Por Rogério Monteiro
Fama, reconhecimento no campo científico, financiamento e poder não são coisas que se separam facilmente. E não há como não se enroscar nessa rede quando comemoramos os experimentos em solo brasileiro do eclipse solar de 29 de maio de 1919. Há certamente uma tentativa de transferência de reconhecimento científico, simbólico, entre o grande nome da física do século XX, o Brasil e seus astrônomos.
Personalidade do século. Foi assim que a prestigiosa revista americana Time definiu o físico Albert Einstein em sua edição de 29 de dezembro de 1999. Em uma paleta de cores que vai do preto do fundo da fotografia ao branco de sua imensa, platinada e desalinhada cabeleira, que brilha com a editoria de luz do fotógrafo de personalidades Philippe Halman, o retrato de Einstein ocupa completamente a capa do periódico contrastando com o tom vermelho de suas bordas e do seu título.
No ranking da revista, Einstein ultrapassa em importância o pacifista Mahatma Gandhi, o político Franklin Roosevelt ou uma série de artistas como a banda de rock The Beatles. Personagens de difícil comparação, é preciso dizer. Tudo se passa como se as baladas de rock inventadas pelos Beatles fossem objetos de mesma ordem que as teorias desenvolvidas pelo cientista que previam a deflexão da luz causada pela gravidade. São produtos diferentes. Enquanto na arte procura-se não copiar, nas ciências muita gente trabalha sobre as mesmas coisas, com as mesmas técnicas. O matemático alemão David Hilbert, por exemplo, também procurava as equações da relatividade. Quase as descreveu antes de Einstein[1]. Foi Arthur Eddington que planejou e coordenou os experimentos sobre a deflexão da luz, não Einstein. Dessa perspectiva, a demonstração e validação de um conjunto de fórmulas sobre o funcionamento do universo parece ser um empreendimento mais colaborativo do que pessoal. Mesmo reduzindo o ranking a somente cientistas, ainda é difícil estabelecer um modo de comparar mais orgânico. Difícil imaginar que a teoria da relatividade tem maior impacto na vida cotidiana das pessoas do que a penicilina, substância descoberta pelo biólogo escocês Alexander Flemming, que também consta na lista.
Trata-se, portanto, de um feito impressionante de Einstein, sobretudo porque a maioria dos seus trabalhos é constituída por conceitos físicos sofisticados e por difíceis cálculos que somente podem ser lidos após anos de treinamento em matemática, física e astronomia. Diz o ditado popular que o diabo está nos detalhes. Einstein sabia disso. Em seu livreto de divulgação científica A teoria da relatividade especial e geral, de 1916, ele diz: “Já os fundamentos físicos empíricos da teoria, conscientemente tratei-os com negligência, para evitar que o leitor menos familiarizado com a física fizesse como aquele caminhante que, de tantas árvores, não conseguiu enxergar a floresta”[2]. Decorre daí a pergunta dos ovos de ouro que todo cientista gostaria de responder: Como tornar-se imprescindível para um público que não compreende o que você escreveu?
A pergunta não se restringe a saber como se tornar conhecido para além do meio científico, mas como transformar todo esse capital simbólico em vantagens materiais: conseguir uma posição em um centro de pesquisa importante, publicar em periódicos internacionalmente reconhecidos, pautar as pesquisas de sua área, ser peça chave nas políticas científicas do Estado, dirimir grandes questões públicas que envolvem sua área de expertise, conseguir mais verbas para o seu laboratório e para os seus alunos. Einstein parece, a todo tempo, sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial, imiscuir-se em assuntos globais: muda de nacionalidade, defende a causa judaica, participa de grupos pacifistas, fala com presidentes.
Fama, reconhecimento no campo científico, financiamento e poder não são coisas que se separam facilmente. E não há como não se enroscar nessa rede intricada de fatores quando comemoramos os experimentos em solo brasileiro do eclipse solar de 29 de maio de 1919. Há certamente uma tentativa de transferência de reconhecimento científico, simbólico, entre o grande nome da física do século XX, o Brasil e seus astrônomos. Os usos locais desse reconhecimento e as dificuldades desse processo de transferência serão o mote deste ensaio.
