Por Maíra Torres
A Agenda 2030 é um plano de ação global que reúne 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e consta como meta dos 193 estados-membros da ONU que assinaram o acordo em 2015. O assunto, porém, segue distante da discussão pública.
“A sociedade, de maneira geral, está bem distante do tema. A Agenda 2030 é algo com que todos precisam se comprometer: governo, empresas, organizações. Normalmente vemos apenas os técnicos da área e pessoas diretamente envolvidas se debruçando sobre o tema”, analisa Maria José da Costa Oliveira, pesquisadora e profissional da área de comunicação.
Autora do capítulo “A Agenda 2030 como fator de inovação nas organizações”, do livro Comunicação, Inovação e Organizações, Oliveira trabalhou com instituições sobre o assunto e, por isso, defende que a comunicação entre os setores (empresarial, público e social) é fundamental para avançar na discussão e execução das metas da Agenda.
“É preciso que haja a integração das ações que são realizadas em cada localidade. Um governo municipal, com pesquisadores ou universidades locais, ONGs, empresas, precisam sentar numa mesa e começar a pensar o que vai ser priorizado para essa localidade, e como cada agente atuará”, sustenta a pesquisadora.
Além do desafio do setor de comunicação para realizar essa ponte entre os meios acadêmicos, empresariais e públicos – de uma maneira que também atenda aos interesses de cada grupo – ainda há o de levar o tema à população e fazer com que as pessoas “comprem a causa”, e acreditem ser possível alcançar as metas idealizadas pela ONU – mesmo que em partes.
Uma comunicação sincera para o público, vinda diretamente desses setores, seria uma das soluções, segundo Oliveira. “Porém, falta transparência. Muitas vezes as pessoas não se comprometem com uma proposta como a da Agenda por a considerar realmente inviável, inalcançável. É preciso explicar a real possibilidade de cumprimento das ações”, explica.
Para alcançar as proposições que ainda se colocam distantes da realidade de vários cenários brasileiros, Oliveira defende a elaboração de metas menores, em escala municipal, ou os mais próximos da população. “A comunicação entre os setores poderia ser feita de baixo para cima”, diz.
Um bom exemplo é o HIDS (Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável). A iniciativa que une Unicamp, poder público de Campinas e empresas parceiras visa à construção de uma estrutura que combina e articula ações para promover o desenvolvimento sustentável. O projeto começou a ser colocado em prática em 2018, segundo a coordenadora de comunicação, Patrícia Mariuzzo.
“Na primeira fase do HIDS percorremos toda a Unicamp para falar com as pessoas sobre o projeto e ter um feedback sobre o que elas esperavam. Também visitamos algumas empresas e fizemos várias reuniões com a Prefeitura e o governo do Estado, para sensibilizá-los. Um projeto como esse só iria para frente se conseguíssemos fazer essa articulação intersetorial”, explicou.
A intenção da equipe do HIDS é trabalhar com o conceito de Laboratório Vivo, que é um modelo de organização que cria, integra e aplica diversos projetos de pesquisa em situações do cotidiano por meio de parcerias público-privadas. Essa metodologia escolhida permite a aproximação do público com a Agenda de maneira direta e efetiva, e é um dos maiores desafios do HIDS, segundo a coordenadora.
“Em vez de comunicar a Agenda 2030, de pensar em vida terrestre, que é algo muito genérico, apesar de legítimo, se atua diretamente no problema. No caso da Unicamp, vamos resolver a questão de atropelamento de animais desenvolvendo corredores ecológicos. Você trabalha na solução sem dizer diretamente ao público que você está atendendo a ODS, apesar de estar”, exemplifica.
As Organizações da Sociedade Civil também buscam implementar projetos que promovam iniciativas sustentáveis. Uma delas é o Instituto 17, fundado em 2018 para elaborar relatórios técnicos, projetos e propor soluções a empresas e ao poder público para questões relacionadas à economia circular, defesa do meio ambiente e desenvolvimento local.
Essas propostas têm por base viabilizar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “A maior dificuldade é conseguir provar que a solução proposta é a melhor para o meio ambiente e os atores envolvidos, porque às vezes sabemos disso, mas por questões políticas o projeto acaba não sendo executado”, conta Guilherme Novaes, consultor Junior do instituto, atuando também com a comunicação entre os setores envolvidos na execução dos projetos.
Maíra Torres é jornalista (Pucamp) e aluna da especialização em jornalismo científico (Labjor/Unicamp).