Bibliotecas carregam uma história específica na formação de seus acervos e nos prédios em que são abrigadas, além de narrarem um recorte temporal específico da história. No Estado de São Paulo, por exemplo, algumas bibliotecas estão abrigadas em museus-casas e guardam ricos acervos advindos de fundos pessoais, que pertenceram a importantes nomes da intelectualidade cultural do país. Exemplos desses acervos são as casas Guilherme de Almeida, Mario de Andrade e Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos, que são geridas pelo governo estadual em parceria com uma Organização Social, a Poiesis (Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura). Esses museus-casas cumprem a função de preservação e disseminação de um passado memorial.
Recentemente finalizado, o projeto de restauro Lacorpi reconstrói as obras vandalizadas nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, e também contribui na reparação da democracia e história cultural brasileira.
A criação de um museu-casa parte da ideia de se musealizar a vida de um indivíduo, gerando uma fusão entre o prédio, a coleção e a pessoa que lá viveu. A musealização consiste em extrair física e conceitualmente de um objeto algo do seu meio natural ou cultural de origem e conferi-lo um estatuto museológico. Esses objetos-testemunhos, que pertenceram a alguém, carregam consigo bem mais que uma memória pessoal, mas uma memória coletiva. Cada um deles, em sua particularidade, conta uma história, e traz um pedaço da bibliografia nacional.
Desde a década de 1990 a tecnologia de imagens, dos bits e da Internet, combina-se para democratizar o acesso a acervos de museus pelo mundo, mas problemas de acessibilidade ainda são comuns na maioria dos sites dessas instituições.
Desde o século XIX, os museus cumprem a função de guardiões da memória coletiva, atuando como mediadores entre o passado e o presente por meio da conservação e exposição de acervos. Contudo, a ascensão das tecnologias digitais reconfigurou esse papel. Plataformas como o TikTok introduzem novas formas de mediação, nas quais obras históricas são traduzidas em narrativas audiovisuais fragmentadas, interativas e adaptadas à lógica do engajamento.
Outro aspecto fulcral do museu-casa são seus acervos – que devem ser adequadamente preservados, exibidos e passíveis de extroversão –, comumente advindos de coleções particulares, e aquilo que ele permite de percepção de conexões entre os elementos que os compõem e que geram uma determinada configuração de referências históricas, biográficas, artísticas e culturais, as quais podem servir não só para a preservação de memória, mas também como objeto de reflexão sobre modos de viver, de pensar e de criar próprios dos contextos em que são gerados, incluindo-se a sua necessária releitura crítica com base na visão de outra época, mas sem desconsiderar a óptica da situação de origem.
Documentário conta o trabalho árduo e minucioso realizado no resgate do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, destruído por um incêndio em setembro de 2018
Este dossiê é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso de Job Batista Filho, aprovado com nota A em dezembro de 2024 no curso de Especialização em Jornalismo Científico do Labjor-Unicamp.