Por M. Elizabeth “Libby” Ginway
Em 2004 foram publicados 47 livros inéditos de fantasia, ficção científica e terror no Brasil. Em 2010, esse número atingiu 481.
Ofereço esta contribuição sobre ficção científica no Brasil e no México com a ideia de realizar no futuro um estudo mais abrangente sobre esse tema tão promissor. Evidentemente, um dos meus objetivos é suscitar interesse na ficção científica brasileira em toda a América Latina.[i] Acredito que um estudo comparativo da ficção científica em ambos os países poderia ser relevante e revelador, especialmente porque as duas tradições têm em comum um forte senso de identidade nacional, um apreço pela cultura popular e atitudes diferentes em relação à cultura norte-americana. Pessoalmente, tenho sido bem recebida nas comunidades de ficção científica de ambos os países, por um povo simpático, amigável e engajado. Em ambos os casos, os escritores de gêneros populares tais como o da ficção científica sentem-se marginalizados da alta literatura, ao mesmo tempo em que se orgulham da qualidade da própria produção.[ii]
Da minha parte, comecei a estudar as distopias brasileiras da década de 1970, romances de protesto contra o regime militar e suas políticas (1964-1985). Ao tomar conhecimento da existência de obras de ficção científica escritas antes e após a ditadura, ampliei meu âmbito de interesse e acabei publicando em 2004 o livro Brazilian science fiction: cultural myths and identity in the land of the future, obra traduzida ao português no Brasil um ano depois. Meu projeto mais recente foi coeditar com J. Andrew Brown um livro de ensaios sobre a ficção científica latino-americana, Latin american sciencefFiction: theory and practice (2012). Além do meu interesse no gênero de ficção científica como tópico de pesquisa, tive a oportunidade de ministrar aulas sobre a ficção científica brasileira ou latino-americana em português, inglês[iii] e espanhol.
Um breve panorama histórico e cultural
Desde o século XIX, os escritores de ficção científica e fantasia, no México e no Brasil, se deparam com uma trajetória literária que favorece a formação da identidade nacional através do realismo, romantismo e “costumbrismo”. No México, alguns autores do final do século XIX como Manuel Gutiérrez Nájera, Amado Nervo e Alejandro Cuevas, abrem o caminho para uma tradição fantástica; porém, infelizmente não é possível dizer a mesma coisa sobre o Brasil. Em seu estudo, Tal Brasil, qual romance (1984), Flora Sussekind fala da tradicional preferência da literatura brasileira pelo “retrato” naturalista que documenta o progresso e o desenvolvimento do país, comparável ao prestígio do realismo e do indianismo no México. Sim, existem contos de ficção científica escritos por tradicionais autores brasileiros como “O fim do mundo” (1857) de Joaquim Manuel de Macedo, “O imortal” (1882) de Machado de Assis, “Demônios” (1893), de Aluísio Azevedo e “A nova Califórnia” (1911), de Lima Barreto. Mas, devido à dominação do realismo/naturalismo, esses contos só foram reconhecidos como sendo de ficção científica por especialistas do gênero como Roberto de Sousa Causo, que inclui os contos de Machado e Lima Barreto em suas antologias das melhores histórias brasileiras de ficção científica.[iv]
Devido à diversidade racial de suas respectivas populações, México e Brasil compartilham um discurso de “miscigenação” que se tornou um tipo de ideologia nacional (através das ideias de José Vasconcelos no México e Gilberto Freyre no Brasil), embora no Brasil se fale mais exatamente do mito “das três raças” (indígenas, africanos e europeus) e não da “raça cósmica” ou do “hibridismo” da tradição mexicana. Os dois países construíram um forte sentido de identidade baseado nessa mitologia nacional, mas, ao mesmo tempo, são sociedades marcadas por profundas divisões de classe e raça. Apesar de sua experiência histórica do século XIX ser diferente — O Brasil, com sua “paz otaviana” do segundo reinado, do imperador dom Pedro II, apoiado pela oligarquia e sua dependência da escravidão até 1888 e o México com suas lutas políticas e financeiras internas e externas até o porfiriato (política de Porfirio Díaz) de 1876 — as duas sociedades são semelhantes quanto à sua pirâmide social e economia agrícola, em ambos os casos, devido talvez à falta de uma reforma agrária e à dominação política de uma oligarquia até o início do século XX. A República do Brasil só foi declarada em 1889, um ano após a abolição da escravatura, mas sem uma luta prolongada como a Revolução Mexicana de 1910, que se estendeu por mais de uma década.
