Por Carlos Vogt
Há já uma vasta literatura sobre o tema das mudanças do trabalho e das profissões no presente, no futuro imediato e no futuro mais distante.
Há estudos que estimam que mais de 60% das crianças, hoje na escola, já terão empregos e profissões que hoje não existem.
Os cenários desenhados prospectivamente variam dos mais pessimistas aos mais otimistas e confiantes no poder benéfico das novas tecnologias para a qualidade da vida social.
Os catastrofistas, como já aconteceu com a revolução industrial e com a progressiva substituição do homem pela máquina nas tarefas que requerem capacidade e habilidade físicas, fazem, agora, soar o alarme da substituição definitiva da competência cognitiva do homem pela inteligência artificial das máquinas, carregando nas tintas de uma progressiva e inexorável irrelevância do ser humano num sistema produtivo em que ele será quase que totalmente dispensável.
Nesse cenário, apenas uma pequena elite teria ainda o controle dos meios de produção, concentrando, de forma arrebatadoramente desigual, a riqueza gerada pelo conhecimento devido aos avanços incessantes da biotecnologia, das tecnologias de informação e de comunicação, dos Big Data e da inteligência artificial.
Um conhecimento, enfim, que supõe uma interação constante entre iniciados, os poucos da elite referida, destes com as máquinas e destas entre si.
Nesse cenário, o trabalhador mediano tem cada vez mais dificuldade para encontrar um emprego, num quadro de ofertas que enfatizam os requisitos de alta capacitação, ou ocupações de pouca qualificação profissional e de salários bastante reduzidos, ocupações que tendem a desaparecer e cujo preenchimento se faz quase que instantaneamente por meio de longas filas de procura e decepção.
Este é o pior cenário: aquele em que passam a “acreditar” os desalentados das sociedades contemporâneas que não conseguem resolver o problema do desemprego e da desocupação em massa, gerando, pela falta repetida de esperança, o abandono do futuro e a desistência da busca do trabalho.
É um cenário desolador que vem, em geral, acompanhado de um fundo maior de desolação relativo aos descuidos com o meio ambiente e às agressões criminosas ao planeta.
No cenário mais otimista, as tecnologias, que podem tudo, podem também compensar os desmandos e os desgastes causados pelo homem contra si mesmo, contra a vida e a natureza com a contínua inovação e com a capacidade redentora do sempre novo e renovável.
Num cenário intermediário situam-se aqueles que acreditam ser possível planejar e desenvolver um projeto de inovação inclusiva, no qual o lucro, as pessoas e o planeta (os três Ps, em inglês, profit, people, planet) estejam em equilíbrio e que as tecnologias avancem para incluir e não para excluir o homem nos benefícios ativos do seu desenvolvimento, capacitando-o para as iniciativas das novas configurações do trabalho e emprego.