, mas nenhum deles estava totalmente informado do conhecimento da outra pessoa, para conhecimento comum em que o evento focal era de conhecimento sabido em comum entre o participante e outra pessoa.
Como as emoções autoconscientes negativas são tipicamente causadas pelas próprias ações da pessoa, ao passo que outras emoções negativas tendem a ser evocadas pelas ações de outras pessoas, os eventos focais nos cenários correspondentes precisavam ser diferentes: os participantes assumiam o papel do ator nos cenários autoconscientes e de um observador nos cenários básicos de emoções. Como Tangney e Tracy (2012) explicam essa distinção, as emoções autoconscientes diferem de outros tipos de emoções porque “… as emoções autoconscientes, fundamentalmente, envolvem as reações das pessoas a suas próprias características ou comportamento” (pg. 446). Em contraste, é difícil pensar em fazer algo, nós mesmos, que evoque diretamente emoções não autoconscientes tais como raiva ou tristeza (em oposição à iniciar uma cadeia de eventos imprevisíveis, o último dos quais pode ser a causa imediata da emoção).
Os participantes leram as instruções explicando a tarefa e receberam definições das seis emoções, retiradas de dicionários padrão, que eles deveriam avaliar no estudo:
- Raiva — Um forte sentimento de desprazer, indignação, aborrecimento e hostilidade.
- Embaraço — Um sentimento de dolorosa autoconsciência, desconforto, constrangimento e humilhação.
- Medo — Um sentimento desagradável de ansiedade ou apreensão causado pela presença ou expectativa de perigo.
- Culpa — Consciência de ter agido errado ou falhado em uma obrigação, acompanhado de sentimentos de remorso e arrependimento.
- Tristeza — Um sentimento de infelicidade, sofrimento e amargura.
- Vergonha — Uma emoção negativa, dolorosa, que combina sentimentos de desonra, indignidade, angústia e humilhação, e é causada pela consciência de ter feito algo errado ou idiota.
Em seguida os participantes leram cinco versões de um cenário, cada uma com um nível diferente de conhecimento sobre o evento focal, apresentadas em ordem aleatória. Depois de cada versão, os participantes usaram barras deslizantes para relatar com que força experimentariam cada uma das seis emoções em uma escala de 0 a 100, e com que probabilidade e intensidade exibiriam 16 reações físicas, também em uma escala de 0 a 100. Essas reações foram retiradas de pesquisas anteriores sobre emoções e incluíam: evitar o olhar, empalidecer, enrubescer, cerrar os dentes, cobrir ou tocar o rosto, chorar, encarar, baixar a cabeça, rir nervosamente, arregalar os olhos, erguer as sobrancelhas, sorrir encabulado, encolher os ombros, gaguejar e tremer (ver Ekman, 2003; Keltner & Buswell, 1997; Tracy & Robins, 2004).
Os seguintes três cenários foram projetados para provocar emoções autoconscientes:
- Zombaria — Os participantes imaginavam que estavam conversando com um amigo e zombando do problema de fala de uma amiga mútua quando a pessoa que era motivo da zombaria aparecia inesperadamente.
- Flatulência — Os participantes se imaginavam flatulando sonoramente em uma sala de conferências lotada.
- Falsificação — Os participantes imaginavam que estavam apresentando uma solicitação desonesta de reembolso para um clube, que é descoberta por seu companheiro.
Os dois cenários a seguir foram projetados para provocar raiva ou tristeza:
- Rompimento — Os participantes imaginavam que seu parceiro romântico ia romper com eles, já que ouviram um correio de voz deixado por um amigo do parceiro.
- Sabotagem — Os participantes imaginavam que ouviram por acaso um conhecido tentando sabotar seu relacionamento com um bom amigo.
Cada participante leu cinco diferentes versões de um determinado cenário, cada uma com um nível diferente de conhecimento sobre o evento focal. Como os participantes assumiam o papel do ator nos cenários autoconscientes, e de observador nos cenários de emoções básicas, os níveis de conhecimento nos dois tipos de cenários não eram idênticos. Os cenários de emoções autoconscientes foram apresentados com cada um dos níveis de conhecimento abaixo:
- Conhecimento privado 1 — Somente o participante sabe sobre sua transgressão.