No Brasil, o poder da oligarquia dominou até o golpe de Getúlio Vargas em 1930, cujo “Estado Novo” corporativista se manteve até 1945. Ambos os países experimentaram uma primeira fase de industrialização nos anos 40 e 50, mas no Brasil o estado corporativista não foi institucionalizado como no México. No Brasil, no final da década de 50 e início da década de 60, os movimentos estudantis e de camponeses, além de um período de instabilidade econômica causam o golpe militar de 1964, quando se instala um governo tecnocrático que perdura até 1985. Tanto no México como no Brasil, o ano de 1968 é um ano chave, porque revela o caráter repressivo de seus governos: no Brasil através do “golpe dentro do golpe” dos militares conservadores e no México através do massacre de Tlatelolco e a subsequente repressão por parte do governo. Na década de 1980, tanto o México como o Brasil enfrentaram uma crise causada pela introdução de políticas neoliberais. É possível observar o crescimento do tráfico de drogas e da violência em ambos os países, indicador das redes de corrupção política herdadas dos regimes autoritários.
É evidente que a relação com os Estados Unidos é diferente no México e no Brasil. Como compartilham uma fronteira, os Estados Unidos e o México se debatem com questões de imigração e comércio, o que caracteriza a realidade diária dos dois países, com as implicações políticas do Nafta [sigla em inglês de Tratado Norte-Americano de Livre Comércio], a exploração da mão de obra mexicana por parte de fábricas americanas que produzem no México para baratear seus produtos e o muro que separa os dois países. O Brasil ocupa um lugar mais distante na política e no imaginário dos americanos e vice-versa. Poucos americanos sabem que a língua falada no Brasil é o português, não o espanhol, e a presença de brasileiros e portugueses nos Estados Unidos é pequena em comparação com a dos falantes de espanhol, que ocupam um lugar importante na vida política americana.
História comparativa da ficção científica[v]
No México e no Brasil, o desenvolvimento da ficção científica seguiu uma trajetória parecida, bem diferente do prestígio do gênero na Argentina. Por exemplo, no Brasil e no México foram publicadas obras utópicas no século XIX,[vi] obras de eugenia entre 1910 e 1930,[vii] e romances influenciados por Wells entre 1940 e 1950.[viii] A partir das décadas de 60 e 70, pode ser observada uma incipiente consciência nacionalista na ficção científica de ambos os países. Além disso, o cinema de ficção científica nos dois países produz filmes populares semelhantes, com os “churros” no México e as “chanchadas” no Brasil, compartilhando uma visão satírica ou gótica da ciência, com cientistas malucos e belas mulheres alienígenas.[ix] Nos anos 80 e 90, começam a ser publicadas as fanzines e revistas de ficção científica, sendo que, com a inclusão da ficção científica latino-americana na Encyclopedia of science fiction em 1993, ocorre o primeiro reconhecimento internacional. Embora tenham sido publicados vários estudos sobre ficção científica nos anos 60 e 70 no Brasil,[x] não existe nada que se compare ao estudo de Ross Larson, Fantasy and imagination in Mexican narrative (1977); simplesmente não existe um estudo semelhante dessa época em termos de rigor e validade no Brasil, sendo que não está no mesmo nível a tese de doutorado de David Lincoln Dunbar sobre a ficção científica brasileira dos 60.[xi]
No México da primeira metade do século XX, existem obras de Nervo, Dr. Atl (Gerardo Murillo) e Diego Cañedo (Guillermo Zárraga) que não têm paralelo no Brasil. A ideia de uma história alternativa do México, em que o país está sob o controle dos nazistas em El réferi cuenta hasta nueve [O árbitro conta até nove] de Cañedo (1942) ou os contos “surreais” de Dr. Atl são mais originais e sofisticados que os contos brasileiros do mesmo período. Além disso, a obra de Cañedo recebeu a atenção da crítica de Alfonso Reyes, o mais importante crítico e intelectual mexicano da época (Trujillo Muñoz, Biografias 66), situação que não encontra paralelo no Brasil.[xii] Na década de 1930 no Brasil, podem ser encontrados exemplos de ficção científica nos contos de Berilo Neves, mas eles geralmente são derivativos e misóginos, populares no seu tempo, mas quase esquecidos pela história literária.[xiii] Na primeira metade do século XX, podem ser encontrados entre os romances de ficção científica contos de aventuras na Amazônia, escritas por Gastão Cruls, Menotti del Picchia e Jeronymo Monteiro,[xiv] a utopia Zanzalá (1936) de Afonso Schmidt e a aventura futurista de Três meses no século 81 (1947) por Jeronymo Monteiro, mas a maioria das obras de ficção científica da época são variantes das obras de Wells ou aventuras de pulp fiction.[xv]
Trujillo Muñoz explica que, na história do gênero no México dos anos 50, 60 e 70, certas narrativas de Juan José Arreola, Carlos Fuentes, Edmundo Domínguez Aragonés e Manú Dornbier podem ser consideradas representativas da ficção científica, mesmo quando esses autores não se identificam com o gênero (Biografias 16). No Brasil dos anos 60, existe uma geração semelhante, constituída por Dinah de Silveira Queiroz, Fausto Cunha, André Carneiro, Rubens Teixeira Scavone e Levy Meneses[xvi], conhecida depois como a geração GRD, nome dado por Fausto Cunha para homenagear Gumercindo Rocha Dorea, editor que incentivou esses escritores a se lançarem na ficção científica. Não existe nenhuma articulação explícita da “brasilidade”, nem um compromisso firme com o gênero nessa geração, já que parecem compartilhar a atitude dos escritores mexicanos da mesma época, que empregam a ficção científica para expressar “as dúvidas sobre o progresso ou o horror diante da sociedade de consumo” (Trujillo Muñoz, Biografias 16). No México, escritores ativistas de ficção científica tais como Alejandro Jodorowsky, René Rebétez e Carlos Olvera escrevem uma ficção científica explicitamente mais mexicana, ao passo que no Brasil apenas Jeronymo Monteiro representa esse espírito de compromisso para com a ficção científica, porém, sem o experimentalismo literário articulado pelo grupo mexicano.
