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Universidade pública, equidade e gratuidade: velhas questões em novos cenários

Por Helena Sampaio

A proposta do Banco Mundial de instituir a cobrança de mensalidades nas universidades públicas como um meio para promover a equidade no ensino superior no país já soava ineficaz nos idos dos anos 1990. Com base nos dados usados pelo próprio órgão à época, o fim da gratuidade nas instituições públicas serviria apenas para excluir do ensino superior mais da metade dos estudantes do segmento das federais cujas famílias encontravam-se na faixa de renda de até dez salários mínimos. Continue lendo Universidade pública, equidade e gratuidade: velhas questões em novos cenários

O que é a Agenda 2030 das Nações Unidas e quais são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável corresponde a um conjunto de programas, ações e diretrizes que orientam os trabalhos das Nações Unidas e de seus países membros rumo ao desenvolvimento sustentável. Concluídas em agosto de 2015, as negociações da Agenda 2030 culminaram em documento ambicioso que propõe 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas correspondentes, fruto do consenso obtido pelos delegados dos Estados Membros da ONU. Os ODS são o cerne da Agenda 2030 e sua implementação é para o período 2016-2030. Continue lendo O que é a Agenda 2030 das Nações Unidas e quais são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

A grande riqueza e a grande pobreza são igualmente patológicas para a sociedade

Por Ladislau Dowbor

O combate à desigualdade é uma necessidade ética. Não é concebível que no século XXI tenhamos manifestações trágicas de miséria. O básico, numa sociedade civilizada, não pode faltar a ninguém – e muito menos às crianças que não têm nenhuma responsabilidade pelo caos em que são jogadas. Não é uma questão de esquerda e direita, e sim de elementar decência humana. Estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria inoperante enquanto os recursos necessários para assegurar tanto as políticas ambientais como as de redução das desigualdades são desviados para atividades de especulação financeira. Acabar com a pobreza, assegurar crescimento e empregos, e promover a industrialização sustentável pertencem a uma lógica comum e integrada: democratizar o acesso aos recursos. Temos sim de evoluir para um novo pacto global se quisermos que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável realmente se materializem. Continue lendo A grande riqueza e a grande pobreza são igualmente patológicas para a sociedade

As baratas de Moscou

Por Néri de Barros

Guerras são eventos catastróficos. Em decorrência do desenvolvimento tecnológico, as mais terríveis aconteceram no século XX. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) teve tantos mortos que nunca se saberá seu número exato. Talvez 80 milhões, sendo 50 milhões civis. Entre suas muitas atrocidades se destaca a carnificina do cerco de Stalingrado. A este respeito, a escritora ucraniano-bielorussa, Svetlana Aleksiévitch anota, em A guerra não tem rosto de mulher, um depoimento curioso: “Não me lembro de gatos nem de cachorros na guerra, lembro dos ratos… Nem no pior filme eu vi mostrarem como os ratos saíam da cidade antes do fogo da artilharia. Isso não foi em Stalingrado… Foi ainda perto de Viazma… De manhã, bandos de ratos andavam pela cidade em direção ao campo. Eles farejavam a morte. Eram milhares… Pretos, cinzentos… As pessoas olhavam horrorizadas para esse espetáculo sinistro e se apertavam contra as casas. E exatamente na hora em que os ratos sumiram da nossa vista começou o bombardeio. Os aviões atacaram. No lugar das casas e dos porões só restou uma areia pedregosa.” Continue lendo As baratas de Moscou

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: a que vida saudável e a qual bem estar nos levam?

Por Stephan Sperling

Não há ODS da ONU capaz de indicar vida saudável e bem estar para todos sem incorrer em contradição diante da forma como a economia política capitalista está estruturada. O cenário internacional acumula notícias sombrias a respeito do futuro do direito à saúde, como o desfecho da Conferência Global sobre Atenção Primária à Saúde (2018). Abandonando os marcos da universalidade do acesso ao cuidado e da fundamentação dos Sistemas de Saúde no direito à saúde, a Declaração de Astana rende-se ao capital financeirizado defendendo o aprofundamento da segmentação do acesso entre consumidores do setor privado e usuários do sistema público. Continue lendo Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: a que vida saudável e a qual bem estar nos levam?

