Arquivo da tag: Carlos Orsi

A lei das ‘fake news’, seus problemas e espantalhos

Por Carlos Orsi

Confesso que minha intenção original era não escrever nada, absolutamente nada, sobre o projeto de lei “das Fake News”, em tramitação na Câmara Federal. O motivo é simples: porque já escrevi demais. Sobre o dever cívico e moral de curadoria de que as redes sociais, aplicativos de mensagem e motores de busca tentam, cinicamente, se eximir; sobre os incentivos perversos que levam os algoritmos implementados por essas plataformas a promover ódio e divisão; sobre os riscos de envolver o aparato do Estado no combate à desinformação; e até sobre as armas de desonestidade intelectual usadas por quem deseja melar esse e outros debates (aqui e aqui). Continue lendo A lei das ‘fake news’, seus problemas e espantalhos

A politização da toca do coelho

Por Carlos Orsi

Das questões ainda em aberto sobre a intentona fascista de 8 de janeiro de 2023, talvez a mais intrigante seja: o que os bolsonaristas achavam que ia acontecer? A invasão e depredação de prédios públicos, vazios e trancados para o fim de semana, é um ato de selvageria e barbarismo, mas que dificilmente pode ser visto como uma tentativa séria de usurpar o poder ou desestabilizar o governo: não é como se os invasores estivessem tentando tomar o presidente recém-empossado como refém ou algo assim. Continue lendo A politização da toca do coelho

O mito da elite oprimida

Por Carlos Orsi

O elitista oprimido é o incel do mundo sócio-político-intelectual. O profeta seminal da raça foi, provavelmente, o filósofo reacionário francês Joseph de Maistre (1753-1821), que deixou copiosa obra onde afirma (e reafirma) sua inconformidade com a perda de poder e prestígio da aristocracia hereditária na Revolução Francesa, para ele uma abominação de proporções cósmicas. Continue lendo O mito da elite oprimida

Comunicação sensacionalista deixa ciência de ressaca

Por Marcelo Yamashita e Carlos Orsi, do Instituto Questão de Ciência

Publicado originalmente na revista Questão de Ciência e republicado na revista ComCiência com autorização dos autores.

A assessoria de imprensa bartender tem como contraparte e complemento o jornalismo bartender, que não existe para informar, mas entreter. Um dos recursos usados por esse tipo de jornalismo é, exatamente, o da sensacionalização da ciência, construindo estereótipos que reduzem descobertas científicas a anedotas de botequim e levam o público à indiferença (“se tudo causa câncer, para que parar de fumar?”). Nenhum engajamento vale esse preço. Continue lendo Comunicação sensacionalista deixa ciência de ressaca

O médico que é o monstro

Por Carlos Orsi

Em O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Sr. Hyde, a poção efervescente criada pelo médico produz uma transformação, uma libertação ou apenas oferece uma cobertura, um disfarce? Se for um disfarce: para os olhos da sociedade, ou para os do espelho? É uma indefinição que transcende a maior parte das adaptações e interpretações fáceis da novela, mantém a alegoria de Stevenson viva – e torna-a especialmente relevante neste momento em que uma efervescência de outro tipo revelou tantos médicos (e políticos, e militares, e jornalistas) com monstros dentro de si. Continue lendo O médico que é o monstro

E o escritor? Não “faz jus” à remuneração?

Por Carlos Orsi

Pedir a um autor que pague para trabalhar beira o escárnio. Claro, isso às vezes é inevitável, e todo profissional, em algum momento, se vê aplicando suas habilidades e perícias de modo voluntário, como um favor, numa emergência, para ajudar uma causa ou um amigo. Mas essas deveriam ser as exceções e não, como acontece com o ofício de escritor no Brasil, a regra. Publicar literatura no Brasil é uma atividade econômica de alto risco. O que não é um fato bruto, mas uma escolha historicamente construída, é a solução que o sistema literário brasileiro encontrou para o problema: descarregar esse risco sobre os ombros do autor. Continue lendo E o escritor? Não “faz jus” à remuneração?

Em ‘Eu, robô’ de Isaac Asimov, os robôs são distração

Por Carlos Orsi

Leitura do clássico vale, ainda hoje, tanto pela diversão que traz quanto pelas reflexões que provoca – não sobre a automação e seu impacto na sociedade, mas sobre a natureza da inteligência, a fluidez da linguagem (afinal, o que significa “ferir um ser humano?” o que é “ferir”? o que é “humano”?), sobre liberdade e, por fim, sobre a relação da humanidade com quaisquer tecnologias que cria. Continue lendo Em ‘Eu, robô’ de Isaac Asimov, os robôs são distração

Notícia falsa e inadequação das mídias em lidar com ela não são novidade, novidade é a saturação de fake news

Por Carlos Orsi

O início da Era da Pós-Verdade é fake news: o problema, para desespero dos populistas e dos marqueteiros, não é que as pessoas não se importam com a verdade, que a única forma de se comunicar com o público é por meio de apelos à emoção, à vaidade e ao preconceito, e sim que a verdade tem dificuldades em chamar a atenção num ambiente de mídia tão saturado quanto o contemporâneo. Continue lendo Notícia falsa e inadequação das mídias em lidar com ela não são novidade, novidade é a saturação de fake news

Embrapa e Unicamp debatem pós-verdade e jornalismo científico em 14 de novembro

4º Encontro Mídia e Pesquisa, no Centro de Convenções da Universidade de Campinas, trará convidados como Maurício Tuffani (Direto da Ciência), Roberto Romano (Unicamp), Jorge Duarte (Embrapa), Carlos Alberto Zanotti (PUC-Campinas), Daniel Bramatti (O Estado de S. Paulo) e Ângela Pimenta (USP) Continue lendo Embrapa e Unicamp debatem pós-verdade e jornalismo científico em 14 de novembro

A veia obscurantista da ficção científica

Por Carlos Orsi

O uso da ficção científica para falar mal da ciência e dos cientistas é uma prática consagrada pela história, comum até os dias de hoje e que não deve ser subestimada. Os mitos bíblicos do fruto proibido e da torre de Babel, não raro, espreitam por detrás do foguete brilhante, do robozinho simpático e da pistola de raios. Continue lendo A veia obscurantista da ficção científica