No Brasil da década de 70, perseguidos pela censura e pela política de desenvolvimento econômico, vários autores da corrente dominante escrevem distopias para criticar o regime repressivo e tecnocrático. Tais autores incluem Maria Alice Barroso, Chico Buarque, Herberto Sales e Ignácio Loyola Brandão.[xvii] Isso talvez encontre paralelo mexicano nas distopias de Carlos Fuentes, Hugo Hiriart, Homero Aridjis Paco, Ignacio Taibo II e Carmen Boullosa das décadas mais recentes, os quais também buscaram uma forma narrativa apropriada para retratar o desastre político e as questões apocalípticas (Trujillo Muñoz, Biografias 20-21).
A partir da década de 1980, assim como no México, o Brasil começa a construir seu próprio mundo da ficção científica nacional. São fundadas as fanzines Somnium e Megalon, que subsistem quase duas décadas. Em São Paulo, forma-se o Clube de Leitores de Ficção Científica ou “CLFC”. É estabelecido o prêmio Nova de ficção científica, oferecido de 1987 a 1996, juntamente com outro prêmio, o Argos, o qual se estende um pouco mais. Os escritores dessa geração articularam uma abordagem mais explicitamente nacional e são considerados parte do Segundo Movimento, sendo que a geração GRD dos anos 60 foi chamada de Primeiro Movimento.[xviii] Dois romances de ficção científica dos anos 80 que valem a pena mencionar são Padrões de contato e Horizonte de eventos (1985-86), de Jorge Luiz Calife, em que se vê a combinação de ficção científica dura e a influência de Arthur C. Clarke e Larry Niven com a intenção de incluir questões da cultura e política brasileira da ditadura.[xix] A partir desse momento, a ficção científica se realiza sobre uma variedade de temas e subgêneros, entre os quais existem cyberpunk, ficção científica dura, histórias alternativas e antologias temáticas. Na década de 1990, com o apoio editorial de Gumercindo Rocha Dorea, novos contos de ficção científica começam a circular e, ao mesmo tempo, aparecem livros de contos ou romances curtos, publicados por uma variedade de editoras no Brasil. Além disso, foi estabelecida uma conexão com Portugal através da editora Caminha, que publicou as antologias dos escritores brasileiros Gerson Lodi Ribeiro, Roberto de Sousa Causo e Bráulio Tavares, este último vencedor do prêmio Caminha de Portugal em 1989 por sua coleção de contos A espinha dorsal da memória no mesmo ano.[xx] Os contos dessa antologia, com sua homenagem a autores tão diversos como Heinlein e Borges, que retratam um Rio de Janeiro de um futuro próximo no momento de uma invasão alienígena, representam o que há de melhor na ficção científica brasileira, devido à sua temática original e sua sofisticação literária.
