Arquivo da categoria: artigo

‘Maneco Músico’, pai e mestre do maestro Carlos Gomes

Por Lenita W. M. Nogueira

Uma das vertentes da musicologia, ciência que estuda os diversos aspectos envolvidos no fazer musical, é a exploração da vida musical em determinada região. No caso específico deste artigo, trataremos de Manuel José Gomes (Santana do Parnaíba, 1792-Campinas, 1868), o Maneco Músico, que, apesar de viver grande parte de sua vida em Campinas, SP, teve uma atividade representativa da prática musical do Brasil no século XIX. Continue lendo ‘Maneco Músico’, pai e mestre do maestro Carlos Gomes

Affetto e a atualidade de um princípio musical

Por Leonardo Martinelli

Ao longo de diversos períodos, estilos e práticas de diferentes tradições musicais no Ocidente, a relação entre a música e a expressividade ocupou lugar de destaque tanto na investigação teórica de cunho estético-filosófico quanto em questões de ordem prática, relacionadas ao cotidiano de intérpretes e criadores. Historicamente, do ponto de vista da teoria da música, os desdobramentos dessa relação direcionaram-se para um amplo debate em torno da semanticidade da música, o que por sua vez fomentou o desenvolvimento de uma noção da música enquanto linguagem que reverberou de forma intensa na própria prática musical. Continue lendo Affetto e a atualidade de um princípio musical

A tecnologia não diminuiu a qualidade social de se ouvir música

Por Daniel A. Gross, ilustração de Ellen Weinstein, tradução de Amin Simaika.
Publicado originalmente na revista Nautilus

Em uma noite do fim do verão de 2015, no South Street Seaport, uma quadra na extremidade sul de Manhattan (Nova York), centenas de pessoas colocavam fones de ouvido para mergulhar em seus próprios mundos. Era uma noite clara, perfeita para uma caminhada, mas elas não estavam interessadas nas lojas ou restaurantes. Estavam muito ocupadas sintonizando e curtindo uma “discoteca silenciosa”. Continue lendo A tecnologia não diminuiu a qualidade social de se ouvir música

Quarta revolução industrial – Adaptar-se à nova tecnologia ou perecer (mas é isso mesmo?)

Por Steven Poole

No livro de Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, o termo chave é “adaptar-se” ao mundo novo que a tecnologia criará. A ideia raramente é contestada, mas, na verdade, é uma atualização velada do darwinismo social, segundo o qual as pessoas que sobreviverem ao dilúvio robótico que se aproxima terão sido o tempo todo, por definição, os mais aptos. O apelo para nos adaptarmos implica que as circunstâncias em mutação que Schwab prevê são como forças inexoráveis da natureza. Mas, obviamente, não são. Continue lendo Quarta revolução industrial – Adaptar-se à nova tecnologia ou perecer (mas é isso mesmo?)

Revolução tecnológica, automação e vigilância

Por Sérgio Amadeu da Silveira

Sim, a confluência de tecnologias – da impressão 3D com a internet das coisas (IoT), da robótica com a neurociência, da inteligência artificial com a biologia sintética – poderá trazer produtos e serviços superiores. Mas não há indícios de que os produtos e serviços da quarta revolução industrial vão alterar a tendência de concentração econômica. A automação elimina postos de trabalho e cria outros: há quem indique um ganho líquido nesse processo. Ainda assim, também ganha força o debate sobre a necessidade de vincular a nova revolução a uma renda básica universal e de preservar os serviços públicos da invasão da “algoritmização” privada. Continue lendo Revolução tecnológica, automação e vigilância

Blockchain: além da bolha do Bitcoin

Por Steven Johnson

O que Satoshi Nakamoto (ninguém sabe quem ele é ou se na verdade é um coletivo de programadores) introduziu no mundo em 2008 foi uma maneira de concordar com o conteúdo de um banco de dados que não tivesse ninguém “no comando”, e uma forma de compensar as pessoas por ajudar a tornar esse banco de dados mais valioso, sem que essas pessoas estivessem numa folha de pagamento oficial ou detivessem ações numa entidade corporativa. Juntas, essas duas ideias resolveram o problema do banco de dados distribuído e o problema de financiamento. De repente havia uma forma de suportar protocolos abertos não disponíveis na infância do Facebook. A ideia do blockchain propõe soluções não estatais para excessos capitalistas como monopólios de informação. Todos devem ter direito a um armazenamento de dados privado, onde todas as várias facetas de sua identidade online sejam mantidas. Esses protocolos de identidade seriam desenvolvidos no blockchain, fonte aberta. Ideologicamente falando, aquele depósito de dados privados seria um verdadeiro esforço em equipe: construído como um ‘intellectual commons’, financiado por especuladores de ‘tokens’, apoiado por regulamentação do Estado. Continue lendo Blockchain: além da bolha do Bitcoin

Por uma política pró-competitividade para a indústria

Por Igor Rocha, Venilton Tadini e Guilherme Magacho

Análises a-históricas têm propagado a ideia de que o crescimento econômico não tem um caráter setorial específico, que não há dinamismo distinto entre os setores da economia. Uma análise pragmática das trajetórias de crescimento mostra que estão fortemente associadas à composição setorial da produção e à pauta de exportações dos países. Quando se fala em indústria 4.0, deve-se considerar quais são os setores em cada país que mais se beneficiarão da adoção de novas tecnologias e novos processos e, então, criar condições para que realizem a transição. Continue lendo Por uma política pró-competitividade para a indústria

Bem-vindo à Era do Homem

Por Reinaldo José Lopes

Do ponto de vista da quase totalidade dos 4,5 bilhões de anos de história da Terra, a cozinha da sua casa provavelmente é uma aberração completa – e não é porque a maioria dos alimentos por aí seja preparada com a ajuda do uso controlado do fogo ou da radiação de micro-ondas (embora essas duas coisas também sejam bem esquisitas). Estou falando das panelas de alumínio que devem estar em algum lugar das suas prateleiras. Elas são feitas principalmente de alumínio metálico, um material que, na natureza, só existe em quantidades ínfimas, dada a grande afinidade dos átomos de alumínio pelos de oxigênio, que tende inexoravelmente a produzir óxidos e silicatos a partir do encontro desses dois elementos (e de mais alguns outros). E, no entanto, como que por mágica, nada menos que meio bilhão de toneladas de alumínio metálico – esse material que não deveria existir – podem ser encontradas na Terra neste ano de 2017. Mais de 95% desse montante, aliás, foi produzido dos anos 1950 para cá. Continue lendo Bem-vindo à Era do Homem

Por que espero estar errado sobre a mudança do clima

Por Claudio Angelo

A disputa entre descarbonização emergente e inércia do clima e da economia determinará o futuro da humanidade. Torço pela primeira e espero daqui a alguns anos poder rir de tudo o que escrevi sobre a segunda. Mas por enquanto não apostarei dinheiro nisso. Continue lendo Por que espero estar errado sobre a mudança do clima

Ciência e sociedade do Antropoceno: transição a partir do Holoceno*

Por Jan Zalasiewicz

É fácil pensar que somos especiais e que o momento presente marca um ponto especial no tempo simplesmente por causa de nossa presença. Porém, na escala geológica do tempo, e supondo-se que “nós” significa a espécie humana, a realidade é que podemos estar no limiar de uma nova era – uma idade que os geólogos estão chamando de Antropoceno. Como geólogo, Jan Zalasiewicz, da Universidade de Leicester, explica que se trata de uma era criada por nós mesmos. Tradução de Amin Simaika. Continue lendo Ciência e sociedade do Antropoceno: transição a partir do Holoceno*