Por Antonio Cerdeira Pilão
Este artigo apresenta algumas reflexões sobre a pesquisa de campo realizada no mestrado e no doutorado entre 2011 e 2017 no Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O termo poliamor, criado nos anos 1990 nos Estados Unidos[1], refere-se à possibilidade de estabelecer múltiplas relações afetivo-sexuais de forma concomitante, consensual e igualitária. É possível classificar três modelos básicos de relação poliamorista que se dividem em “abertas” e “fechadas”. Isto é, no primeiro caso, há a possibilidade de novos amores e, no segundo, temos a “polifidelidade”, ou seja, a restrição das experiências amorosas:
1-“Em grupo”. Quando mais de duas pessoas têm relações amorosas entre si;
2- “Rede de relacionamentos interconectados”. Quando cada poliamorista tem mais de um relacionamento em casal, ou seja, os parceiros de uma pessoa não o são entre si;
3- “Mono/poli”. Quando um dos parceiros tem mais de um relacionamento e o outro, por opção, limita-se a um único parceiro.
O poliamor é uma alternativa à monogamia que não se restringe à defesa da não-exclusividade sexual, afirmando ser possível amar a mais de uma pessoa e manter mais de um relacionamento ao mesmo tempo. O surgimento do poliamor, no final do século XX, relaciona-se com uma série de transformações no âmbito da sexualidade, tais como a intensificação de um ideário igualitário de conjugalidade; a institucionalização e a disseminação do divórcio que favoreceu a flexibilização dos arranjos conjugais[2]; e o aumento da legitimidade das relações conjugais entre pessoas do mesmo sexo.
Quando, em maio de 2011, iniciei a pesquisa de dissertação, não conhecia os termos “poliamor”, “poliamorista” e “compersão”[3], categorias estruturantes da visão de mundo dos meus atuais pesquisados. Nesse sentido, os “poliamoristas”, mesmo fazendo parte da minha sociedade, eram um grupo desconhecido, exótico e que me surpreendia em função do emprego de neologismos, de símbolos e bandeiras “poli”, da organização de grupos com fins políticos e ainda por suas práticas e ideais de relações bissexuais em grupo.
No momento inicial da pesquisa, fui dominado pelo estranhamento. Sem compreender suas categorias, sentia ter encontrado um grupo perfeito para a realização de uma pesquisa antropológica em seu sentido mais tradicional, diferente de tudo aquilo que conhecia. No entanto, com o andamento da pesquisa, ao me aproximar dos discursos dos pesquisados e estabelecer conexões com outras práticas conjugais, esse distanciamento foi rompido, dando espaço a uma crescente familiaridade com as formas de ver o mundo de poliamoristas.
Até conhecer os poliamoristas, pensava no amor como um vínculo restrito a um casal, por isso não considerava a possibilidade de uma união consensual entre três ou mais pessoas. Dessa forma, busquei encontrar casos semelhantes fora do grupo e fui percebendo que não era uma ideia tão inovadora e surpreendente assim. Até mesmo porque antropólogos do século XIX, como Lewis Morgan e Johann Bachofen, acreditavam então que a monogamia era uma invenção histórica recente que teria sido precedida pela promiscuidade, pelo casamento em grupo, pela poliginia e pela poliandria. No Brasil, segundo Gilberto Freyre (1987), não seria a monogamia, mas a poliginia típica de um regime patriarcal e escravocrata que constituiria nossas raízes culturais.
Além de inúmeras referências antropológicas de sociedades com práticas sexuais e estruturas familiares não-monogâmicas, tornou-se evidente que havia aspectos comuns entre o poliamor e outras práticas contemporâneas mais conhecidas como o swing (troca de casais) e o “relacionamento aberto”. Desse modo, também foi por meio do reconhecimento de semelhanças com práticas antigas e contemporâneas que fui destituindo o caráter de exotismo que permeava minha visão sobre o tema.
É possível afirmar que, ao longo da pesquisa, segui um processo semelhante ao descrito por Roberto DaMatta (1978) de transformação do exótico em familiar. Iniciei privilegiando diferenças, considerando os poliamoristas “exóticos”, “inovadores” e “revolucionários”. No decorrer da pesquisa passei a reconhecer semelhanças, familiaridades e regularidades, conectando seus valores e práticas ao contexto histórico e percebendo que fazem parte de uma série de transformações mais amplas no âmbito da conjugalidade e da sexualidade.
O primeiro contato face-a-face que tive com poliamoristas foi em julho de 2011, no XII Poliencontro do Rio de Janeiro. O objetivo desse encontro foi reunir adeptos e debater sobre suas vidas amorosas fora do espaço virtual. Recebi o convite de um dos organizadores a quem eu já havia me apresentado por e-mail e que se tornou meu principal interlocutor, determinante no processo de familiarização com o grupo pesquisado.
