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IBM e o holocausto
Edwin Black

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IBM e o holocausto. Edwin Black. Ed. Campos, 2001.

por Juliana Schober
Gonçalves Lima

IBM e o holocausto é um livro formidável e ao mesmo tempo terrível. É um estudo minucioso sobre o holocausto. Para escrevê-lo, Edwin Black pesquisou grande quantidade de documentos sobre o assunto. Contou com a colaboração de mais de 100 pessoas, sobreviventes do holocausto, filhos de sobreviventes, refugiados, pesquisadores, arquivistas, historiadores e muitos outros. No livro, Black mostra que a IBM alemã participou conscientemente e foi cúmplice do assassinato de milhões de judeus – e enriqueceu muito com isso.

O autor é filho de sobreviventes judeus poloneses. "Meus pais são sobreviventes do holocausto, arrancados de nossa casa, na Polônia. Minha mãe fugiu de Treblinka, foi baleada e em seguida enterrada numa cova rasa coletiva. Meu pai conseguiu fugir de uma fila de judeus e descobriu as pernas de minha mãe projetando-se na neve. Sob o luar e como ato de pura coragem, os dois fugitivos sobreviveram ao frio, à fome e ao Reich", escreve Black. Anos depois da fuga de seus pais, em 1993, numa visita ao Museu do Holocausto, nos Estados Unidos, ele se defrontou com uma máquina IBM Hollerith D-11 de classificação de cartões. Naquele momento, prometeu aos seus pais, que o acompanhavam, que descobriria mais fatos sobre a relação entre aquela peça de museu e os nazistas. O livro estava apenas começando.

Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler chegou ao poder, levando consigo o ódio pelos judeus – ódio compartilhado por todos nazistas. Os judeus viviam na Alemanha desde o século IV d.C. Durante a Idade Média já eram perseguidos pelo anti-semitismo que, historicamente, existia por toda Europa. Muitos judeus, para escaparem das perseguições medievais na Alemanha, converteram-se ao Cristianismo. Outros, casaram-se com não-judeus e criaram filhos cristãos. Muitos alemães nem sabiam que tinham ascendência judaica. Mas, para os nazistas, que os acusavam de poluir o sangue ariano, a linha hereditária era o que contava, e não somente a prática religiosa. Mas quem eram, quantos eram, onde estavam?

Trecho
"Em agosto de 1943, um comerciante de madeira de Bendzin, Polônia, chegou entre um grupo de 400 prisioneiros, a maioria judeus. Primeiro, um médico o examinou e rapidamente, a fim de determinar suas condições físicas para o trabalho. As informações referentes ao exame médico foram lançadas numa ficha médica para o 'arquivo do hospital do campo'. Segundo, completou-se seu registro de prisioneiro, com todos os detalhes pessoais. Terceiro, seu nome foi confrontado com os arquivos da Seção Política para verificar se o prisioneiro seria submetido a crueldades especiais. Finalmente, ele foi cadastrado pelo equipamento Hollerith típico de cinco dígitos, 44673. Esse número de cinco dígitos seguiria o comerciante polonês nas sucessivas atribuições de trabalho, à medida que os sistemas Hollerith mantinham o controle de sua movimentação e disponibilidade para o trabalho, reportando a situação ao arquivo central de internos"

A contagem e identificação rápida dos tornou-se um desafio tecnológico para o Reich. A tecnologia Hollerith de cartões perfurados era a tecnologia de informação mais sofisticada que existia na época, por isso foi utilizada para a identificação da raça e religião dos alemães. Essa tecnologia consistia em um cartão com orifícios padronizados, cada orifício indicava uma característica diferente de uma pessoa. Introduzidos em uma máquina, os cartões podiam ser lidos e classificados de acordo com as informações contidas. Herman Hollerith foi o inventor das máquinas de cartões que eram comercializadas e fabricadas pela IBM. Inicialmente, essa tecnologia foi concebida para contagem populacional e utilizada por muitos países para recenseamentos que na época, além de muito demorados, eram também muito caros. Mas logo se percebeu que tratava-se de tecnologia que poderia ter ampla aplicação. Assim, muitos cartões perfurados, definidos pelo autor como "o código de barras do século XIX para os seres humanos", passaram a ser depósitos de informações de milhares de judeus.

O livro de Black mostra como a organização maciça da informação, naquela ocasião feita pela IBM, foi transformada em ferramenta de controle social e arma de guerra. Na visão do autor, o fato da IBM possuir o monopólio tecnológico, permitia que a empresa exercesse influência contínua e crucial sobre a própria capacidade da Alemanha nazista de planejar a guerra.

Em pronunciamento à imprensa, a empresa IBM considera as atrocidades cometidas pelo regime Nazista "horrendas" e "condena qualquer ação que tenha contribuído para que elas tenham se tornado realidade". A empresa também afirma não ter muitas informações sobre o funcionamento da Dehomag, subsidiária da IBM na Alemanha nazista. Segundo a IBM, o controle da Dehomag, como várias outras empresas estrangeiras que mantinham negócios com a Alemanha na época, passou a ser de domínio dos nazistas. Mas Black, em algumas passagens do livro, afirma que a IBM tinha conhecimento do que estava acontecendo.

Apesar dos recenseamentos e cadastramentos terem sido divulgados pela mídia, bem como os horrores dos campos de concentração, Black afirma que a metodologia e a tecnologia dessas atividades - e as conexões com a IBM - ainda estavam longe da consciência pública. Ao mesmo tempo, vale salientar que parte da sociedade civil esteve diretamente envolvida no holocausto, criando condições adequadas para o uso da tecnologia nas práticas nazistas.

Atualizado em 10/06/02
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