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O velho e o mar
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O Velho e o Mar
Ernest Hemingway. Bertrand Brasil, 2000.

por Sara Nanni

A relação do ser humano com o mar e a luta pela sobrevivência, empreendida pelo homem são elementos centrais da narrativa de O Velho e o Mar, escrito por Ernest Hemingway em 1952. Desafiado pelos pescadores mais jovens, o velho Santiago sai ao mar aberto de Havana, em Cuba, para provar aos companheiros que ainda pode fazer pescarias bem sucedidas. Com mais de 84 dias sem fisgar peixe algum, ele sente-se obrigado a provar aos outros que ainda é vigoroso na profissão. Lança-se aos perigos do mar. Com pouca água para beber, alimenta-se de golfinhos e peixes voadores. Luta com os tubarões, o sol forte que vincara sua pele durante a vida inteira e a solidão do mar. Fingindo que conversa com alguém, fala em voz alta fatos do passado. Espera que um peixe grande fisgue o anzol atraído pela isca que ganhara do garoto Manolín, aprendiz e companheiro da pesca, que abandonara o velho por exigência da família. Obrigado a acompanhar pescadores com mais sorte, Manolín teve de abdicar do saber de Santiago.

A vida inteira o velho esteve no mar, empreendendo lutas e saindo-se vitorioso. Conhecer as marés, as mudanças climáticas, a localização dos cardumes e o comportamento dos peixes havia dado a Santiago um passado de vitórias. No entanto, faz contraponto ao seu esforço a vida de privações do pescador. Mora num casebre e dorme sobre uma cama que não passa de jornais velhos amontados e ressequidos. O que teria levado o pescador a essa situação? O mar teria sido traiçoeiro com ele, impedindo que dele tirasse riqueza suficiente para que pudesse sobreviver? A ganância dos homens teria abusado dos recursos do mar, devastando seu próprio sustento? O velho e o mar não dá respostas a essas perguntas, mas esclarece a essência da vida do pescador e da pesca. É preciso conhecimento, mas também é preciso sorte. Há tempos em que a produção é baixa e o sofrimento do trabalho raras vezes é recompensado materialmente. Há aqueles favorecidos que, em épocas de excelente pescaria de determinada espécie, conseguem comprar sua própria embarcação e apetrechos modernos. Porém, a maioria não possui meios próprios de trabalho, faz as pescarias em barcos de terceiros e fica a mercê dos preços oferecidos pelos atravessadores. "A vela fora remendada em vários pontos com velhos sacos de farinha e, assim enrolada, parecia a bandeira de uma derrota permanente", conta o início da narrativa.

Assim como todas as outras personagens criadas pelo escritor, Santiago também se defronta com a "evidência trágica" do fim. Após passar vários dias em alto mar em seu pequeno barco a vela, ele enfim consegue capturar o maior peixe que já havia visto na vida, com mais de 5 metros de comprimento. São dias e noites de luta, tentando vencer a força e a resistência do peixe, ficando quase cego diante do sol forte e sem o movimento de uma das mãos, já cortadas em razão da força com que segurava o animal pela linha. Depois de amarrá-lo no barco, ele é perseguido por vários tubarões até próximo à costa. Ele consegue livrar-se de todos, mas a todo o momento corre o risco de ser morto. O pescador chega exaurido à praia com apenas o esqueleto do peixe que havia capturado. Os outros pescadores medem o comprimento do que restou do peixe e Santiago passa a ser admirado por todos. Mais do que a luta com o peixe, o que Santiago empreende no mar é a luta consigo. Paciência diante de dificuldades quase intransponíveis, sabedoria e persistência são elementos que lhe garantem sobrevivência diante do trágico.

Embora tenha conseguido provar aos outros sua capacidade como bom pescador, o velho tem a visão nítida de como é sua vida. Luta infindável que, apesar das vitórias, garantindo-lhe a sobrevivência, relega a ele a dor e a busca eterna de uma vida melhor.

Reminiscências do escritor
"Tudo o que nele existia era velho, com exceção dos olhos, que eram da cor do mar, alegres e indomáveis", assim é descrito Santiago. Alguns críticos de literatura contam que o personagem Santiago foi, na realidade, Gregorio Fuentes, que fora capitão do barco de Hemingway durante os 30 anos que o escritor viveu em Cuba. Conheceram-se em 1928 e, dois anos depois, Hemingway contratou o pescador para ser cozinheiro e capitão do seu barco "Pilar". Antes de regressar aos Estados Unidos, em 1960, o escritor teria dito ao amigo: "toma conta de ti, como sempre soubeste fazer".

Visto como atração turística em Cuba após o lançamento do livro, Fuentes decidiu doar o barco ao governo cubano após o suicídio do escritor, em 1961. Ele está exposto em frente à casa onde Hemingway viveu, perto de Havana.

Dois anos após a publicação desse livro, que se tornou um clássico da literatura contemporânea, Hemingway recebeu o prêmio Nobel de Literatura.

Atualizado em 10/03/03
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2003
SBPC/Labjor

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