Foi importante ao longo da pesquisa considerar, como sugeriu Shulamit Reinharz (2011), que não é apenas o pesquisador quem observa, constrói significados e dá sentido aos pesquisados, já que esses também “pesquisam” o pesquisador. Considerar os pesquisados “pesquisadores”, “teóricos” ou “especialistas” parece fazer ainda mais sentido em função do elemento que constitui o poliamor como grupo ser justamente o “saber” que detêm sobre o amor. Os poliamoristas organizam-se em função de uma “verdade” sobre as relações conjugais que acreditam não ser de amplo conhecimento público, uma vez que, para eles, os “monogâmicos” viveriam em um estado de alienação amorosa profunda. Desse modo, em oposição, os poliamoristas ocupariam uma posição de poder/saber superior, já que são aqueles que verdadeiramente compreendem o porquê do fracasso dos relacionamentos na contemporaneidade e que têm o segredo para o seu sucesso.
Nos contatos presenciais foi um grande desafio afirmar-me como pesquisador: como pesquisar um grupo que é detentor da verdade sobre uma esfera da vida social? O que eu poderia dizer que não o que eles já diziam sobre si mesmos e sobre o “mundo monogâmico”? Em suma, eram eles que deveriam ensinar e eu aprender. Essa leitura fez sentido inicialmente, já que meu principal objetivo era compreender a visão de mundo deles. Mas como tinha contato com várias opiniões discordantes, percebi tentativas de desmerecer visões concorrentes. O lugar que ocupava de pesquisador/autor, que serviria como uma forma de distinção sobre os interlocutores, mostrou-se de difícil sustentação, já que as únicas autorias tidas como legítimas eram as deles próprios.
Um desafio ainda maior era como me posicionar pessoalmente sobre o tema. Nos contatos, eu era permanentemente requisitado a dizer de que lado estava. Por mais que tentasse construir uma argumentação afirmando que apenas queria entender o ponto de vista deles, não era suficiente, recebendo como respostas: “Mas e aí, você é a favor ou contra?” e “Você é monogâmico ou poliamorista?”. Essa última pergunta, em especial, parecia uma armadilha, porque se, de um lado eu não me reconhecia como “poliamorista” e achava importante marcar o meu lugar de pesquisador e não de membro do grupo, por outro não me identificava como “monogâmico” e via nessa posição o risco de ser reconhecido como um “inimigo”. Busquei relativizar as perguntas, dizendo que não era nem uma coisa nem outra, o que não resolvia o problema, porque a minha atitude poderia parecer uma forma de deslegitimar a identidade deles.
Um dos momentos em que percebi que o grau de familiaridade com o poliamor tornara-se significativo foi em 2012, quando em uma viagem a Porto Alegre conheci outro grupo não-monogâmico: a Rede Relações Livres (Rli). Num dos encontros para novatos promovidos pela rede, dentre outras atividades, apresentaram slides em que diziam quem eram e no que acreditavam. Uma das formas de apresentação era afirmando aquilo que eles não eram – e “poliamoristas” era uma dessas coisas. O ponto de tensão esteve nas razões que apresentaram para essa distinção, definindo o poliamor de uma forma bem diferente daquela como os poliamoristas se definem. Quando ouvi a percepção deles fiquei incomodado e com vontade de discordar, dizendo: “Escutem, eu estou estudando o tema e posso dizer que o que vocês estão falando sobre o poliamor não é verdade”. Mesmo desconfortável, não o fiz, analisando a controvérsia entre poliamoristas e Rlis sem a pretensão de hierarquizar as visões ou dizer qual delas é a mais “verdadeira”. Ainda que tenha optado por esse caminho, a vontade de ter me posicionado a favor da visão do grupo que pesquisava mostrou o grau de envolvimento e identificação que eu já tinha com o poliamor.
Sempre que falava sobre o tema com não-poliamoristas temia estar me tornando um representante do grupo, uma espécie de porta-voz de sua visão de mundo. Por mais que o que apresentasse não fosse exatamente a visão de nenhum poliamorista, estava compartilhando com o mundo a familiaridade que adquiri sobre um universo que para a maioria é exótico, assim como inicialmente era para mim. Em vista dessa proximidade, procurei me distanciar do grupo, pesquisando outras modalidades conjugais. Mas a problemática poliamorista, os questionamentos sobre a exclusividade e o reconhecimento da monogamia permaneceram como questões de reflexão, independentemente dos grupos que pesquisei.
