Arquivo da categoria: artigo

A maconha na pauta das instituições

Por Monique Oliveira

Como o processo de regulamentação do canabidiol no Brasil transformou a ontologia da cannabis sativa.  O canabidiol foi regulamentado no Brasil – e a maconha não – por uma necessidade institucional daquele momento. Era possível, por exemplo, fazer uma discussão sobre a regulamentação do CBD como um fitoterápico – mas, para isso, seria necessário passar pela maconha – e as instituições não levantaram essa possibilidade. Continue lendo A maconha na pauta das instituições

Poder de automação: interferência de bots sociais na política global

Por Samuel C. Woolley

As formas como softwares sociais automáticos estão sendo implantados, bem como os grupos por trás da implantação, estão mudando. Os pesquisadores de ciência da computação descobriram que os bots sociais podem ser usados além da simples interação homem-bot, rumo a uma garimpagem em larga escala dos dados de usuário e verdadeira manipulação da opinião pública em sites como Facebook e Twitter.

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Os meios de comunicação e a democracia

Por Luis Felipe Miguel

Nos regimes que, em geral, aceitamos como “democráticos” o povo não governa. Sua influência nas decisões políticas é filtrada por mecanismos de intermediação, entre os quais a mídia. A falsificação escancarada e a omissão deliberada não resumem o repertório de formas de intervenção política da mídia. Ainda mais crucial é o poder de determinar a agenda que receberá atenção pública, os agentes e as posições relevantes. Há casos de manipulação ostensiva, mas o mais importante é o efeito sistemático da reduzida pluralidade do noticiário. Continue lendo Os meios de comunicação e a democracia

Um fantasma assombra o mundo. Mas… qual é mesmo sua identidade?

Por Reginaldo C. Moraes

O reino da pós-verdade não é uma consequência de qualquer “determinismo tecnológico” ou o fruto da “explosão da informação” que, supostamente, caracteriza nosso cotidiano, balcanizando e fragmentando a informação, disseminando a crença em tudo e, portanto, em nada. Aquilo que por vezes se tem chamado imprecisamente de “sombra do fascismo” é um filho legítimo do movimento de fim da história, isto é, da caricatura de democracia liberal e de mercado livre que os poderes fáticos do centro do mundo impuseram ao planeta como destino inelutável. É surpreendente que os personagens vocacionados para o sucesso hoje sejam encarnação da “anti-política”? Pode ser um empresário excêntrico e agressivo, pode ser um chefe cripto-hitleriano. A emergência desses tipos é uma descendência legítima da apologia da globalização. A mídia conservadora americana não via Trump como o candidato dos sonhos. Mas não podem rejeitar a paternidade. A imprensa liberal também o recusa, evidentemente. Mas não pode negar que ele é a versão cínica e truculenta daquilo que fazem, elegantemente, os falcões globalistas do Partido Democrata. Continue lendo Um fantasma assombra o mundo. Mas… qual é mesmo sua identidade?

Uma consciência 3.0 para as redações

Por Rogério Christofoletti

Tão logo passou o furacão, decidimos sair de nossos abrigos para observar os estragos. A internet, redes sociais, smartphones e tudo ao seu redor tinham varrido nossas certezas preservadas há décadas nas redações. A partir disso, sabemos todos, o jornalismo não foi mais o mesmo porque perdeu a primazia de informar, porque uma horda de amadores ocupou largos territórios e porque a economia da gratuidade chacoalhou (e fez despencar) muitos negócios na área. Continue lendo Uma consciência 3.0 para as redações

Política como religião: ciberdemocracia & intolerância nas novas mídias

Por João Angelo Fantini

A recente eleição de Donald Trump para presidente acendeu o alerta no mundo todo sobre a possibilidade de podermos ter algum tipo autoritário, fascista ou qualquer tipo de maluco na presidência de uma grande nação dotada de armas nucleares. A descrença no fato de que a democracia deveria nos defender contra um tipo de governo que julgávamos relegado ao passado, tem gerado uma série de discussões, desde as mais bizarras e paranoicas, até outras rebuscadas e acadêmicas, questionando a validade das formas democráticas de voto. Continue lendo Política como religião: ciberdemocracia & intolerância nas novas mídias

Algumas considerações acerca do trabalho de campo numa pesquisa sobre o poliamor no Brasil

Por Antonio Cerdeira Pilão

Este artigo apresenta algumas reflexões sobre a pesquisa de campo realizada no mestrado e no doutorado entre 2011 e 2017 no Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O termo poliamor, criado nos anos 1990 nos Estados Unidos[1], refere-se à possibilidade de estabelecer múltiplas relações afetivo-sexuais de forma concomitante, consensual e igualitária. É possível classificar três modelos básicos de relação poliamorista que se dividem em “abertas” e “fechadas”. Isto é, no primeiro caso, há a possibilidade de novos amores e, no segundo, temos a “polifidelidade”, ou seja, a restrição das experiências amorosas: Continue lendo Algumas considerações acerca do trabalho de campo numa pesquisa sobre o poliamor no Brasil

Toda nudez será castigada? – Tecnologia, corpo e gênero na era das mídias digitais

Por Richard Miskolci

Aplicativos como o Grindr revelam-se não apenas tecnologias comunicacionais mas também de gênero, já que erotizam o homossexual que passa por hétero incentivando que seus usuários se apresentem de forma convencional. Assim, podem ser encarados como tecnologias contemporâneas de reprodução do gay másculo.

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Nem dentro, nem fora: notas sobre a experiência prisional de estrangeiras em São Paulo

Por Bruna Bumachar

Quando entrei pela primeira vez na Penitenciária Feminina da Capital, na capital paulista, em meados de 2008, deparei-me com uma população que girava em torno de 800 presas, sendo cerca de quase metade composta por não nacionais e a outra metade por brasileiras. Lá se encontravam estrangeiras de mais de 60 nacionalidades, com perfis variados, falantes de mais de 30 línguas, mas que traziam em comum, em 76% dos casos, a maternidade, e, em 95% dos casos, o tráfico de drogas como causa do encarceramento, todas na função de mula. A maioria maciça era primária no sistema carcerário (ao menos no brasileiro), residia anteriormente em seus países de origem e não falava português, único idioma dominado pela quase totalidade de presas brasileiras e funcionários. Continue lendo Nem dentro, nem fora: notas sobre a experiência prisional de estrangeiras em São Paulo