Quando as classes ilustradas brasileiras querem saber de astronomia
Sabe-se que Einstein levou 8 anos, de 1907 a 1915, para desenvolver a teoria geral da relatividade e suas equações. Seus artigos “As equações de campo da gravitação”, de 1915, e “Os fundamentos da teoria da relatividade geral”, de 1916, foram o ponto de inflexão desse processo. Mas por conterem a linguagem bastante carregada do cálculo tensorial, esses trabalhos não tinham como chegar até um público mais amplo. O próprio Einstein se ocupou em verter sua teoria em um texto que, segundo ele, pudesse ser acessível àqueles com “formação equivalente à do ensino médio”. O resultado da empreitada foi um pequeno livro de 1917, editado na Alemanha pela editora Vieweg, chamado “Sobre a teoria da relatividade geral e especial”.
A empreitada em si já indica um desejo da parte do físico, incomum entre cientistas, de estabelecer uma conversa com um público mais amplo. No que se refere ao seu texto de 1917, os esforços não foram muito eficientes. O jornalista João Ribeiro, em 12 de junho de 1921, em O Jornal, sugere aos seus leitores recorrerem a outros livros para aprender um pouco mais sobre a teoria da relatividade porque, para ele, o livro de Einstein e o livro Introdução à teoria da relatividade de W. Bloch, “ainda que se digam livros para leigos”, eram de difícil leitura. Ribeiro sugere uma longa lista de livros disponíveis no mercado naquele momento – em alemão em sua maioria[3]… Mesmo em 1925, no mesmo O Jornal, o engenheiro e médico Licínio Cardoso (1875-1926) dizia não compreender a teoria da relatividade após se debruçar sobre uma longa lista de obras. Havia, portanto, uma demanda por textos sobre relatividade para um público não especializado nos anos 1920.
Antes disso, não há tantos indícios desse mercado. Muitos historiadores tendem a afirmar que Einstein e a teoria da relatividade teve pouca ou nenhuma entrada entre leigos antes de 1920 tanto no Brasil quanto fora dele[4]. As traduções de seu livreto de divulgação começaram a aparecer justamente a partir desse ano: em inglês, em 1920, pela H. Holt & Co. de Nova York e pela Methuen & Co. de Londres; em 1921, em francês, pela Gauthier-Villars, em italiano, pela Nicol Zanichelli, e em japonês, pela Iwanami Shoten.
Os experimentos sobre o eclipse em 1919 parecem ter sido cruciais para essa virada. Tudo leva a crer que os livros não foram a razão da curiosidade pela teoria da relatividade, mas uma resposta a ela. O anúncio do Nobel em física pelo efeito fotoelétrico, anunciado em novembro de 1922, evidentemente contribuiu para isso, mas foi um fenômeno posterior às traduções. Mais livros aparecerão no mercado nos anos seguintes, sobretudo quando os livreiros franceses começarem a explorar melhor o rico flanco da teoria da relatividade para as classes ilustradas. A lista de livros lidos por Licínio Cardoso, repleta de traduções para o francês de autores alemães, é uma demonstração disso[5].
A centralidade das observações de 1919 aparece também nos jornais cotidianos brasileiros[6]. As primeiras menções à Einstein por aqui se deram justamente nesse contexto, pelas mãos de dois membros da comissão de astrônomos de Greenwich que foram a Sobral fotografar o eclipse: Andrew Crommelin e Charles Davidson. Os astrônomos ingleses escreveram um texto informativo sobre o eclipse e suas consequências para a teoria da relatividade, traduzido e publicado no jornal Estado do Pará em 20 de abril de 1919, depois replicado na Folha do Litoral de Camocim, Ceará, e no Jornal do Comercio do Rio de Janeiro. Como em um efeito cascata, outras menções sobre as três missões científicas que iriam a Sobral aparecem em jornais de São Paulo, Pernambuco e Maranhão.