- Conhecimento privado 2 — Um observador está consciente da transgressão, mas o participante não percebe isso.
- Conhecimento compartilhado 1 — O participante sabe que um observador sabe sobre a transgressão, mas o observador não está consciente que o participante sabe disso.
- Conhecimento compartilhado 2 — O participante sabe que um observador sabe da transgressão, o observador sabe que o participante sabe disso, mas o observador não está ciente que o participante sabe que o observador sabe disso.
- Conhecimento comum — A transgressão é conhecida em comum (ou seja, o participante sabe que o observador sabe disso, sabe que o observador sabe que ele sabe, e assim indefinidamente).
Os cenários de emoções básicas foram apresentados com cada um dos seguintes níveis de conhecimento:
- Sem conhecimento — O participante não está consciente do evento focal.
- Conhecimento privado 1 — O participante está consciente do evento focal, mas a outra pessoa não percebe isso.
- Conhecimento privado 2 — O participante está consciente do evento focal e a outra pessoa sabe disso, mas o participante não sabe que a outra pessoa está consciente de que ele sabe.
- Conhecimento compartilhado — O participante está consciente do evento focal, e o participante sabe que a outra pessoa está consciente que ele sabe disso, mas a outra pessoa não está consciente que ele sabe disso.
- Conhecimento comum — O evento focal é conhecido em comum (isto é, a outra pessoa sabe que o participante sabe disso, sabe que o participante sabe que ela sabe, e assim indefinidamente).
Os níveis de conhecimento não foram descritos nessas formas esquemáticas (que seriam difíceis para os participantes controlarem), mas em descrições concretas do que os atores olharam, notaram ou deixaram de notar. Por exemplo, na condição de Conhecimento Compartilhado 2 do cenário de Zombaria, em que o participante imagina que está zombando do problema de fala de uma amiga, Lisa, numa conversa com um amigo, Robert, a descrição diz: “Robert ri da piada interna exatamente quando Lisa aparece saindo de uma loja por perto. Ela escuta você zombando do problema de fala dela e a expressão facial dela muda. Você tenta não fazer contato visual com ela olhando rapidamente na direção contrária; no entanto, você percebe que ela conseguiu apanhar você no ato de desviar o olhar. Entretanto, nesse ponto, você já havia virado o suficiente para não parecer para ela que você notou que ela viu você.”.
Resultados
Avaliações de emoções autoconscientes (no topo) e probabilidade de exibir seus correspondentes físicos (na parte de baixo) nos três cenários de emoções autoconscientes, em diferentes níveis de conhecimento. Cada linha na figura representa as avaliações médias combinadas de embaraço, vergonha e culpa nos respectivos cenários. Cada linha na figura representa as avaliações médias combinadas de sete reações físicas associadas a essas emoções em seus respectivos cenários. As barras de erro representam erro padrão.
Avaliações para tristeza no cenário de rompimento e raiva no cenário de sabotagem (3a, no topo), e avaliações da probabilidade de choro no cenário de rompimento e cerrar os dentes no cenário de sabotagem (3b, na parte de baixo), nos diferentes níveis de conhecimento. As barras de erro representam erro padrão.
Discussão
Os resultados do experimento replicam a bem conhecida descoberta que as emoções autoconscientes são sentidas com maior intensidade e têm mais probabilidade de serem expressas em reações físicas características quando uma transgressão é testemunhada por espectadores (conhecimento compartilhado), em comparação com quando só é conhecida privadamente (conhecimento privado). Mais importante, os resultados mostram que as pessoas relatam que sentiriam emoções autoconscientes mais intensas quando sua transgressão é de conhecimento comum do que quando é conhecimento compartilhado. Essa observação confirma uma previsão distintiva da hipótese de coordenação para emoções autoconscientes. Ainda mais, esses efeitos eram particulares às emoções autoconscientes. Os cenários que provocam raiva e tristeza mostraram um padrão diferente: a raiva e a tristeza esperadas foram evocadas principalmente por se descobrir privadamente sobre o evento desencadeador, com pouco ou nenhum aumento à medida que os níveis de conhecimento aumentavam para além do conhecimento privado. Dessa forma, as pessoas esperam que essas emoções não autoconscientes sejam evocadas simplesmente por saber de um evento desencadeante, ao passo que as emoções autoconscientes seguem diferentes níveis de conhecimento compartilhados com uma audiência sobre o evento.
