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Museu Aberto do Descobrimento: o Brasil renasce onde nasce

Fundação Quadrilátero do Descobrimento, São Paulo, 1994

Um belo equívoco

por Rafael Evangelista

Em 1994, quando foi lançado O Brasil renasce onde nasce, o Museu Aberto do Descobrimento (Made), não passava de um sonho na cabeça de Roberto Pinho, da Fundação Quadrilátero do Descobrimento. O livro era parte da estratégia de convencimento criada em torno da construção do Made e procurava ressaltar a importância da obra para a preservação do chamado quadrilátero do descobrimento, região em que aportaram as caravelas de Cabral há 501 anos. A idéia era que aquele espaço se tornasse um gigantesco museu aberto, que incluiria até mesmo um parque temático.

Leia também a entrevista de Roberto Pinho, o idealizador do Museu Aberto do Descobrimento

Passados cinco anos da publicação do livro, o sonho de Roberto Pinho não se realizou. A Fundação Quadrilátero do Descobrimento não existe mais e o projeto faraônico descrito no livro deu lugar a outras iniciativas, mais modestas e aparentemente mais sustentáveis. O livro, contudo, sobrevive principalmente pelas belas imagens contidas na maioria das páginas dessa riquíssima edição ilustrada (patrocinada pela Fiesp).

Os textos reflexivos, de autores como Arnaldo Jabor, Caetano Veloso e do próprio Roberto Pinho, são apenas reveladores do modelo de apropriação do local pensado pela Fundação Quadrilátero. Exceção seja feita ao texto de Antônio Risério, um belo ensaio sobre como a palavra Brasil significava, antes de 1500, o paraíso na Terra; e sobre a influência do índio brasileiro nas conclusões de Rousseau acerca da natural bondade humana.

Com a mesma pretensa veia poética de seus escritos jornalísticos Arnaldo Jabor, no texto "Enigma Brasil" escreve em primeira pessoa fazendo as vezes da pátria brasileira. Assim, conta a sua visão da história do Brasil, que culmina com o fim das utopias, tanto comunistas como neoliberais. Jabor tem a esperança de que desse dilema, somado à mistura das três raças e à natureza exuberante surja uma solução para o Brasil. É um texto dispensável.

De autoria de Roberto Pinho e do obscuro historiador José Luís Conceição da Silva, "Utopia I" é um capítulo detalhista demais sobre a história de Portugal. Pode-se perguntar qual a razão deste texto estar no livro, pois o tom é de claro ufanismo com a consolidação de Portugal como primeira nação do mundo e com a utopia que teria movido as navegações lusitanas.

O livro encerra-se com "Utopia II", palestra proferida por Caetano Veloso em 1993. Tem toda a efusividade contraditória do pensamento do compositor baiano que, de opositor ao regime militar nas décadas de 60 e 70, passou a apadrinhado de ACM. O caminho para o desenvolvimento do Brasil segundo Caetano Veloso, parece ser o que Roberto Pinho pretendeu aplicar para a costa do descobrimento. Significa o oposto do que o ditador português Salazar pensava para o seu país: "Prefiro ver Portugal pobre do que Portugal diferente". Caetano e Pinho imaginam, dentro de uma lógica dualista, que para deixar de ser pobre é preciso se tornar diferente.

Mais do que falar sobre o Brasil e a cultura brasileira, os textos falam sobre seus autores, "intelectuais" da década de 60 e 70 que incorporaram a ideologia do neoliberalismo mesmo sem admiti-lo. O interessante é que, para eles, o Brasil continua tendo a oferecer ao mundo apenas a natureza, seja ela biológica (as matas, os animais selvagens, as praias) ou cultural, em que os índios e sua cultura são tomados como parte dessa natureza. A idéia com o Made seria criar um núcleo de identidade (e identificação) nacional e o item principal que a compõe é essa natureza exótica, altamente vendável.

Atualizado em 10/03/01
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