O fato de ter sido contado ao lado de uma observação astronômica foi bastante útil à divulgação do experimento sobre a deflexão para as elites ilustradas brasileiras, dado que eclipses e cometas eram fenômenos celestes que normalmente movimentavam essas classes abastadas, transformando o processo praticamente em um evento social.
De fato, o eclipse de 10 de outubro de 1912 já havia sido mote de grande repercussão nos jornais brasileiros, envolvendo inclusive expedições científicas no território. Christina Barboza, em seu trabalho sobre as expedições astronômicas no Brasil, contabilizou pelo menos oito comissões que se ocuparam desse eclipse, três delas estrangeiras[7]. As previsões para esse eclipse indicavam que ele seria melhor observado na região central do país, e as comissões inglesa, francesa e brasileira acabaram por escolher Passa-Quatro, em Minas Gerais, como local de suas observações. Arthur Eddington e Charles Davidson, envolvidos nas observações do eclipse de 1919, vieram ao Brasil em 1912 para compor a comitiva inglesa. Já havia, portanto, certa experiência em organizar encontros entre comissões internacionais no Brasil e uma tradição de celebração pública de eventos astronômicos como esse.
Era também comum pensá-los como uma conquista civilizacional. Face ao eclipse, “homens ignorantes”, escreve o articulista do Jornal do Comercio de 27 de maio de 1919, “pensam que as divindades infernais vão destruir o deus benfazejo do Sol, e procuram se opor a isto fazendo toda a espécie de ruído, como o rufar de tambores, o bater de latas e o clangor das trombetas. O homem verdadeiramente civilizado, porém, não comete nenhum desses absurdos. Sabe ele que se trata de um fenômeno natural, obedecendo às leis eternas traçadas pela Providência, e cujo conhecimento habilita os homens de ciência a preverem, com todas as minudências, aquilo que parece ao vulgo misterioso prodígio”. Com a possibilidade de prever quando o processo começa e quando termina, a ciência portanto, é um ganho de progresso que distingue os homens civilizados dos ignorantes.
Não é à toa, portanto, que em 1912 a revista Fon-Fon fotografa a montagem dos equipamentos e a visita do presidente Hermes da Fonseca ao lado do astrônomo Milan Stefanik, da comissão francesa, em Passa-Quatro. Hábito de classe performático, tanto o presidente quanto o cientista francês têm a ganhar ao se deixarem fotografar pela revista semanal de grande circulação. O presidente apresenta-se como homem civilizado e o cientista acaba ganhando importância ao se ver ao lado do líder da nação, tendo ao redor toda a entourage presidencial, inclusive as suas esposas. As trocas econômicas, por sua vez, são registradas nos relatórios oficiais em letras miúdas: meses antes, o presidente da República havia liberado 70 contos de réis para atender às despesas das comitivas estrangeiras e autorizara a alfândega a liberar a passagem de todos os seus equipamentos e bagagens[8].
É justamente essa exploração mútua dos eventos astronômicos por políticos, cientistas e as classes abastadas – a interdependência da ciência, política e de um gosto de classe – que constituirão os ingredientes principais dos eventos de 1919 e da recepção da teoria da relatividade no Brasil nos anos 20. Se por um lado, o eclipse de 1919 e, sobretudo, a visita de Einstein ao Brasil em 1925 serão as ocasiões ideais para o convencimento do público de que era preciso investir em ciência pura no Brasil[9], divulgando exaustivamente o acontecimento e associando a ciência nacional ao nome de Albert Einstein, por outro, a estratégia arrastou para os jornais cotidianos as discussões técnicas que eram de difícil compreensão do público leigo. Os jornais se tornaram arena de debates científicos impossíveis de serem resolvidos tendo como participante uma audiência não especializada.
E o jornal, que tem ele a ver com astronomia?
A visita de Albert Einstein ao Brasil, em maio de 1925, demandou uma série de estratégias dos jornais locais para cobrir o evento. Passando os olhos nos periódicos, dia a dia, elas surgem como ações bem orquestradas. O caso de O Jornal, periódico de Assis Chateaubriand, na época um jovem editor de 32 anos, é exemplar da simbiose entre cientistas, poder público e os meios de comunicação.
