Expansão dos parques eólicos em direção ao mar pode ajudar país a suprir demanda energética

Expansão dos parques eólicos em direção ao mar pode ajudar país a suprir demanda energética

Por Júlia Ramos de Lima 

A energia eólica, opção renovável e de geração limpa usada desde 1970, tem se expandido para o mar. De acordo com o relatório “Statistical review 2020” da multinacional BP (British Petroleum), as usinas offshore ao redor do mundo chegaram a uma capacidade instalada de 28 GW (o dobro da usina hidrelétrica de Itaipu, por exemplo, que tem 14 GW).

A participação de fontes renováveis na matriz energética mundial é considerada pela Agência Internacional de Energia (AIE) como essencial para que as metas do Acordo de Paris sejam atingidas. Como explica Segen Estefen, professor de engenharia oceânica da Coppe UFRJ, a instalação e investimento em parques eólicos offshore – em conjunto com outras energias renováveis – permitiriam ao Brasil não apenas ser menos dependente de combustíveis fósseis, com exportar energia no futuro.

A principal vantagem dos parques offshore é a qualidade dos ventos. “Quando o vento chega perto da terra ele sofre interferências do relevo, como obstáculos, e fica menos regular, menos uniforme. No mar você tem um vento com maior velocidade e mais regular, o que é bom do ponto de vista da geração”, aponta Alexandre Simos, professor do Departamento de Engenharia Naval da USP.

O primeiro parque eólico offshore foi um projeto piloto construído da Dinamarca em 1991 para avaliar a viabilidade da produção de energia no mar, e desde então outros países da Europa desenvolveram projetos bem consolidados. Atualmente, o Walney Extension, localizado no mar da Irlanda, é considerado o maior e mais potente parque eólico em funcionamento, com capacidade instalada de 659 megawatts e pode abastecer cerca de 590 mil casas.

No Brasil, de acordo com o relatório “Licenciamento Ambiental Federal de Complexos Eólicos Offshore” existem três processos ativos em fase de licitação abertos no Ibama: o Asa Branca I e o Caucaia (ambos no Ceará), e uma planta piloto da Petrobrás no Rio Grande do Norte, com capacidade de 720MW, 310MW e 7MW, respectivamente. A usina Asa Branca I deve começar a operar em 2025, sendo a primeira a entrar em funcionamento no Brasil.

Assim como nas turbinas encontradas em terra, os aerogeradores das fazendas offshore geram energia ao converter a energia cinética do vento (que move as pás da hélice) em eletricidade. Algumas diferenças são o tamanho e o modo de fixação.

Segundo Segen, os equipamentos no mar são maiores que aqueles em terra. “Só no mar é possível instalar aerogeradores com dimensões tão grandes, da ordem de 150 a 200 metros. Há maior necessidade de engenharia para acompanhar a operação desses grandes geradores, mas em contrapartida eles podem produzir muita energia”.

As imensas turbinas são fixadas diretamente no fundo do mar ou montadas sobre um casco flutuante (de metal ou concreto) ancorado no fundo do mar. O professor Alexandre explica que a turbina é escolhida de acordo com a profundidade em que vai ser instalada. “Até 50 metros de profundidade a turbina fixa é economicamente mais interessante, mas se você precisar estender seu parque ou se ele estiver em um local de maior profundidade, aí as turbinas flutuantes passam a ter vantagens econômicas”, diz.

Desafios

Apesar das vantagens na geração de energia, para planejar uma instalação no mar é necessário levar em conta como essas turbinas afetam o ambiente. Os impactos (que envolvem ruídos, emissão de campos eletromagnéticos criados pelos cabos que transportam a eletricidade de volta para a costa e modificações no substrato marinho e ambientes ao redor) afetam atividades econômicas, rotas de navegação e a vida marinha.

Daí a importância de realizar estudos de impacto ambiental. “Não basta levar a fazenda para dentro do mar e achar que está tudo resolvido, há outros impactos para serem estudados e mitigados na medida do possível”, diz Alexandre.

Outra desvantagem desse tipo de usina são os altos custos da construção, instalação e manutenção dos parques eólicos. Apesar disso, Alexandre defende a importância desse tipo de investimento e em pesquisas na área como forma de manter o país tecnologicamente atualizado e competitivo economicamente.

“Precisamos nos antecipar, conhecer as tecnologias, ter condições de trabalhar com elas e desenvolver projetos previamente, para que quando houver o interesse industrial e comercial, já tenhamos knowhow para colaborar com esse tipo de projeto”.

Júlia Ramos de Lima é bióloga e aluna do curso de especialização em jornalismo científico (Labjor/Unicamp).