Por Graciele Almeida de Oliveira
A busca pelo aumento da expectativa de vida está presente na história da humanidade. Para alcançá-la, as pesquisas científicas apostam na diminuição de doenças relacionadas ao envelhecimento, proporcionando também uma vida com mais qualidade.
Existem mais de 300 teorias que tentam explicar o envelhecimento. Marcelo Alves Mori, professor do Instituto de Biologia da Unicamp, explica que, no entanto, há consenso de que o envelhecimento é um acúmulo de danos no organismo.
Uma dessas teorias está relacionada ao dano causado pelas espécies reativas de oxigênio (EROs), que são subprodutos da respiração celular, ou seja, produzidos em uma pequena porcentagem durante o processo de respiração. Apesar de importantes para a comunicação dentro e entre as células, as EROs também podem levar a danos, quando produzidas em grande quantidade. Respirar é necessário para a sobrevivência, mas, aos poucos, leva ao declínio do funcionamento do organismo. Como diria Neil Young na música From Hank to Hendrix “a mesma coisa que faz você viver pode te matar no final”.
Uma das causas também apontadas para a redução da longevidade é a obesidade, cita Marcelo Mori. “A obesidade diminui o tempo máximo de vida e aumenta a incidência de doenças ligadas ao envelhecimento, como diabetes, Alzheimer, cânceres, entre outras. Não apenas se vive menos, mas se vive pior”, complementa Alicia Juliana Kowaltowski, professora do Instituto de Química da USP.
Kowaltowski é autora do livro O que é metabolismo, e seu grupo de pesquisa vem estudando a relação entre metabolismo e longevidade em diferentes organismos, como leveduras, vermes e roedores. Nesses organismos, a restrição calórica – ou seja, comer menos -– aumentou a longevidade. Isso seu deu por melhorar, entre outras coisas, o funcionamento das mitocôndrias, uma organela responsável pelo processo de respiração celular. O melhor funcionamento da respiração celular contribui, entre outras coisas, para a diminuição das EROs.
Fernanda Marques da Cunha, professora da Universidade Federal de São Paulo, explica que a restrição calórica “é uma intervenção dietética capaz de aumentar o tempo de vida e que, nos organismos estudados, melhora os parâmetros de saúde como um todo”. Ela, porém, alerta que “pensando nos humanos, a prática da restrição calórica por um longo período não é uma coisa tão simples de se fazer e, além disso, tem efeitos colaterais, como prejudicar o processo de cicatrização, por exemplo”.
A estratégia encontrada pelos pesquisadores é entender os mecanismos associados ao processo de restrição calórica e longevidade e, a partir dos achados, propor novas formas de intervenção.
É o que também faz o grupo de pesquisa de Mori, que estuda os processos associados às doenças relacionadas ao envelhecimento. Uma das formas usadas pelo grupo é estudar o tecido adiposo, que tem predomínio de células capazes de acumular gordura. O grupo observou que essas células estão envolvidas em um processo de sinalização que pode regular a longevidade. Uma das táticas agora é testar fármacos que atuam na regulação de moléculas dessa sinalização e ver o efeito sobre as doenças associadas ao envelhecimento.
“A população já está informada sobre os fatores de risco associados à obesidade. Os EUA preveem que o tempo de vida de adolescente atuais é menor do que dos idosos atuais. Isso graças aos altos índices de obesidade. Ainda não conseguimos solucionar isso. Somos evolutivamente selecionados para gostar de comidas altamente calóricas. Não adianta você informar as pessoas de que a obesidade é ruim, se ela tem essa sinalização dentro do cérebro falando: coma, isto é gostoso! Precisamos ter outras formas que não só a informação pública para combater essa epidemia de obesidade”, destaca Alicia Kowaltowski.
Aspectos econômicos e a expectativa de vida
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), enquanto o tempo de vida médio da população brasileira previsto para 2015 é 75 anos, em alguns países da África, como Angola, a média fica em torno dos 52 anos. Essa discrepância reflete aspectos econômicos, sociais e de saúde da população de um determinado país.
Não é de hoje que a ciência promove o aumento no tempo de vida. Kowaltowski lembra que coisas que hoje parecem básicas, como saneamento, acesso a um sistema de saúde público, como a do SUS, medicamentos e vacinas, aumentaram muito a expectativa de vida.
Um levantamento da OMS mostra bem esse quadro ao fazer um levantamento sobre a saúde mundial no período de 2000 a 2015. Um dos exemplos, segundo o relatório, é a tuberculose, uma doença tratável e curável, mas que ainda se mantém como um dos maiores problemas de saúde global.
Em 2014, a incidência de tuberculose em países de baixa renda era 10 vezes maior do que países de alta renda, enquanto a taxa de mortalidade era quase 20 vezes maior. De acordo com o documento “os casos de fatalidade variam de forma diversa entre os países, indicando o acesso desigual aos serviços de saúde, incluindo aqueles para detecção e tratamento da doença”. A tuberculose é uma das doenças tropicais negligenciadas e, em 2014, aproximadamente 1,7 bilhões de pessoas esperavam tratamento para as doenças tropicais negligenciadas.
Assim, é preciso primeiro cuidar de políticas públicas básicas para garantir que todos tenham acesso a condições mínimas de qualidade de vida e longevidade. Para os estratos sociais que já atingiram essas condições, a receita já comprovada pela ciência para se viver mais engloba “coisas básica em termos de bom senso, como ter uma alimentação balanceada e variada, não comer demais nem de menos, além de atividade física e cognitiva. A preservação do cérebro está associada a exercitá-lo. Viver bem ajuda a viver mais”, finaliza Alicia.
Graciele Almeida de Oliveira é bacharel em química (USP), doutora em ciências – bioquímica, graduanda em educomunicação (USP) e aluna da especialização em jornalismo científico pelo Labjor/Unicamp.