Tendo planejado sua viagem para a América do Sul, Einstein deveria fazer uma parada rápida no Brasil em fins de março, seguir viagem para a Argentina e o Uruguai e, somente na volta, no começo de maio, parar no Brasil por uma semana para dar conferências no Clube de Engenharia, na Academia Brasileira de Ciências e na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
O hábil editor Assis Chateaubriand, cônscio desse calendário, organiza um verdadeiro espetáculo em torno da passagem de Einstein. No dia 13 de março de 1925, quando já se sabia que Einstein estava navegando para a América Latina, anunciou o aviador Gago Coutinho como seu novo articulista. Coutinho acabara de fazer a primeira travessia do Atlântico Sul por avião, em 1922, ocupando as páginas de O Jornal quase todos os dias naquele ano. Uma personalidade bastante conhecida, que iria fazer o papel de contraponto à Einstein. Coutinho atuará “fazendo crítica cerrada às teorias de Einstein sobre a relatividade”, diz o anúncio do editor.
No dia 17 de março, Coutinho faz a sua primeira crítica. No dia 21, data da parada no Rio de Janeiro do navio que levava Einstein a Buenos Aires, os jovens engenheiros Roberto Marinho, Theodoro Augusto Ramos e Lelio Gama defendem a teoria nas páginas do jornal. No dia seguinte, o próprio Chateaubriand publica uma longa matéria – uma espécie de diário de um dia na companhia do físico – bastante favorável à Einstein. O jovem editor orquestrava uma contenda nas páginas do seu periódico. Para o dia da volta de Einstein ao Brasil, em 6 de maio de 1925, ele havia guardado um outro texto crítico de Gago Coutinho.
Perguntado por Assis Chateaubriand, na matéria do dia 22 de março, se não haveria de agradecer ao céu brasileiro pela sua descoberta, respondeu Einstein: “O problema concebido pelo meu cérebro, incumbiu-se de resolvê-lo o luminoso céu do Brasil”. Einstein habilmente galanteia o céu brasileiro e o jornalista, simplificando bastante o processo de construção de credibilidade de sua teoria. Nessa perspectiva, bastaram sua teoria e o céu.
A historiografia tem insistido há muito tempo que um fato científico não se estabelece como verdade de uma hora para outra. Ele depende de uma série de negociações entre aqueles que o produzem e um público mais amplo[10]. Ocorre que quase sempre o evento científico é, em si, de caráter restrito e de difícil interpretação. É normalmente nesse interstício que entram em cena testemunhas habilitadas, dignas de confiança, e que tenham mais intimidade com as engenharias textuais construídas sobre o fato científico. Ou seja, entre aquilo que ele previu e a comprovação dos desvios dos raios solares pela gravidade do sol houve uma série de maquinações e problemas para se resolver e traduzir por astrônomos, jornais e seus articulistas, divulgadores e o próprio Einstein, que se disponibilizou a vir à América Latina divulgar seu trabalho. No caso de O Jornal, são chamados também os antagonistas.
Mas essa trilogia de Einstein nos jornais e os debates em torno da teoria já se esboçavam em 1919. Naquele ano, Eddington anotou em seu relatório sobre as observações do eclipse[11] que duas tentativas de comprovação da teoria haviam fracassado por problemas de mau tempo e por imprecisão nas medidas. Para controlar melhor os riscos, foi preciso encontrar um lugar onde o eclipse fosse total, onde fosse possível visualizar uma grande quantidade de estrelas, com baixa probabilidade de chuva e que tivesse condições técnicas de receber a comitiva de Greenwich. Ademais, as fotografias demandariam um cuidadoso manuseio dos equipamentos porque, já se sabia, o eclipse total não levaria mais do que 5 minutos e meio e a diferença de posição das estrelas que deveriam ser observadas era diminuta, algo como uma moeda de 1 centímetro posta a dois quilômetros de distância, segundo os jornais da época. Assim, entre a mente de Einstein e o céu brasileiro, havia um trabalho minucioso a se fazer[12]. Da parte do governo brasileiro, foram liberados 50 contos de réis para receber as comitivas estrangeiras, para a alegria dos astrônomos do Observatório Nacional.
Da perspectiva do público leigo, a redução de toda a teoria da relatividade ao problema da leitura de um conjunto de fotos de um eclipse foi realmente uma excelente notícia. Assim seria possível participar de sua atestação sem que fosse preciso ler qualquer livro complicado. Os jornais passaram a veicular todas as movimentações da comitiva; Einstein e sua teoria da relatividade passaram a ser comentados regularmente a partir de então. Einstein ia assim se tornando mais palatável pelo público não especializado até se tornar um personagem bastante atrativo nos anos 1925 para o editor Assis Chateaubriand.
Deste modo também vamos sabendo – o historiador e o público leitor da época – como estavam os trabalhos das comissões em campo. Nem tudo girava em torno de Einstein e sua teoria da relatividade. A verdade é que, em vários jornais, observou-se que as tarefas das três comissões que visitaram Sobral eram bastante distintas. Enquanto a comissão de Greenwich procurou tirar fotos para medir as deformações dos raios estelares pelo sol, a equipe norte-americana do Carnegie Institute estava mais interessada nos efeitos da escuridão sobre a eletricidade atmosférica, o magnetismo e as transmissões radiotelegráficas. Já a comitiva brasileira estava interessada em estudar o clássico problema da composição da coroa solar. Dessa perspectiva, os brasileiros foram muito mais anfitriões do processo ao oferecer Sobral para a comunidade internacional do que participantes do experimento em si.
Os cientistas também estavam de olho nos jornais que os acompanhavam. Aproveitando essa abertura, mais de um mês antes do dia do eclipse, a comitiva inglesa publicou artigo no jornal Estado do Pará, explicando os detalhes do experimento. E foi assim que Einstein aparece pela primeira vez nos jornais cotidianos. A recepção nem sempre é boa: se para alguns o evento era civilização, para outros, um desperdício. Dias depois, o jornalista Paulino de Brito, no mesmo jornal, apontou o problema: “Para aquela pobre gente, que morre de fome, seria certamente mais importante que os dois ilustres cientistas descobrissem o meio de fazer cair um pingo d’água sobre o solo arrasado do que tirarem de uma vez a limpo se a atração solar encurva ou não os raios de luz das estrelas próximas”. Ironia das ironias: a total ausência de chuvas, peça fundamental para as observações astronômicas, tornara-se para o jornalista a fagulha da inutilidade da ciência para o povo local. Era “difícil de tragar”, diz o jornalista, a concepção de universo de Einstein e sua inclusão do tempo como uma quarta dimensão. Mesmo anos mais tarde, o professor de mecânica racional da Escola Politécnica Licínio Cardoso criticará essa ideia. Para ele, o tempo não seria uma quarta dimensão inseparável do espaço, como postulava a teoria da relatividade. Einstein havia feito suposições erradas e por isso o resultado estava equivocado[13].
As críticas de Licínio Cardoso são publicadas por Chateaubriand em seu jornal no dia 16 de maio, quatro dias depois de Einstein deixar o Brasil em direção à Europa. Seus antigos alunos da Politécnica apresentaram suas réplicas, agora nas dependências da Academia Brasileira de Ciências. Sim, debateu-se a ciência desinteressada em praça pública, mas tudo leva a crer que foi o editor a orquestrar o debate até quando lhe pareceu conveniente.
Rogério Monteiro de Siqueira é professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP desde 2007. É livre-docente em história da ciência pela USP e orientador do programa de pós-graduação em estudos culturais da EACH-USP. É 2º vice-presidente da Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC) e editor associado da Revista Brasileira de História da Ciência. Trabalha com história cultural e sociologia histórica, tendo como principal interesse a história das ciências matemáticas, do livro, da edição científica e da engenharia no Brasil. E-mail: rogerms@usp.br
[1] Corry, L.; Renn, J.; Stachel, J. “Belated decision in the Hilbert-Einstein priority dispute”. Science, v. 278, n. 5341, p. 1270-1273, 1997.
[2] Einstein, A. A teoria da relatividade especial e geral. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999. p. 7.
[3] “Consideramos de utilidade de alguns leitores as indicações bibliográficas de livros escritos especialmente como exposições populares: o de Einstein, é uma exposição difícil como o é o de W. Bloch – Einführung in die relativitätstheorie (Teubner) ainda que se digam livros para leigos; de mais fácil compreensão parecem-nos as seis lições do dr. Fritz Beer – Die Einsteinsche r. theorie, a de A. Pflüger – das Einstein. r. prinzip, a do dr. Harry Schmidt – Das Weltbild der r. theorie e a mais filosófica de Hans Reinchenbach- Relat theorie und erkeantnis a priori (pouco aproveitável) e a de Rudolf Lammel – Wege zur relativitats theorie que julgo ser a mais clara, metódica de todas as exposições populares mencionadas.”
[4] Paty, M. “The scientific reception of relativity in France”. In: The comparative reception of relativity. Springer, Dordrecht, 1987. p. 113-167. Paty, M. “A recepção da relatividade no Brasil e a influência das tradições científicas europeias”. In: Hamburguer et all (orgs.) A ciência nas relações Brasil-França. São Paulo: Edusp & Fapesp, 1996. p. 143-81. Alves, J. “Teoria da relatividade no Brasil: recepção e contexto”. In: Hamburguer et all (orgs.) A ciência nas relações Brasil-França. São Paulo: Edusp & Fapesp, 1996. p. 121-42. Biezunski, Ml. “Einstein’s reception in Paris in 1922”. In: The comparative reception of relativity. Springer, Dordrecht, 1987. p. 169-188.
[5] Gaston Moch – Initiation aux théories d’Einstein; Gaston Moch – La relativité des phenoménes; Charles Nordmand – Einsteins et l’univers; Jean Becquerel – Exposé elementaire de la theorie d’Einstein; Amoroso Costa – Introdução à teoria da relatividade; A. S. Eddington – Space, time and gravitation; Le Viconte Haldane – Le régne de la relativité; Lucien Fabre – Les theories d’Einstein; Paul Langevin – Le principe de la relativité; G. Fontené – La relativité restreinte; Guste Mie – La théorie einsteinienne de la gravitation; Max Born – Théorie de la relativité d’Einstein et ses bases physiques; André Metz – La relativité.
[6] A pesquisa foi feita a partir da base de dados da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional nas décadas de 1910 e 1920.
[7] Barboza, C. H. da M. “Ciência e natureza nas expedições astronômicas para o Brasil (1850-1920)”. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 5, n. 2, p. 273-294, maio-ago. 2010
[8] Jornal do Comércio de 27 de julho de 1912.
[9] Sobre a visita de Einstein e as negociações para trazê-lo ao Brasil, ver: Tolmasquim, A. “Constituição e diferenciação do meio científico brasileiro no contexto da visita de Einstein em 1925”. Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe. vol 7, n 2.
[10] Ver, por exemplo, os trabalhos de Steven Shapin e Bruno Latour.
[11] Dyson, F. W.; Eddington, A. S.; Davidson, C. IX. “A determination of the deflection of light by the sun’s gravitational field, from observations made at the total eclipse of may 29, 1919”. Philosophical Transactions of the Royal Society of London. Series A, Containing Papers of a Mathematical or Physical Character, v. 220, n. 571-581, p. 291-333, 1920.
[12] Para saber mais sobre os cálculos, ver : Videira, A. A. P. “Einstein e o eclipse de 1919”. Física na Escola, v. 6, n. 1, p. 83-87, 2005. Disponível em: http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol6/Num1/eclipse.pdf. Acesso em 7/5/2019.
[13] Cardoso, L.. “A relatividade imaginária”. O Jornal, 25 de maio de 1925.