No caso do México, a década de 80 também é importante na história da ficção científica. A tradição dos prêmios de Puebla começou em 1983 e a presença de Conacyt (Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia) significa uma diferença em apoio institucional, apesar das dificuldades e da burocracia. Um dos autores mais premiados de ficção científica, José Luis Zárate, lembra que seu conto premiado “El viajero” [O Viajante] (1987), foi criticado por sua linguagem popular e pela falta de um herói cientista. Por essa razão, caracteriza sua vitória como “um triunfo que ao mesmo tempo é uma derrota. No entanto, naquela época, é revelado o interesse pelo gênero em todo o país, representando o primeiro passo para a profissionalização dos escritores. De Zárate, temos Xanto, novelucha libre (1994), um romance original de ficção científica extrapolado dos filmes do Santo, e de Trujillo Muñoz, Espantapájaros [Espantalho] (1999), uma narrativa que trata do tema dos alienígenas e de outros temas da fronteira num futuro próximo. Ambas são obras originais de ficção científica, que combinam alta qualidade e originalidade com uma temática mexicana, mostrando a relevância do gênero como veículo para discutir questões culturais e políticas. Durante a década de 90, Federico Schaffler e Gabriel Trujillo Muñoz começaram a publicar e agir como historiadores do gênero. No Brasil, não existe nada similar nem aos três volumes de contos nacionais editados por Federico Schaffler Más allá de lo imaginado [Além da imaginação] (1991 e 1994), nem aos estudos fundamentais de Gabriel Trujillo Muñoz, Los confines [Os confins]: Crónica de la ciencia ficción mexicana [Crônica da ficção científica mexicana] (1999) e Biografias do futuro (2000) que oferecem um panorama abrangente do gênero e de seus autores. Também não existe paralelo com o estudo de Ramón López Castro, Expedición a la ciencia ficción mexicana [Expedição à ficção científica mexicana] (2001), que compara a ficção científica anglo-americana com a mexicana na história do gênero, abrangendo até autores contemporâneos. No Brasil, Bráulio Tavares e Roberto Causo se dedicaram à história da ficção científica e à busca dos primeiros contos, trabalho que foi iniciado em 1991 através de um catálogo escrito em inglês das obras à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Fantastic, fantasy and science fiction catalog (1991), um trabalho que ainda está sendo desenvolvido com antologias panorâmicas a partir de 2004.[xxi] De acordo com Tavares, em sua introdução à antologia dos contos brasileiros Páginas futuras (2011), os livros essenciais para o estudo da história da ficção científica brasileira são dois:[xxii] O de Causo, que retrata a ficção científica brasileira de 1875 a 1950 e o de Ginway que trata da produção de 1960 a 2000, publicados em 2003 e 2004 respectivamente.
As antologias dos contos mexicanos, El futuro en llamas [O futuro em chamas]: Cuentos clásicos de ciencia ficción mexicana [Contos clássicos da ficção científica mexicana] (1997) de Gabriel Trujillo Muñoz, Visiones periféricas [Visões periféricas] (2000) de Miguel Ángel Fernández Delgado e Los viajeros [Os viajantes] (2010) de Bernardo Fernández (Bef) me têm sido muito úteis como uma introdução ao gênero. Enquanto as duas primeiras são mais históricas, abrangendo seleções desde o século XVIII, a de Bernardo Fernández faz a antologia de contos dos últimos 25 anos. No Brasil, existe uma forte divisão entre os autores brasileiros estabelecidos (o chamado Segundo Movimento) com seu enfoque nacional, e os mais jovens (do chamado Terceiro Movimento), com uma temática mais global.[xxiii] Ao mesmo tempo, a atividade do escritor Nelson de Oliveira, autor significativo que tem se dedicado ao mundo da ficção científica, tem sido importante para fazer as pazes entre os vários grupos. Prolífico antologista, Nelson de Oliveira iniciou um importante diálogo entre duas gerações de escritores de ficção científica e entre os principais autores de ficção científica, lançando seu projeto Portais e a antologia Futuro presente (2009) com a intenção de promover uma visão mais ampla da ficção científica.
O mercado de livros no Brasil passou por uma mudança. Na década dos 90, as antologias eram obras acima de tudo artesanais ou pessoais, com uma temática de dinossauros, futebol, histórias alternativas, primeiro contato e viagens no tempo, além de narrativas escritas por mulheres e até mesmo contos eróticos. A partir do ano de 2008, novas editoras entraram no mercado, entre as quais estão a Novo Século, Objetiva, Tarja, Draco, Devir e Terracota e até as tradicionais como a Record, a Rocco e a Companhia das Letras. Todas começaram a publicar mais ficção científica e fantasia. Aparecem antologias de steampunk, cyberpunk, vampiros e ficção científica política. Parece que as antologias estão onipresentes no Brasil da atualidade. Marcello Simão Branco, coeditor do Anuário brasileiro de literatura fantástica desde 2004, observou que as editoras investem mais em antologias que em romances, um ponto fraco da produção brasileira.[xxiv] No entanto, é possível observar um aumento significativo no número de publicações. Em 2004 foram publicados 47 livros inéditos de fantasia, ficção científica e terror no Brasil (Anuário 2004, 20) e em 2010, esse número atingiu 481 (Anuário 2010, 29), dez vezes mais. Com a expansão da economia brasileira e mais publicações virtuais, além da inclusão de novos tipos de leitores, especialmente os jovens, o mercado mudou. A partir de 2011, o Anuário passou a oferecer apenas uma lista de livros recomendados em vez de citar títulos específicos como era feito antes dessa expansão do mercado.
Especulações sobre steampunk, ciborgues, cyberpunk e apocalipse
Limito-me aqui a algumas observações sobre os subgêneros e características gerais da ficção científica brasileira e mexicana para apontar possíveis temas para futuras pesquisas. Nos últimos anos no Brasil pode ser observado um fascínio por steampunk entre os escritores brasileiros, talvez pelo desejo de se conectar a uma corrente norte-americana e incluir figuras históricas e literárias. Um dos poucos exemplos do gênero no México, o conto de Bernardo Fernández intitulado “La bestia ha muerto” [A besta morreu] (2004), imagina um México alternativo sob o domínio de Maximiliano, ao invés de Juárez. Esta obra faz parte daquelas analisadas em um ensaio panorâmico sobre a obra de Bernardo Fernández escrito por Ignacio Sánchez Prado.[xxv] No Brasil, os contos steampunk que analisei com mais interesse abordam questões de classe, raça e escravidão, principalmente sob a forma de robôs e zumbis.[xxvi] Essas personagens nos contos de steampunk desmentem a narrativa da miscigenação e da reconciliação do antropólogo brasileiro Gilberto Freyre; são histórias violentas e perturbadoras que lembram a violência urbana contemporânea e a falta de inclusão econômica dos grupos marginalizados.
Por outro lado, a figura do ciborgue e do cyberpunk como um subgênero também é diferente nos dois países. No Brasil não existe nada parecido com o romance de Gerardo Porcayo, La primera calle de la soledad [A primeira rua da solidão] (1993), que, na atualidade, com seu mundo de hackers e drogas virtuais, parece cada vez mais profético e relevante. No Brasil dos anos 80 e 90, um grupo de narrativas urbanas, chamadas “tupinipunk” de Causo, tem algo de “punk” em seu protesto contra o imperialismo americano, mas tem pouco a ver com o ciberespaço.[xxvii] Mais recentemente, Causo escreveu uma série de contos sobre Shiroma, uma mulher transformada em ciborgue pistoleiro por um casal de criminosos. Embora Shiroma tenha que assassinar pessoas, suas vítimas são criminosas e ela se torna cada vez mais poderosa, conseguindo livrar-se do domínio de seus raptores no final da série. Nem todos os ciborgues e implantados brasileiros têm os mesmos atributos que Shiroma, como pode ser observado nas narrativas de ficção científica da década de 80 e 90, refletindo a crise de urbanização e a corrupção política da época, com uma tensão marcada entre a rejeição à tecnologia e sua integração.[xxviii] Também não existe o sentido da violação do corpo que se observa nos contos como “Ruido gris” [Ruído cinzento] e “Conversas com Yoni Rei” (1996) de Pepe Rojo, “[e]” (1998) de Bernardo Fernández e Gerardo Sifuentes ou “Hielo” [Gelo] (1997) e “Tijuana express” (1997) de José Luis Ramírez, cujos personagens morrem ou são mutilados, sofrendo sob o controle corporativo da tecnologia. Outra diferença é o contraste entre a destruição nos contos mexicanos de cyberpunk e a reprodução em certos contos brasileiros. Em “Julgamentos” (1993) de Cid Fernández e no conto steampunk “Uma vida possível atrás das barricadas” (2009) de Jacques Barcia, existem ciborgues/robôs que formam casais que depois querem ter filhos. Não há a ideia feminista de Donna Haraway do ciborgue pós-gênero, que se autoconstrói independentemente da estrutura familiar, mas é mostrado um casal hetero-normativo com vontade de se integrar à sociedade.
Outra diferença temática entre a produção mexicana e a brasileira nas últimas décadas é o apocalipse e o fim do mundo, comum na ficção científica mexicana, mas quase inexistente na brasileira.[xxix] A cultura brasileira é voltada para um futuro sem o peso dos ciclos históricos e destruição. O trauma da conquista, da revolução, dos terremotos e dos ciclos religiosos apocalípticos, além da violência relacionada com o narcotráfico que fazem parte da cultura mexicana não encontra paralelo no Brasil. A ideia de progresso parece permear a sua cultura, apesar da rejeição do positivismo por parte de seus intelectuais e dos problemas urbanos da criminalidade.[xxx] No México, é possível citar contos como “Bestias de sangre y fuego” [Bestas de sangue e fogo] (1998) de Ricardo Wolffler, “Rojos y morados” [Vermelhos e roxos] e “El aire del verano en el parabrisas” [O ar de verão no pára-brisa] (2009) de Trujillo Muñoz, “Radiotekhnica Cantina” (1998) de Gerardo Sifuentes, até “Leones” [Leões] e “Las últimas horas de los últimos días” [As últimas horas dos últimos dias] (2004) de Bernardo Fernández, para verificar essa corrente apocalíptica. Existem contos sobre apocalipse na ficção científica brasileira do século XIX,[xxxi] e visões de uma guerra nuclear na década de 1960,[xxxii] mas são principalmente didáticas, não pessimistas. No entanto, a mistura de terror e ficção científica também existe no Brasil, e há exemplos de contos lovecraftianos escritos pelo grande escritor João Guimarães Rosa (1908-1967) durante os anos 30 e 40, recentemente reunidos por Tavares em Antes das primeiras histórias (2011). Também pode-se incluir o romance fantástico de Coelho Neto, Esfinge (1908), que conta a misteriosa história de um ser andrógino, um texto redescoberto por Roberto Causo e analisado em seu livro sobre a história da ficção científica brasileira.[xxxiii] Na geração contemporânea, Carlos Orsi, Ivanir Calado e Simone Saueressig são os melhores autores de horror e ficção científica no Brasil.
