O resultado final da eleição pode sugerir que a campanha de 2018 sepultou alguns dos pilares que historicamente balizam as decisões políticas no país. A começar pelo poder da televisão e da chamada mídia tradicional. Mas não é bem assim.Continue lendo Bolsonaro e a TV→
A má informação é mais popular, mais sensacional, gera mais cliques, mais reações emocionais, entretenimento e engajamento do que a informação verdadeira. E a reação das plataformas, até mesmo por esses motivos, tem sido estruturalmente agnóstica, ou seja, de incorporação do desvio como se fosse parte da normalidade. A má informação se tornou um negócio, tanto do ponto de vista político quanto do ponto de vista financeiro. A frase “não é bug, é feature” se aplica muito bem aqui, porque a má informação é incorporada e usufrui do sistema de recompensas hoje instituído.Continue lendo Mentiras lucrativas: modelos de negócio da web exploram radicalismos e ameaçam democracias→
A direita de hoje não é uma evolução do conservadorismo, mas um repúdio a ele. O filósofo Michael Oakeshott o definiu perfeitamente: “Ser conservador… é preferir o que é familiar ao desconhecido, preferir o já tentado ao nunca tentado, o fato ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante.” No melhor caso, o conservadorismo pode ser uma influência estabilizadora. É razoável e sábio; valoriza a competência; não está com pressa. Esses dias acabaram. A direita de hoje está em chamas e é perigosa.Continue lendo A crise global do conservadorismo→
A crise climática é uma questão que requer reflexão a longo prazo, cruzando gerações. No entanto, a política eleitoral é orientada a reagir em direção a queixas imediatas. A solução está na ‘democracia deliberativa’ (assembleias livres da representação partidária) e na democracia direta mais radical (protestos de rua de longos períodos). Publicado originalmente na revista Foreign Policy (20 de julho de 2019), sob o (péssimo) título “Democracy is the planet’s biggest enemy”.Continue lendo Como certa democracia pode ser o maior inimigo do planeta→
Os exemplos dos Estados Unidos e da Alemanha mostraram que boas escolas – e as universidades entre elas – são parte decisiva da infraestrutura de desenvolvimento de um país. Tanto ou mais do que estradas, redes de energia ou comunicação via satélite. Mas, assim como esses outros investimentos infraestruturais, o retorno é lento e pouco focalizado em beneficiários diretos. Por isso, dizia o especialista Richard Nelson, fica longe do necessário se deixado a cargo exclusivamente da decisão privada. É preciso preservar, na investigação acadêmica, um espaço diversificado de áreas de interesse. A universidade precisa pairar acima da aplicação prática mais evidente – outra dificuldade para o investimento privado, cada vez mais marcado pelo “curto-prazismo”.Continue lendo Ensino superior, universidade e desenvolvimento: ensinamentos da experiência internacional→
A concepção de educação superior de Clark Kerr, presidente da Universidade da Califórnia entre 1958 e 1967, serviu à estruturação de sistemas organizados de forma verticalizada, estratificada e hierarquizada por diferentes instituições de modo a preservar uma pequena elite de instituições de pesquisa e pós-graduação no topo da estrutura e instituições de ensino na base que pudessem responder às necessidades de massificação. No Brasil, a diferenciação que protege as instituições de pesquisa não decorre de um plano diretor como o da Califórnia, mas da separação entre oferta pública e privada de educação superior.Continue lendo A expansão de universidades públicas e os fins da educação→
A realização de provas únicas (os famosos vestibulares) indica que a universidade, tão criativa em seu interior, é pouco original na seleção de seus futuros alunos. O imperativo de que o acesso deva ocorrer por um sistema universal de disputa de vagas mascara as diferenças escolares e sociais existentes e produz um ambiente muito homogêneo, perfil que contribui para o distanciamento. A universidade fechada em si mesma é um equívoco que remonta ao modo naturalizado de ingresso. Por quem e para quem é a universidade pública? A resposta é simples: para todos os públicos, de todas as rendas e de todas as experiências escolares. Ali, a experiência muda a vida dos mais vulneráveis socialmente, mas também das elites. Para além dos conhecimentos, aprende-se regras para a cidadania e o combate à cultura de privilégios. A universidade é um laboratório para o convívio democrático.Continue lendo Universidade pública e para todos os públicos→
Por Nina Beatriz Stocco Ranieri e Michel Kurdoglian Lutaif
Não há receita milagrosa para a efetivação da autonomia universitária. Como se verifica no caso das universidades estaduais paulistas, os fatores mais importantes são a responsabilidade institucional e a responsabilidade objetiva dos dirigentes. No caso das federais, o artigo 207 da Constituição Federal acabou não sendo efetivo: são administradas a partir de regras emanadas do Ministério da Educação. A edição da LDB em 1996 parecia anunciar uma nova era, fundada na descentralização, o que não se confirmou com o tempo. A legislação ordinária não controlou as principais variáveis que interferem na eficácia de sua atuação autônoma: condições de financiamento e especialidade do seu regime jurídico.Continue lendo A autonomia universitária e seus percalços→
A proposta do Banco Mundial de instituir a cobrança de mensalidades nas universidades públicas como um meio para promover a equidade no ensino superior no país já soava ineficaz nos idos dos anos 1990. Com base nos dados usados pelo próprio órgão à época, o fim da gratuidade nas instituições públicas serviria apenas para excluir do ensino superior mais da metade dos estudantes do segmento das federais cujas famílias encontravam-se na faixa de renda de até dez salários mínimos.Continue lendo Universidade pública, equidade e gratuidade: velhas questões em novos cenários→
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável corresponde a um conjunto de programas, ações e diretrizes que orientam os trabalhos das Nações Unidas e de seus países membros rumo ao desenvolvimento sustentável. Concluídas em agosto de 2015, as negociações da Agenda 2030 culminaram em documento ambicioso que propõe 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas correspondentes, fruto do consenso obtido pelos delegados dos Estados Membros da ONU. Os ODS são o cerne da Agenda 2030 e sua implementação é para o período 2016-2030. Continue lendo O que é a Agenda 2030 das Nações Unidas e quais são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável→