Por Letícia Guimarães
As inovações tecnológicas com foco no uso inteligente da energia estão na mira tanto de estudantes, que observam as demandas do mercado, quanto de avaliadores de startups para projetos colaborativos ou de incentivo. Três projetos para aproveitar a eletricidade com mais eficiência foram destaque recentemente na Unicamp, com o desafio SmartCampus, proposto pela prefeitura da universidade e pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec).
De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), divulgados recentemente, em 2014, 2015 e 2016, o desperdício de energia custou R$ 61,7 bilhões. O estudo informou ainda que o potencial de economia no triênio é equivalente a 1,4 vezes toda a produção de Itaipu em 2016, ou seja, seria o mesmo que desligar a usina por mais de um ano. No ano passado, com o potencial de economia estimado, seria possível abastecer cidades do tamanho de Mogi Mirim ou Bragança Paulista.
Assim, as inovações tecnológicas com foco no uso inteligente da energia estão na mira tanto de estudantes, que observam as demandas do mercado, quanto de avaliadores de startups para projetos colaborativos ou de incentivo. Três projetos para aproveitar a eletricidade com mais eficiência foram destaque recentemente na Unicamp, com o desafio SmartCampus, proposto pela prefeitura da universidade e pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec).
Um dos finalistas do desafio, o Projeto Gaia, propõe uma tecnologia capaz de monitorar à distância problemas na iluminação pública, e ganhou destaque também em outros eventos. A ideia demorou dois anos para ser amadurecida, segundo um dos integrantes, Paulo Garcez da Luz. Além dele, a invenção foi criada por Mauricio Martins Donatti, Lucas Amorim Salvador Astini, André Felipe Suzano Massa e Sírius Roberto da Costa Gomes.
Os alunos pensaram na criação e implantação de uma rede de sensores voltada à internet das coisas (IoT), que inclui o controle de ativos de iluminação pública para o chamado “campus inteligente” (smart campus). De acordo com Garcez da Luz, foi desenvolvido um hardware, que é unido à luminária, e envia via internet informações sobre defeitos na lâmpada, tempo de uso ou acionamento e desligamento para um sistema. Além disso, o sistema possibilita a elaboração de relatórios de funcionamento e apresenta os dados em tempo real.
A ideia inicial surgiu em 2015, segundo Luz, quando as prefeituras tiveram que assumir a responsabilidade pela iluminação pública. “As prefeituras geralmente não têm equipe de manutenção ou sistema de call center voltado para essa área. Vimos isso como uma oportunidade de desenvolver uma tecnologia com baixo custo para facilitar esse trabalho, e pensamos em comercializá-la”.
Atualmente, se as luminárias apresentam problema, ficando acesas durante o dia ou desligadas à noite, por exemplo, é necessário que alguém comunique a central responsável pela iluminação. “Enquanto isso não ocorre, o defeito continua. Um sistema que avisa esse tipo de situação permite que o reparo seja feito rapidamente”, diz Luz.
Hader Aguiar Dias Azzini, aluno de doutorado da Feec, desenvolveu um aparelho, conectado via internet a um software, que pode detalhar quanto cada aparelho instalado no imóvel consome de energia. Segundo ele, a expectativa é que as empresas que adotarem o sistema economizem até 40% em eletricidade.
Com a invenção, que chegou à fase final do concurso Empreenda Santander 20K7, o consumo elétrico aparece esmiuçado, como se fosse uma conta de telefone, mostrando quais aparelhos ficaram ligados, por quanto tempo, e quais desperdiçam energia.
As lâmpadas acesas durante o dia, em ambientes ricos em iluminação natural, é o foco de trabalho do grupo de alunos da Feec, composto por Enrico Oliveira Rocheti, Lucas de Luca, Pedro Dedin Neto, Victor Marques de Souza Cardoso e Diogo Schuarz.
A motivação para a elaboração de uma tecnologia que controlasse a intensidade de iluminação da lâmpada de acordo com a luminosidade do ambiente partiu justamente do gasto excessivo nas contas de luz de grandes instituições, como a Unicamp, com o desperdício e os impactos ambientais envolvidos.
“O projeto surgiu a partir de uma palestra na Feec, realizada pela prefeitura da Unicamp, propondo o Desafio SmartCampus. Nos reunimos e pensamos que essa ideia do controle de luminosidade seria algo possível com os nossos conhecimentos, e que poderia gerar redução direta no consumo de energia”, explica Rocheti.
O projeto foi desenvolvido em três meses, e apesar de ter sido pensando para a universidade, é uma tecnologia que possibilita a aplicação em outros ambientes, como empresas e prefeituras, conforme explica Rocheti. “Até em ambientes externos a implementação é possível. Por exemplo, quando as lâmpadas de iluminação pública se acendem às 18h com potência total, quando não é necessário”.
Utilizando o conceito de IoT, a tecnologia conta com dispositivos que controlam a potência da lâmpada, ajustando a intensidade de acordo com a luz natural no ambiente. Funciona como um medidor inteligente, que exibe ao usuário dados de consumo de uma determinada lâmpada durante o dia.
O controle da iluminação é feito por um aplicativo web, pelo qual é possível administrar oito lâmpadas ao mesmo tempo, equivalentes a uma sala de 40m². Por meio desta ferramenta, é possível alternar entre os modos manual, no qual o próprio usuário escolhe a potência da lâmpada, ou automático, em que o controle inteligente da potência é realizado através da medida de sensores presentes no ambiente.
“Já é possível apresentar resultados para a comunidade mesmo sem um projeto muito grande. Estimamos que, por exemplo, se só a Feec tivesse cem salas de aula com esse dispositivo, a economia seria de cerca de R$ 200 por mês. Se fosse aplicado na universidade toda, imagine a economia?”, finalizou.