Tendências contemporâneas no Brasil
Ao escrever isto, posso constatar que no Brasil há um boom contemporâneo de fantasia que infelizmente, muitas vezes, assume a forma de obras medíocres de mistura disparatada de clássicos do século XIX com vampiros, alienígenas, zumbis e caçadores de mutantes para seduzir os jovens. Também proliferam romances sobre vampiros de diferentes tipos e níveis de qualidade, sendo o melhor, em minha opinião, a trilogia da vampira japonesa que protagoniza as obras de Kaori Giulia Moon. Quando conheci vários escritores mexicanos na cidade do México em 2012, alguns me perguntaram quais são as melhores obras de ficção científica brasileiras. A tabela a seguir reúne minhas sugestões nas várias categorias:
Gênero | Autor | Título | Ano | Temática |
Livro de um único autor
|
Bráulio Tavares
|
A espinha dorsal da memória
|
1989
|
Ficção científica literária; neoliberalismo
|
Romance curto | Roberto Causo | O par | 2001 | Amazônia; ambiguidade sexual
|
Conto longo | Ivanir Calado | “O altar dos nossos corações”
|
1993 | Narcotráfico; favelas
|
Conto | Rubem Fonseca | “O exterminador” | 1969 | Assassinato por encomenda; ditadura
|
Romance | Menotti del Picchia | A filha do inca | 1930 | Pulp fiction; Amazônia |
Antologias | Bráulio Tavares | Páginas do futuro | 2011 | Contos curtos; panorama |
Roberto Causo | Os melhores contos brasileiros de ficção científica | 2007, 2009 | Histórico
|
Enquanto isso, três contos brasileiros aparecem em inglês em Cosmos latinos (2003), a antologia de Andrea Bell e Yolanda Molina-Gavilán. São de autores importantes e representativos de diferentes momentos da ficção científica brasileira: Jeronymo Monteiro, André Carneiro e Bráulio Tavares. Talvez, por enquanto, seja o suficiente.
(Foi um prazer participar do evento de ficção científica em Tijuana, organizado por Pepe Rojo em 2011. Lá eu conheci Gabriel Trujillo, Gerardo Porcayo, Bruce Sterling e Chris N. Brown e revi Bernardo Fernandez e Miguel Ángel Fernández Delgado. Gostaria de expressar minha gratidão a Miguel Ángel Fernández Delgado por servir de guia no DF, por ter resistido a tantas perguntas e visitas; também a Bernardo Fernández por organizar a festa em sua casa com os escritores José Luis Zárate, Alberto Chimal, Karen Chacek, Rodolfo TM Édgar Omar Avilés, Rafael Villegas e Gabriela Damián Miravete, entre outros. Meus alunos apreciaram muito a leitura dos contos de ficção científica mexicana neste semestre – somos gratos.)
Elizabeth Ginway é professora associada do Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Flórida, Estados Unidos. É autora de Brazilian science fiction: cultural myths and nationhood in the land of the future (2004), publicado no Brasil em 2005 (Ficção científica brasileira – mitos culturais e nacionalidade no país do futuro, ed. Devir). Coeditou, ao lado de J. Andrew Brown, o livro Latin American science fiction: Theory and practice (Palgrave, 2012). Atualmente trabalha em um estudo comparativo sobre ficção científica e fantasia chamado “Transexualidade, ciborgues e mortos-vivos: o corpo na ficção científica brasileira e mexicana”.
[i]Nos últimos meses, é possível ver vários artigos com teor financeiro e político, com a ideia “o México e o Brasil disputam a liderança da América Latina”. Em termos culturais e da ficção científica, a antologia Three messages and a warning, ed. Eduardo Jiménez Mayo e Chris N. Brown (East Hampton, MA: Small Beer Press, 2011) seria evidência disso, embora a maioria dos contos trate de fantasia ou terror, não de ficção científica.