A crescente aproximação com a visão de mundo poliamorista veio acompanhada pela constituição de laços de amizade através dos quais eu ouvia confidências sobre a vida amorosa de alguns interlocutores. Essa aproximação contribuía para a sensação de que havia perdido o distanciamento necessário para o bom andamento da pesquisa. Assim como Foote Whyte (2005), quando descreve a culpa que sentia por passar horas envolvido com os “rapazes de esquina” jogando boliche, temia que o meu envolvimento com os interlocutores superasse os objetivos de uma pesquisa de campo. Em parte, essa autocrítica era relativizada em vista da valiosa possibilidade de ouvir relatos sobre dramas cotidianos, de modo que hoje percebo a contribuição que tiveram na formulação da visão que construí sobre o poliamor. Também concluí que o desconforto com a proximidade do grupo é inevitável, já que o objetivo da pesquisa antropológica não é escrever sobre o “exótico”, preservando a distância, mas sobre o interminável movimento de transformação do exótico em familiar e do familiar em exótico, que consiste na incorporação do ponto de vista do outro.
Com a divulgação do resultado da dissertação houve um novo afastamento dos pesquisados que, finalmente, puderam ter contato com a minha visão do poliamor. Como imaginado, recebi críticas dizendo que o que vi “não era bem assim” e que determinados conflitos que relatei eram apenas aparentes, mas que na prática não existiam.
Até 2012, ano em que publiquei a dissertação de mestrado intitulada “Poliamor: um estudo sobre conjugalidade, identidade e gênero”, não havia nenhuma outra pesquisa empírica realizada sobre o poliamor no Brasil. No direito, o conceito de “poliamorismo” era utilizado para abordar vínculos conjugais concomitantes, mas era basicamente isso. Essa falta de diálogo com outros pesquisadores do meu país me levou a buscar pesquisas realizadas fora dele, sobretudo no Reino Unido, Portugal e Estados Unidos. Essa solidão contribuiu para que me sentisse um pesquisador de um grupo exótico, mas com a especificidade de ser da minha própria sociedade.
Recentemente essa dinâmica mudou significativamente, sendo muitos os contatos que recebo sobre monografias, dissertações e teses sobre o poliamor no Brasil. Há que se destacar o rápido e surpreendente aumento da visibilidade do tema. Se em 2011 e 2012 eram poucas as pessoas que afirmavam já terem ouvido falar em poliamor, em 2014 caminhou-se para uma inversão. A partir de um questionário aplicado em 2014 a 480 homens e mulheres com nível superior e moradores do Rio de Janeiro, verifiquei que 90% dos mais jovens entre 20-29 anos e 45% dos mais velhos, entre 40-59 anos, afirmavam ter conhecimento do termo.
Dentre as razões para tão rápido e significativo aumento está o reconhecimento em cartório da primeira união poliamorista[4], que gerou grande repercussão pública e favoreceu um interesse crescente dos meios de comunicação. Eu mesmo fui convidado a dar entrevistas e participar de programas e debates na mídia.
Nos anos anteriores, o desconhecimento e a curiosidade sobre o tema fizeram com que boa parte das minhas apresentações em congressos e eventos acadêmicos se limitasse a explicações sobre o que era o poliamor e o que diziam os poliamoristas. Novamente, quando me via nesses ambientes, apresentando a visão de mundo poliamorista e diante das surpresas e espantos dos meus pares acadêmicos, a minha ligação de familiaridade com meus nativos era reacesa. No momento das apresentações, vendo a surpresa estampada em seus rostos, era como se ela fosse direcionada a mim e, tomado por essa solidão e pelo objetivo de normalizar o poliamor, me identificasse mais uma vez com os poliamoristas.
Embora as surpresas tenham diminuído em função do aumento do conhecimento sobre o tema, é interessante destacar a forma como a minha pesquisa foi recebida no mundo acadêmico. O interesse foi desde o início bem expressivo, gerando certo frisson nas apresentações que suscitavam inúmeras perguntas, pedindo mais e mais detalhes. Havia também um curioso desconforto com o tema, de modo que vi inúmeros antropólogos irritados, irônicos e incrédulos quando apresentava o ponto de vista dos poliamoristas: “Quanta pretensão se acharem superiores”, “Mas e os ciúmes?”. Quando explicava o conceito de “compersão”, oposto ao ciúme, mesmo com um semblante sério, sempre percebia risos dos ouvintes. Por outro lado, não era incomum que alguns viessem conversar comigo, contando histórias análogas a de poliamoristas, mostrando admiração por sua ideologia e incompatibilidade com a monogamia. Favoráveis ou contrários, fui surpreendido pelo fato de o poliamor ter suscitado mais debates morais do que teóricos, mantendo a polêmica tradição dos estudos antropológicos sobre a monogamia, a poligamia e a promiscuidade, desde o século XIX.
