Premiações voltadas para jovens pesquisadores impulsionam carreiras

Prêmio nacionais e internacionais oferecidos por diferentes entidades se tornam um diferencial no currículo de cientistas na fase inicial da trajetória profissional

Por Eduarda A. Moreira

As premiações científicas têm como objetivo principal reconhecer bons trabalhos realizados por pesquisadores. No caso de jovens premiados ainda durante a pós-graduação ou pouco tempo depois da conclusão do doutorado, este reconhecimento pode representar, também, um importante estímulo.

Nas diversas áreas do conhecimento e em todas as regiões do país, há premiações promovidas para pós-graduandos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Mais específicas, as premiações promovidas por sociedades científicas costumam abranger, também, pesquisadores em nível de pós-doutorado e docência. Em comum, todas proporcionam maior visibilidade, motivação para seguir os objetivos profissionais, melhora na autoestima e autoconfiança, além de uma importante oportunidade de criar novos contatos e conexões.

Prêmio jovem cientista

A iniciativa do CNPq em parceria com a Fundação Roberto Marinho existe desde 1981, quando premiou jovens cientistas com projetos dentro da temática de “Telecomunicações”. Em 2024, após quatro anos de interrupção, o prêmio chegou à sua 30ª edição com o tema “Conectividade e inclusão digital”, abordando diferentes linhas de pesquisa em três categorias: estudantes de ensino médio, superior e mestres e doutores. Os ganhadores têm direito a uma bolsa de iniciação científica ou pós-graduação, além de receber uma quantia em dinheiro e custeio da participação na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que neste ano será realizada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) em Recife.

Wenderson Rodrigues Fialho da Silva, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV), foi o vencedor da última edição na categoria Mestre e Doutor. Em seu trabalho, relata o desenvolvimento de sensores e equipamentos para saúde pública, segurança alimentar e monitoramento climático, realizado durante os anos de pós-graduação.

Fialho conta que seu interesse pela ciência existe desde a adolescência, quando consertava aparelhos eletrônicos na oficina montada em casa, que existe até hoje. Depois das aulas de laboratório, o jovem construía seus próprios equipamentos para tentar reproduzir os experimentos que havia aprendido na escola – ainda sem imaginar que isso, um dia, se tornaria sua linha de pesquisa. Em 2013, no terceiro ano do ensino médio, veio o primeiro prêmio científico da carreira, na Feira de Ciências da UFV, que foi um importante impulso – junto com o incentivo de professores – para seu ingresso na Universidade.

Durante a graduação e a pós, manteve seu entusiasmo em relação à física, ao desenvolvimento de equipamentos e à ciência. Enfrentou certo conservadorismo ao propor colaborações e projetos com a participação de diferentes departamentos: “A construção de equipamentos e sensores é naturalmente uma pesquisa multidisciplinar, porque todas as áreas precisam desses aparelhos”, argumenta. Ainda assim, teve seu trabalho reconhecido em diferentes simpósios e congressos.

Ao tomar conhecimento sobre o Prêmio Jovem Pesquisador, a princípio pensou que sua pesquisa não se encaixava muito bem no tema: “Na minha cabeça, conectividade e inclusão digital ficavam muito relacionadas à parte de software, desenvolvimento de web e de sites. Mas me aprofundando no que eu faço, que é o desenvolvimento de hardware conectado à internet, principalmente utilizando materiais alternativos e de baixo custo, percebi que isso também é importante para democratizar o acesso à informação”. A partir daí, e com o incentivo do orientador, Joaquim Bonfim Santos Mendes, o pesquisador escreveu e submeteu seu trabalho já nos últimos dias de inscrição.

Além do reconhecimento e das novas experiências, o pesquisador ressalta a visibilidade que uma premiação de escala nacional pode proporcionar, abrindo caminho para novas oportunidades profissionais, mas também motivando outras pessoas a seguirem o caminho da ciência: “Talvez elas consigam enxergar que é possível sair da condição que eu saí, porque eu sempre estudei em escola pública, meus pais estudaram só até a quarta série do ensino fundamental, minha mãe é dona de casa e meu pai é pedreiro, mas um dia eu acreditei que eu poderia tentar”.