ODS aplicados à avaliação educacional reacendem debate: afinal, o que é uma boa universidade?

Por Sabine Righetti

Rankings universitários avaliam e comparam universidades de um determinado país, de uma região ou do globo a partir de dados que, em geral, medem a produção científica dessas instituições, a qualidade do ensino e a relação das universidades com o setor produtivo. Recentemente, no entanto, os chamados ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), ações definidas pela ONU para erradicar a pobreza, para proteger o planeta e para promover a paz até 2030, orientaram a elaboração de uma nova classificação universitária importante que, no lugar de, por exemplo, medir quantidade de artigos científicos para definir as universidades de excelência, olhou para aspectos como o número de alunos de baixa renda e com deficiências no total de matriculados. Continue lendo ODS aplicados à avaliação educacional reacendem debate: afinal, o que é uma boa universidade?

Uma breve história (não gloriosa) das Nações Unidas

Por Peter Gowan, publicado originalmente na revista New Left Review nº 24, nov-dez/2003. Versão editada e resumida por Ricardo Muniz, tradução de Amin Simaika

Durante o século XX os líderes norte-americanos lançaram duas vezes ambiciosas instituições de segurança coletiva para solucionar conflitos internacionais. A cada vez, logo depois de lançados, os projetos eram subvertidos ou transformados pelos próprios Estados Unidos. A ideia de Wilson da criação de uma Liga das Nações naufragou com a oposição republicana no Senado. A concepção de Roosevelt das Nações Unidas foi abortada pela administração democrata de seu sucessor. Até 1950, a administração Truman, orientada por Dean Acheson, havia chegado a uma estrutura política bem diferente para gerenciar a política mundial, que não exigia desmantelar as Nações Unidas nem se retirar dela; a entidade mundial e suas agências desempenhavam demasiadas funções úteis aos Estados Unidos para isso. Porém significava reduzi-la a não mais que um papel secundário, como instrumento auxiliar da diplomacia americana. Continue lendo Uma breve história (não gloriosa) das Nações Unidas

Como Katie Bouman encontrou uma laranja na Lua

Por Marcelo Soares

Um século depois da observação do eclipse total do sol em Sobral, fotografado com imagens ampliadas 231 vezes para testar a teoria da relatividade geral, o mundo celebrou um novo teste feito com as tecnologias de ponta do novo século: imagens de altíssima definição feitas por supertelescópios ao redor do globo e isolando a parte relevante com o uso de inteligência artificial. Continue lendo Como Katie Bouman encontrou uma laranja na Lua

O eclipse de 1919 e as disputas pela ciência

Por Danilo Albergaria

A história da produção e da interpretação dos dados observacionais em 1919 constitui um cenário muito mais complicado do que o encontrado nas narrativas triunfalistas. O primeiro e mais persistente mito sobre a construção da ciência em nossa cultura é o de que os dados experimentais e observacionais constituem base objetiva para o teste e a avaliação das teorias. O segundo, mais novo, é o de que a produção e a interpretação dos dados empíricos são determinadas pelos vieses teóricos, ideológicos ou metafísicos dos cientistas envolvidos. Afirma-se, assim, um lugar-comum oposto ao da objetividade. Ambas são formulações perniciosas e jogam água no moinho da incompreensão sobre o funcionamento da ciência. Estudos posteriores mostraram que a confiança nos resultados de 1919 favoráveis à relatividade geral era justificada. Continue lendo O eclipse de 1919 e as disputas pela ciência

O eclipse de 1919 nos jornais: Einstein, Assis Chateaubriand e os cientistas brasileiros

Por Rogério Monteiro

Fama, reconhecimento no campo científico, financiamento e poder não são coisas que se separam facilmente. E não há como não se enroscar nessa rede quando comemoramos os experimentos em solo brasileiro do eclipse solar de 29 de maio de 1919. Há certamente uma tentativa de transferência de reconhecimento científico, simbólico, entre o grande nome da física do século XX, o Brasil e seus astrônomos. Continue lendo O eclipse de 1919 nos jornais: Einstein, Assis Chateaubriand e os cientistas brasileiros