[ii] Em ambos os casos, o trabalho da crítica e da história do gênero são exercidos com frequência pelos autores da ficção científica. No caso do México, Federico Schaffler Más allá de lo imaginado (Além da imaginação) (México: Consejo Nacional para la Cultura y las Artes 1991, 1994) y Gabriel Trujillo Muñoz [Los Confines: Crónica de la ciencia ficción mexicana (Crônica da ficção científica mexicana) (México: Vid, 1999 e Biografías del futuro: La ciencia ficción y sus autores (Mexicali: Universidad Autónoma de Baja California, 2000]. Schaffler e Trujillo Muñoz também colaboraram para as antologias Sin permiso de Colón (Sem autorização de Colombo) (Guadalajara, Jalisco: Universidade de Guadalajara, 1993) Espejos rotos (Espelhos Rompidos) (México: Roca,1994)], Bernardo Fernández [Los viajeros (Os viajantes) (México, DF: SM, 2010)] e Pepe Rojo [com o projeto Minibuks (Tijuana: UBAC, 2009)] têm trabalhado como antologistas. No Brasil, existem historiadores/antologistas, Bráulio Tavares Contos fantásticos brasileiros (Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2004) e Páginas do futuro (Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011) e Roberto de Sousa Causo [Melhores contos de ficção científica (São Paulo: Devir, 2007, 2009), Melhores novelas de ficção científica (São Paulo: Devir, 2011)] e seu estudo histórico [Ficção científica, fantasia e horror no Brasil 1875-1950 (Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003)]. Para mim, é preciso um crítico acadêmico como Miguel Ángel Fernández Delgado no Brasil, e é por isso que Causo inventou o alter-ego ou pseudônimo “Jeremias Moranu” para escrever crítica literária de ficção científica brasileira. Outra diferença notável é o interesse acadêmico na ficção científica nas universidades brasileiras, onde já se formaram vários estudiosos do gênero desde 2003.
[iii]Escrevi um artigo sobre minha experiência, “Teaching latin american science fiction: a case study”, Teaching Science Fiction, ed. Peter Wright and Andy Sawyer (New York: Palgrave McMillan, 2011), 179-201.
[iv] Esta inclusão causou controvérsia, de modo que Causo dedica três páginas da introdução do seu segundo volume de contos para defender sua escolha de incluir “O Imortal” (1882) de Machado de Assis no primeiro. “O imortal” e “A nova Califórnia” de Lima Barreto abrem as antologias de Causo, Melhores Contos de Ficção Científica (São Paulo: Devir, 2007, 2009) respectivamente. Para outras obras do século XIX e de inícios do século XX, ver a obra de Rachel Haywood-Ferreira, The emergence of science fiction (Middletown, CT: Wesleyan UP, 2011).
[v] Para ter um panorama histórico da ficção científica brasileira, podem ser acessadas a Encyclopedia of Science Fiction online, de Bráulio Tavares e Roberto de Sousa Causo, http://www.sf-encyclopedia.com/entry/brazil.
[vi]Para referências sobre a ficção científica brasileira do século XIX, ver Haywood-Ferreira, The emergence of science fiction para uma análise de O dr. Benignus (1875), de Emilio Zaluar, uma obra com influências de Darwin e Flammarion, 84-92, e Páginas de um Brasil futuro (1868-69), de José Felício dos Santos, uma sátira do Imperador Dom Pedro II, 23-34.
[vii] Causo analisa estas obras eugênicas em seu estudo Ficção científica, fantasia e horror no Brasil, 149-160.
[viii]Causo analisa a ficção científica dos anos 30, 40 e 50 em Ficção científica, fantasia e horror, 191-203; 289-290.
[ix]Para a história dos filmes, ver Miguel Ángel Fernández Delgado, “Querida, converti a tela de prata em cobre – Desde o cinema mexicano de ficção científica até o bestiário da mitologia popular nacional, 1945-1981” El futuro más acá [O futuro mais perto]: Cine mexicano de ciencia ficción. Ed. Itala Schmelz (México, DF: Conculta, 2003) 134-149; e Alfredo Suppia, “Science fiction in Brazilian film: A brief overview.” Film International 6.2 (March 2008) 6-13.
[x]Para um resumo dos estudos brasileiros, com foco na ficção científica anglo-saxã, consultar Ginway, Brazilian science fiction, 27-28.
[xi] David L. Dunbar, “Unique motifs in Brazilian science fiction.” PhD. Diss, University of Arizona, 1976.
[xii]Para obter mais detalhes sobre a história da ficção científica brasileira, ver M. Elizabeth Ginway e Roberto de Sousa Causo “Discovering and re-discovering Brazilian science fiction”, Extrapolation 51,1 (2010) 13-39.
[xiii]Causo trata a obra de Berilo Neves em Ficção científica, fantasia e horror, 162-169.
[xiv]Entre esses romances está A Amazônia misteriosa (1925) de Gastão Cruls (São Paulo: Saraiva, 1957), A filha do Inca (1930) de Menotti del Picchia (São Paulo: Saraiva, 1949) e O irmão do diabo de Jeronymo Monteiro (sob o pseudônimo de Walter Baron) (São Paulo: Companhia Nacional, 1937).
