Por Fabíola Mancilha Junqueira
Lançado em abril, o Dicionário dos negacionismos no Brasil (Editora Cepe) figurou entre os cinco mais vendidos pela Amazon na categoria jornalismo. Organizado por José Szwako, professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e José Luiz Ratton, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, o dicionário conta com 112 especialistas brasileiros e internacionais na discussão dos verbetes.
Os organizadores introduzem o tema destacando o aumento da visibilidade da ciência brasileira, na agenda pública, em decorrência da pandemia da covid-19, sendo possível encontrar, no ambiente virtual, cidadãos de diversas regiões expressando comentários e opiniões sobre instituições e autoridades do meio acadêmico – tema antes à margem das discussões cotidianas. Entre os comentários há aqueles que defendem os benefícios da produção de ciência nos âmbitos sociais, econômicos, ambientais e também os que falsificam evidências e negam consensos científicos. Um dos objetivos da publicação é apresentar o conteúdo em textos curtos e com linguagem não hermética, de forma acessível ao leitor não especializado.
Durante a live de lançamento o professor José Szwako comparou o fenômeno do negacionismo a uma “cola” que envolve e agrupa diversos temas sensíveis à sociedade, como as questões de gênero, racismo, sociedade patriarcal, movimentos antivacina e movimentos da extrema direita. Os participantes do encontro virtual também discutiram a estratégia política intencional presente nos discursos negacionistas, revestidos de aparente despretensão.
A obra conta com especialistas de diversas áreas como antropologia, medicina, jornalismo, sociologia, e de instituições de referência como o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Ipea, Fioruz, London School of Hygiene and Tropical Medicine e universidades públicas brasileiras. São discutidos verbetes como agronegócio, água, comunicação pública, necropolítica, pseudociência, pós-verdade, Amazônia, indígenas, religião, racismo, SUS, terraplanismo, tortura, universidade e guerras da ciência.
Além de ser um material que possibilita o diálogo entre grupos sociais, o dicionário também pode ser considerado um registro do cenário atual brasileiro, e uma referência de consulta sobre o tema, já que trata de diversos tipos e formas de negacionismos, sob perspectivas distintas, abarcando os múltiplos aspectos desse fenômeno tão complexo.
Dicionário dos negacionismos no Brasil (2022) Organização: José Szwako e José Luiz Ratton Editora Cepe 366 páginas
Fabíola Mancilha Junqueira é formada em psicologia (FMU), com mestrado em psicologia clínica (PUCSP). Aluna da especialização em jornalismo científico (Labjor/Unicamp)