Prêmio Capes de tese

A premiação anual oferecida pela Capes foi criada em 2005 e tem o objetivo de reconhecer os melhores trabalhos de doutorado desenvolvidos durante o ano nas diferentes áreas do conhecimento. Trata-se de um prêmio de alcance nacional que coroa a originalidade da tese, sua relevância tecnológica, cultural e social, a metodologia científica utilizada, além de redação, organização e qualidade do texto. A edição de 2024 contou com 1632 inscrições, 49 teses vencedoras, uma em cada área do conhecimento, e três premiados no Grande prêmio Capes de tese, que seleciona o melhor trabalho de cada colégio: ciências da vida, humanidades, e exatas, tecnológicas e multidisciplinar.

A pesquisadora Viviane Bezerra foi a vencedora da última edição na área de psicologia com sua tese sobre o engajamento da sociedade em ações de prevenção ao suicídio, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Bezerra conta que conheceu o Prêmio Capes logo que ingressou na pós-graduação, mas concorrer e ganhar parecia um sonho distante. Ainda assim, ao final do doutorado – com certa insegurança, mas confiante de que havia feito um bom trabalho – decidiu submeter sua tese à pré-seleção, realizada internamente pelo programa de pós-graduação, contando com o apoio de sua orientadora, Cleonice Pereira dos Santos Camino.

Bezerra conta que ser escolhida pela comissão de avaliação interna foi a primeira grande surpresa, e que ao receber a notícia de que sua pesquisa de doutorado havia sido considerada a melhor do Brasil na área de psicologia, quase não acreditou: “Realmente foi uma felicidade muito grande, principalmente por ser o reconhecimento não só de um trabalho final, mas de toda a minha trajetória”.

Além da importância profissional, da premiação em si – que consiste em uma bolsa para estágio pós-doutoral em instituição nacional, certificado e medalha – e da chance de levar visibilidade para sua área de pesquisa, Bezerra também considera esta conquista uma vitória pessoal. Ela destaca que mesmo diante do grande desafio de não ter recebido bolsa durante o período de estudo – o que fez com que precisasse trabalhar também fora da Universidade durante a pós-graduação – e do esforço para manter um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal, sua competência acadêmica recebeu o devido reconhecimento.

Prêmio jovem pesquisador Royal Society of Chemistry

A premiação é conferida pelo Comitê de Jovens Pesquisadores da Sociedade Brasileira de Química (JP-SBQ) e pela Royal Society of Chemistry (RSC) desde 2021, com o objetivo de reconhecer a competência científica e a qualidade dos jovens participantes das Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira de Química (RASBQ). Os ganhadores recebem certificado e uma quantia em dinheiro que poderá ser utilizada para a participação em eventos científicos internacionais (na categoria doutorando ou jovem doutor), e pagamento de bolsa de iniciação científica para aluno de graduação (na categoria início de carreira).

A RSC é a sociedade científica britânica que atua na área da química. De acordo com Elizabeth Magalhães, representante da RSC no Brasil, o objetivo da entidade ao premiar jovens pesquisadores é reconhecer não só a trajetória acadêmica, mas também a capacidade de autopromoção, ideias inovadoras e a atuação desses profissionais em diferentes frentes. “Como você se apresenta é muito importante: como se autopromove, o que quer para o futuro, como se vê como pesquisador. Queremos saber se a pessoa tem perspectiva, se já deu aula, se participa de ações sociais e projetos de extensão. Queremos premiar um cidadão científico”, afirma.

Na primeira edição do prêmio, Fábio Godoy Delolo, na época doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi um dos ganhadores. “Fui para dois congressos internacionais que aconteceram em locais bem próximos. Foi muito significativo, porque me proporcionou experiências em eventos no exterior, além da possibilidade de conhecer novas pessoas e novas linhas de pesquisas”, conta. Para Magalhães, esse deve ser o maior objetivo dos premiados: “Para começar, aproveitar como uma apresentação e se expor. O principal é fazer contatos e, se possível, se internacionalizar. É para abrir portas”.

A dica principal para os jovens cientistas, tanto da organizadora do prêmio, quanto do premiado, é se arriscar. “Sempre me inscrevi para muita coisa com o pensamento ‘se ganhar, ganhou, se não ganhar, tudo bem’. Penso que vou competir comigo mesmo, nunca me preocupei com o que as outras pessoas iriam pensar”, afirma Delolo. Para Magalhães, cada tentativa gera um aprendizado, mesmo que a pessoa não saia vencedora: “São poucas as pessoas que se inscrevem num prêmio e acertam logo de cara. Se você não se inscreve para tentar, você não aprende”.

Eduarda A. Moreira é doutora em ciências (USP) e especialista em jornalismo científico no Labjor/Unicamp