[xv]Causo discute estes romances como “scientific romances” em Ficção científica, fantasia e horror, 173-195
[xvi]Para conhecer melhor a temática da geração GRD, consultar Ginway, Brazilian science fiction, cap. 1, onde se discutem os ícones de robô, alienígena, a cidade, a guerra nuclear e a espaçonave, 36-88.
[xvii]Para ler mais sobre as distopias brasileiras que tratam da questão da reprodução, a situação das mulheres e da ecodistopia, ver Ginway, Brazilian science fiction, Cap. 2, 89-136.
[xviii]Para ter uma ideia sobre os “movimentos”, consultar a introdução de Ginway e Causo, “Discovering and re-discovering”, 16-24.
[xix]Para mais informações sobre Calife, consultar Ginway, Brazilian science fiction, 144-147.
[xx]Entre as antologias de autores brasileiros publicadas em Lisboa, Portugal, pela Caminha estão Bráulio Tavares, A espinha dorsal da memória (1989); Gerson Lodi-Ribeiro, O vampiro da Nova Holanda (1998) e Roberto de Sousa Causo, Dança das sombras (1999), além da antologia de autores brasileiros e portugueses O Atlântico tem duas margens (1993).
[xxi] Na nota 2 são fornecidas as referências para as antologias desses autores.
[xxii]Bráulio Tavares, Páginas do futuro, 18.
[xxiii] Para uma descrição do Terceiro Movimento, consultar Ginway e Causo, “Discovering”, 24-25.
[xxiv]De acordo com Branco, ao resumir o ano de 2011, “em qualquer caso, pode ser observado que há uma falta de romances de boa qualidade entre os brasileiros, embora tenham sido elaboradas antologias de boa qualidade temática e pesquisa histórica” (40) [tradução minha, Anuário brasileiro de literatura fantástica 2011 (São Paulo: Devir, 2012).
[xxv] Sánchez Prado, “Ending the world with words” Latin American science fiction: Theory and practice. Ed. M. Elizabeth Ginway e J. Andrew Brown (New York: Palgrave, 2012), 111-132.
[xxvi] Analisei o steampunk na apresentação “Robots, Atlanteans and Zombies: the post-humans of Brazilian science fiction”, ICFA, Orlando, FL, 21 de março de 2011. Os contos de steampunk analisados são “A fazenda relógio” de Octavio Aragão e “A extinção da espécie” de Carlos Orsi em Vaporpunk, ed. Gerson Lodi-Ribeiro e Luís Filipe Silva (São Paulo, Draco, 2010), “O Plano de Robida”, de Roberto Causo e “Uma possível vida atrás das barricadas” de Jacques Barcia, em Steampunk, ed. Gianpaolo Celli (São Paulo: Tarja, 2009).
[xxvii] Para entender o “tupinipunk”, consultar Ginway, Brazilian science fiction, 151-165.
[xxviii] Para ter uma visão dos ciborgues brasileiros, consultar Ginway, “The body politic in Brazilian science fiction: implants and cyborgs”. New boundaries in political science fiction. Ed. Donald Hassler e Clyde Wilcox. (South Carolina UP, 2008. 198-211).
[xxix]Como observa Causo a respeito do conto apocalíptico pulp fiction de Berilo Neves “A vingança do Mendeljeff” (1929), contos de catástrofe, como este, ambientado no Rio de Janeiro, são relativamente raros na ficção científica brasileira” (35) [tradução: Os melhores contos da ficção científica brasileira: fronteiras (São Paulo: Devir, 2009)].
[xxx] A existência de um sistema religioso complexo e sincrético no Brasil talvez ilustre essa ideia cultural de progresso. Não se trata do progresso no conceito positivista, senão espiritual. Por exemplo, o “espiritismo”, uma religião que inclui ideias de Allan Kardec e da reencarnação, tem como base a ideia de evolução espiritual e renascimento. Existem várias formas de adoração, incluindo a adoração aos anjos, ao lado do candomblé, umbanda e pentecostalismo entre outras combinações. Claro que isso é redutivo, mas pode ser observado que a Igreja Católica não tem tanta influência, um dos parâmetros centrais do conto “La pequeña guerra” [“A pequena guerra”] (1984) de Mauricio-José Schwarz.
[xxxi] Ver a análise de Rachel Haywood-Ferreira de “O fim do mundo” de Joaquim Macedo e “Demônios”, em The emergence of science fiction, 110-113.
[xxxii] Ver Ginway, “The icon of the wasteland”, Brazilian science fiction, 82-87.
[xxxiii] Sobre este romance ver Causo, ficção científica, fantasia e horror, 112-116, e Ginway, “Transgendering in Brazilian speculative fiction from Machado de Assis to the present,” Luso-Brazilian Review 47.1, (2010): 40-60. Para entender a tradição de horror no Brasil, Causo discute isso no seu estudo Ficção científica, fantasia e horror, 99-122.