Seis dias antes da estreia de “Três Verões”, prevista para 19 de março de 2020 – por coincidência o penúltimo dia do verão brasileiro – a distribuidora Vitrine Filmes enviou um comunicado aos jornalistas informando que, diante do avanço do coronavírus e das recomendações das autoridades para evitar aglomerações não havia outra opção a não ser adiar o lançamento do filme de Sandra Kogut. Continue lendo Brasil não vai ao cinema e desaprende a falar de si→
Pensei em mil formas de começar esse texto, mil não, talvez umas três ou quatro para ser mais honesto com você que demonstra paciência em ler neste momento de pandemia, caos político, interno, externo e talvez interplanetário. Pensei, escrevi umas palavras, passei um café médio na cafeteira italiana que ganhei de um amigo ano passado – ele me deu também uma faca excelente – voltei, li e meti o dedo indicador no backspace para voltar à estaca zero. Continue lendo Distraídos venceremos, ou não→
Saltou a grade de proteção e recebeu de fora a sacola. Olhou para cima e viu a luz piscando no topo da estrutura de metal ainda antes de cortar o sinal daquela célula incendiando os equipamentos em sua base. A operação havia sido rápida e fácil, mas, soube que, não longe dali, outra pessoa escalou trinta metros e ateou fogo diretamente nos radiotransmissores 5G, bem próximo a cabos eletrificados de alta tensão. Continue lendo 5G e Covid-19: das teorias da conspiração ao domínio da infraestrutura de vigilância→
Como pensar um futuro pós pandêmico quando a própria condição de pandemia é negada ou subestimada nas redes? Talvez o futuro seja um esgarçamento das tendências do presente. A perda perceptiva, o distanciamento e a desinformação por hiperinformação são marcas do contemporâneo em esgarçadamento. Grupos – ou enxames digitais – que oligopolizam mecanismos de “shitstorm” amplificam a crise e colonizam o futuro. Eles têm na velocidade uma estratégia determinante. A ação das tempestades de acusações, informações, escândalos, hashtags e desinformação ocorrem de forma sucessiva, rápida, impedindo reflexão e produção de respostas. A catatonia e a espetacularização passiva da política e do mundo é função direta da velocidade desse motor informacional. Tragados por um looping perpétuo de discussões inócuas, aceleradas pelas redes que negam a gravidade do presente pandêmico, o que resta é o esgarçamento da própria pandemia.Continue lendo O pós-pandêmico é atual pandêmico: por imaginários desgovernados→
No Brasil e nos Estados Unidos, a extrema direita alternativa e populista continuará utilizando a desinformação e o desvirtuamento dos fatos para destruir as possibilidades de debate racional sobre a ideia de renda mínima. A desinformação não é fundada apenas nos exageros, equívocos ou na irresponsabilidade pública. Trata-se da principal estratégia do novo reacionarismo e do neofascismo denominado por muitos pesquisadores de populismo de direita. Os chamados Nrx, os neo-reacionários, continuarão investindo na doutrina anti-igualitária presente no texto Dark Enlightenment, do filósofo inglês Nick Land.Continue lendo As duas pandemias e o novo normal→
Uma característica comum a todos os povos indígenas é o vínculo com suas terras ancestrais. A terra é parte fundamental na concepção da identidade coletiva desses povos e da própria identificação individual pela qual as pessoas se definem como índios. Dessa forma, o acesso à terra é imprescindível para a manutenção da coesão social, para a plena manifestação cultural e dos modos de vida tradicionais. Nas últimas décadas, o reconhecimento do direito à terra para os povos indígenas tem sido consolidado em diversos estados-nação baseando-se na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de 1989, que trata dos Povos Indígenas e Tribais, e reforçada posteriormente pela Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007. Continue lendo Assegurar o direito à terra é essencial para proteger a rica diversidade cultural e biológica dentro das Terras Indígenas→
O mundo que sairá da crise será, como sempre, resultado da luta política. Se de fato valorizamos um ordenamento político democrático, será preciso investir na redução das desigualdades, na ampliação da educação política, na desprivatização do poder de influência e na desmercantilização da vida, sem as quais uma democracia autêntica não pode florescer. São lições que a crise atual parece nos ensinar. Mas, como sempre, uma coisa é o que a história ensina. Outra é o que a humanidade aprende.Continue lendo A democracia sobrevive ao vírus?→
Confinamento e distanciamento interpessoal impostos pela peste são uma violentação antropológica com a qual teremos de conviver. Seremos obrigados a recriar nossas formas cinésicas e proxêmicas específicas, as brasileiras, de relacionamento. Ao mesmo tempo, tenho birra com a expressão “distância social”: adoto a distância física, mas com envolvimento social. A própria opção pelo isolamento é, neste momento, signo de solidariedade. O problema é que o país, empurrado por um governo destrambelhado e criminosamente irresponsável, mergulhou em estado de desorientação nacional. Diante da peste, surge em todo o mundo uma fantasia compensatória: a velha conversa de que a tragédia é véspera de uma nova e melhor humanidade, mais limpa, mais justa, mais fraterna. Não consigo acreditar nisso.Continue lendo Figuras em busca do azul→
Além de sofrer a ameaça fatal da pandemia, o brasileiro é vítima da irresponsabilidade de autoridades e da mais danosa degradação institucional. Só vai atravessar a difícil e tormentosa jornada da pandemia não apenas quem não for aleatoriamente colhido pelo vírus, não apenas quem souber se cuidar com total respeito e carinho pela vida, mas, também quem conseguir temperar as energias físicas e mentais sem ser consumido pelas pesadas cargas emocionais e psicológicas emanadas por realidade incontrolável e pelas forças tradicionais que exploram a nossa sociedade. Decididamente só vai sobreviver mesmo, em condições de atuar no presente e no futuro, quem não surtar durante todo esse período de brutal instabilidade e caótica transformação.Continue lendo É preciso sobreviver sem surtar→