Utilizando insights da teoria de jogos, a teoria da coordenação propõe que as pessoas se sentem mais embaraçadas, culpadas ou envergonhadas quando uma transgressão é reconhecida ou, de alguma outra forma, se torna pública por dois motivos: (1) a falha de um ator em redimir-se de uma transgressão transmite mais informação prejudicial quando é conhecimento compartilhado em comparação com quando uma audiência simplesmente sabe disso; e, (2) as relações humanas são um tipo de jogo de coordenação, que torna uma transgressão mais destrutiva quando é de conhecimento comum. Essa teoria da coordenação faz a previsão nova que as emoções autoconscientes serão provocadas com mais força pelo conhecimento comum de uma transgressão do que por conhecimento compartilhado.
Um indivíduo que viola expectativas sociais sem reconhecer a transgressão está meramente sob uma nuvem de suspeita, e permanece em aberto a possibilidade que estabelecerá sua inocência, compensará a vítima ou corrigirá suas atitudes; ou seja, que ele ao menos quer seguir as regras e é suficientemente competente para fazê-lo. Em contraste, alguém que reconhece a infração mas continua sem pedir desculpas indica que ele não se considera vinculado às regras comunitárias (ou é incapaz de entender ou segui-las) e enxerga pouco valor em pertencer àquela comunidade. Além disso, à medida que a informação sobre a transgressão vaza e se espalha, a credibilidade de qualquer eventual pedido de desculpas diminui (Sznycer et al., 2015). O agudo desconforto desencadeado por conhecimento compartilhado ou comum de uma transgressão, então, serve para motivar o transgressor a expiar seus atos, tornar tais expiações mais críveis e, assim, proteger sua posição ameaçada na comunidade.
A análise apresentada neste artigo sustenta que as relações sociais podem ser caracterizadas como jogos de coordenação. Dois indivíduos podem se beneficiar se ambos concordarem tacitamente em serem amigos, amantes, vizinhos prestativos, parceiros de negócios, chefe e empregado, ou desconhecidos educados. Esses contratos sociais permitem que ambos os parceiros compartilhem expectativas sobre recursos, papéis e comportamento aceitável sem negociação constante, mal-entendidos e conflitos (Fiske, 1992; Haslam, 2004; Lee & Pinker, 2010; Pinker, 2007). Porém, se duas pessoas assumem modelos diferentes de relação (amante X supervisionado, amigo X chefe, cliente X membro da família) podem surgir conflitos quando uma parte reclama recursos ou pré-requisitos que o outro não está disposto a conceder, resultando em sentimentos de indelicadeza, imposição, insubordinação, autoritarismo, assédio sexual, exploração, ou familiaridade ou formalidade impróprias. Para gerenciar efetivamente diferentes tipos de relações, as emoções autoconscientes ajudam a solucionar esses problemas de coordenação estabelecendo e reparando o conhecimento comum dos tipos de relações.
O conhecimento comum pode tanto facilitar a coordenação como desmantelá-la. Pode ajudar as pessoas a construir novos relacionamentos mas também pode destruir os existentes, isso porque a coordenação depende de um alicerce instável de expectativas mútuas. Ao tentar se coordenar com um parceiro, uma pessoa precisa fazer o que ela espera que seu parceiro vá fazer, e isso, por sua vez, depende do que ela espera que o parceiro espera que ela faça e do que ele espera que ela espera que ele espera que ela faça, e assim por diante. O conhecimento comum pode facilitar a coordenação concentrando as expectativas dos parceiros na mesma opção, de forma que essas expectativas interdependentes se alinhem. O conhecimento comum também pode destruir a coordenação concentrando a atenção dos parceiros em um evento que sugere que seus interesses podem já não estar alinhados, o que pode tornar novamente imprevisíveis as expectativas sobre o comportamento futuro. Essa mudança nas expectativas pode apresentar aos parceiros cooperativos o mesmo dilema que enfrentaram quando estabeleceram inicialmente suas relações, e exige que tomem medidas para realinhar as expectativas se quiserem voltar a estabelecer o status quo.
