Por Carlos Vogt
Há, pelo menos, três acepções de sentido para o termo gastronomia, conforme se pode ler na Infopédia – Dicionários Porto Editora:
- arte de cozinhar com o objetivo de proporcionar o maior prazer aos que comem;
- conhecimento e apreciação dos prazeres da mesa;
- comida típica de determinada região.
Isso, posto assim, parece simples, mas não é. Pelo menos, não é só simples, embora seja mais complexo e rico que complicado.
Primeiro, há uma longa história a envolver os conceitos, fatos e eventos da gastronomia, antes mesmo do termo existir e ser empregado nos vários sentidos que precederam seu uso e nos que, depois de criado, são recobertos pelo campo semântico de suas designações.
Talvez que o termo só tenha se tornado culturalmente possível com as condições de vida que passam a se desenvolver depois da revolução agrícola há, mais ou menos, 10.000 anos, quando, como escreve Yuval Noah Harari, “os sapiens começaram a dedicar quase todo seu tempo e esforço a algumas espécies de plantas e animais.”[1].
De caçadores e coletores a agricultores, de nômades a sedentários, o homem se fixou nas aldeias, nos povoados, nas cidades e foi desenvolvendo as formas de trabalho e produção que lhe permitiram chegar, modernamente, à revolução científica e, mais recentemente ainda, às grandes transformações que as tecnociências têm promovido na contemporaneidade.
O alimento é a chave da mudança. A gastronomia é a mudança da chave para a riqueza e a variedade cultural das formas sociais nos processos civilizatórios em transformação.
O comércio do excedente permitirá a troca de ingredientes e de culturas, como anota Fábio Pestana Ramos em seu texto “Gastronomia e cultura gastronômica” (fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/gastronomia-e-cultura-gastronomica.html)
Nesse artigo pode-se constatar o amplo campo de variação dos significados ligados ao termo, ao longo da história e mesmo nos recortes sincrônicos de suas permanências periódicas.
A variedade de categorias, a riqueza das transformações e da evolução do conceito e das atividades que ele recobre, em especial nas culturas do ocidente, dão medida da importância histórica e social da gastronomia na organização das formas culturais da manifestação de nossas necessidades e de nossos desejos.
Como escreveu João Baptista da Costa Aguiar, no belo e apetitoso livro Senhor Prendado – um homem que se diverte na cozinha (Leya, São Paulo, 2011), “cozinhar me fascina e encanta. É a magia de escolher, transformar e sublimar ingredientes simplesmente com o trabalho. Sempre achei que o mesmo acontece no meu ofício, o desenho gráfico: juntam-se os ingredientes da informação (cores, tipos e imagens) na ordem certa para obter clareza e elegância na comunicação da ideia que se quer transmitir.”. (p.5)
E de clareza e elegância, no desenho gráfico e na gastronomia, Baptista entendia como ninguém!
[1] Yuval Noah Harari: Sapiens – uma breve história da humanidade, L&PM Editores, Porto Alegre, 24ª ed., 2017, p.87.