Em contraposição à recepção de acadêmicos, é perceptível uma maior valorização e entusiasmo com o tema pela mídia. Em geral, ressaltando que vivemos uma nova mentalidade, mais livre de preconceitos, onde “todas as formas de amor” são ou devem ser aceitas.
Talvez a contribuição dessa pesquisa para o aumento da visibilidade do poliamor tenha favorecido uma mudança na relação com os interlocutores. Se ao longo da pesquisa o único saber legítimo era o deles, com a conclusão da dissertação passei a ser reconhecido como uma referência e ser inclusive citado por eles para afirmarem o seu próprio ponto de vista. Como parte dessa mudança, em novembro de 2014 fui convidado pela Rede Pratique Poliamor Rio de Janeiro[5] a realizar uma palestra sobre poliamor para poliamoristas e, surpreso, os vi ocupando pela primeira vez uma posição de aprendizes.
É importante considerar os efeitos das inúmeras transformações em curso nesses seis anos de pesquisa (2011-2016). Primeiramente, destaca-se a mudança de posição do pesquisador, que na dissertação partiu de um lugar de “exotismo”, de completo desconhecimento sobre o tema, passando, na tese, a ocupar uma posição de maior “familiaridade”, escrevendo já como uma das referências do campo. Também importantes foram as mudanças nas redes de poliamoristas e o aumento da visibilidade, da cobertura na mídia e do número de pesquisadores interessados no tema, questões que serão aprofundadas em outro momento.
Antonio Cerdeira Pilão é doutorando em antropologia no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: tonipilao@gmail.com
Referências bibliográficas
Damatta, R. – “O ofício de etnólogo, ou como ter ‘ anthropological blues ‘”. In: Nunes, E. de O. (org.) – A Aventura sociológica ; objetividade, paixão, improviso e método na pesquisa social. Rio: Zahar, 1978.
Freyre, G. [1933]. Casa-grande & senzala. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
Heilborn, M.L. Dois é par: gênero e identidade sexual em contexto igualitário. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
______________. “Vida a dois: conjugalidade igualitária e identidade sexual” In: Anais do VIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais. São Paulo, p. 143-156, 1992.
Reinharz, S. Observing the observer; understanding ourselves in field research. New York e Oxford: Oxford University Press, 2011.
Pilão, A. “Poliamor e monogamia: construindo diferenças e hierarquias”. Ártemis, vol. 13, jan-julho 2012, pp.62-71.
______________.” Entre a liberdade e a igualdade: princípios e impasses da ideologia poliamorista”. Cadernos Pagu, Campinas, SP, n. 44, p. 391-422, jun. 2015.
Vaitsman, J. Flexíveis e plurais: identidade, casamento e família em circunstâncias pós-modernas. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
Whyte, W. F. [1943] – Sociedade de esquina: a estrutura social de uma área urbana pobre e degradada. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
[1] Ver Antonio Pilão (2012 e 2015).
[2] Ver Maria Luiza Heilborn (1992, 2004) e Jeni Vaistman (1994).
[3] O neologismo refere-se à satisfação gerada quando o parceiro ama e/ou é amado por outros.
[4]A união em grupo citada, apenas tornou-se pública no dia 21 de agosto de 2012, sendo divulgada no site do Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM). Nos dias 22 e 23, respectivamente, foi divulgada no Correio Braziliense e no Globo. Ver: http://www.ibdfam.org.br/novosite/imprensa/noticias-do-ibdfam/detalhe/4862 ; http://www.correiobraziliense.com.brapp/noticia/politica-brasil-economia/33,65,33,12/2012/08/22/interna_brasil,318640/uniao-afetiva-entre-tres-pessoas-e-oficializada-em-escritura-publica.shtml e http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2012/08/uniao-estavel-entre-tres-pessoas-e-oficializada-em-cartorio-de-tupa-sp.html.
[5] A Rede Pratique Poliamor Brasil foi criada por lideranças poliamoristas, em 2011, com o objetivo de unificação e de transformação do poliamor em um movimento social. A definição utilizada pelo grupo foi: “Pratique Poliamor Brasil é uma rede de apoio, conhecimento e militância”. Esses poliamoristas acreditam que não se deve restringir a prática do poliamor ao âmbito privado, por isso buscam aumentar sua visibilidade e romper com os significados negativos da prática, possibilitando que todos aqueles que não se adequam à monogamia tenham um caminho legítimo. Entre os anos de 2011 e 2012, a rede esteve distribuída em duas coordenações, a do Rio de Janeiro e a de São Paulo. Em 2017, sua manutenção se restringe ao Rio de Janeiro.