O conhecimento compartilhado, em contraste, é menos potente em ambos os casos porque, sem conhecimento comum, os dois parceiros não conseguem ter certeza que suas expectativas do comportamento futuro estejam alinhadas. Sem alinhamento claro das expectativas, o conhecimento compartilhado pode tornar difícil coordenar e estabelecer uma nova relação. O conhecimento compartilhado permite que os parceiros cooperativos estabelecidos finjam de modo plausível que nada jamais aconteceu e retomem com mais facilidade o status quo, se assim o quiserem.
Essa extensão da teoria da coordenação das emoções autoconscientes prevê que as emoções autoconscientes serão mais intensas quando uma infração for de conhecimento comum entre os observadores — por exemplo, se a transgressão ocorrer em público e for visível para muitas pessoas (que também conseguem se ver observando a transgressão) ou se a infração for registrada em foto ou vídeo que podem ser amplamente vistos em fóruns públicos como no Twitter ou YouTube. Uma segunda previsão é que as emoções autoconscientes das pessoas serão sensíveis a sinais indicando que um número crescente de observadores está tomando conhecimento comum da ofensa, como quando ouvem outras pessoas fofocarem sobre a transgressão. Uma terceira previsão é que as emoções autoconscientes motivarão as pessoas a tentar evitar que sua ofensa se torne de conhecimento comum, tal como coagir outros a não falarem da ofensa, mesmo se todos os membros da audiência já sabem dela privadamente.
Muito do desconforto de ruborizar as faces vem do fato que o rubor é exibido exteriormente e sentido como calor e formigamento interiormente, de forma que a pessoa que cora sabe que os expectadores sabem que ela sabe que eles sabem que ela está vermelha, e assim por diante (ver Thomas et al., 2014). As posturas corporais abatidas que acompanham a vergonha podem funcionar em dois níveis. Evitando contato visual, o transgressor aparentemente está evitando o conhecimento comum da transgressão. Entretanto, diferentemente de um olhar furtivo de um transgressor que ainda está esperando fugir do conhecimento comum, a postura abatida evidente de uma pessoa envergonhada sinaliza que ela está consciente da necessidade de evitar o conhecimento comum embora já não esteja realmente tentando evitá-lo. Não somente um observador pode perceber que o estado emocional de um transgressor abatido mudou, mas a própria visão que o transgressor tem dos observadores foi obscurecida ou desviada para longe e, fundamentalmente, o observador consegue ver isso e perceber que o transgressor deve estar consciente que o observador consegue ver isso, e assim por diante. (Como apontam Goffman, 1959, 1978, e Brown & Levinson, 1987, não é coincidência quando dizemos que uma pessoa que cometeu uma infração social comumente conhecida “ficou com a cara no chão” e que a pessoa que tenta consertar o prejuízo está tentando “salvar a cara”). Um indivíduo abatido pode, assim, tornar conhecimento comum que ele já reconhece a necessidade de mudar seu comportamento, o que pode permitir a todas as partes retomarem o status quo sem ter que se envolver em conflito desnecessário. Portanto, a expressão física das emoções autoconscientes é consistente com a teoria de que essas emoções, em uma medida maior do que outras emoções, envolvem raciocínio de estado mental recorrente no serviço de estratégias para negociar os tipos de jogos de coordenação que permeiam a vida social humana.
Kyle A. Thomas e Steven Pinker, Departamento de Psicologia, Universidade Harvard; Peter DeScioli, Departamento de Ciências Políticas, Universidade de Stony Brook. Informações sobre o artigo: recebido originalmente em 22 de novembro de 2016; revisão final recebida em 3 de dezembro de 2017.
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Para ler a versão em português na íntegra (tradução de Amin Simaika), cilque aqui