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Terceira Idade: Gestão Contemporânea em Saúde
Renato Veras

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Terceira Idade: gestão contemporânea em saúde
Renato Veras.
Editora Relume-Dumará/UnATI, 2002

por Alexandre Kalache

O século XX se caracterizou por imensas transformações. O livro que ora analisamos tematiza talvez a maior delas: o envelhecimento populacional. A esperança de vida cresceu, mundialmente, cerca de 30 anos neste último século. As conseqüências dessa maior longevidade são dramáticas e pouco apreciadas. Toda a sociedade está sendo afetada - e continuará a sê-lo na medida em que esperamos para as próximas décadas, um processo de envelhecimento ainda mais rápido, refletindo a diminuição acelerada das taxas de natalidade dos últimos anos na maioria dos países. A equação demográfica é simples: quanto menor o número de jovens e maior o número de adultos atingindo a terceira idade, mais rápido é o envelhecimento populacional.

Fundamentalmente, envelhecimento é uma conquista: envelhecer é bom, o ruim é morrer cedo. E o que era antes o privilégio de poucos, chegar a velhice, hoje passa a ser a norma, mesmo nos países mais pobres. Esta conquista maior do século XX se transforma no entanto em um grande desafio para o século que se inicia.

No Brasil, o envelhecimento populacional caminhou em paralelo à progressiva urbanização e respondeu a um processo de complexificação científica e tecnológica nas mais variadas áreas do conhecimento - sobretudo no âmbito da biologia e medicina. Portanto, não apenas a estrutura da população se transformou profundamente, como também suas expectativas e valores.

Cabe observar que a transição demográfica constitui um fenômeno global, embora as diferenças entre as sociedades sejam, sob este aspecto, muito pronunciadas. Assim, nos países em desenvolvimento, a urbanização e a modernização têm sido, via de regra, bastante assimétricas e, com freqüência, desordenadas. Daí o fato que explica porque em um país como o Brasil coexistam diferentes tempos históricos em um mesmo espaço geográfico.

Ainda que em países extremamente pobres, como os da África subsahariana, o aumento da expectativa de vida seja modesto, se comparado ao observado nas sociedades desenvolvidas, diversos desses países se vêem às voltas com uma população que reclama atenção e recursos em ambas as suas "pontas", ou seja, existe uma população muito jovem de importância central, mas também um contingente crescente de pessoas mais velhas que vêm experimentando incrementos substanciais nas últimas décadas. Estes idosos cumprem por vezes um papel fundamental - como na África, assolada pela pandemia do AIDS, onde são eles que cuidam dos filhos aidéticos e, após a morte dos mesmos, dos netos órfãos.

O Brasil, país de nível intermediário de renda per capita, marcado por profundas desigualdades sociais, apresenta situações absolutamente contrastantes, com estratos sociais privilegiados exibindo padrões demográficos e comportamentais em tudo semelhantes aos existentes nos países desenvolvidos e populações carentes de recursos básicos, como habitação, saneamento e alimentação adequada. Do ponto de vista demográfico, não resta dúvida de que existe uma superposição em nosso país de uma população jovem de dimensão muito relevante, com uma população envelhecida igualmente expressiva. Na feliz expressão do autor do presente livro trata-se de um "país jovem de cabelos brancos".

Renato Veras e seus assistentes, ao longo de diversos artigos e coletâneas, vêm documentando exaustivamente a transição demográfica brasileira e suas importantes conseqüências para a dinâmica social e a saúde coletiva. No presente trabalho, Veras vai além das formulações anteriores: não restando dúvida sobre a extensão e a profundidade das transformações, o que fazer para lidar com elas de forma a mais adequada possível?

Desde o título, este novo conjunto de desafios se explicita claramente - trata-se agora de encontrar meios e instrumentos para gerir de forma eficaz, efetiva e eqüitativa um conjunto de problemas de saúde de uma população crescente de idosos num contexto de recursos humanos e materiais limitados.

Os textos deste instigante trabalho propõem uma rediscussão do paradigma da assistência aos idosos e das práticas no âmbito da gestão, prevenção e assistência a essa população.

Temas como os custos da assistência médico-hospitalar e as doenças mais freqüentes nessa população - como a hipertensão e outras doenças cardiovasculares - merecem capítulos específicos que se beneficiam da vasta leitura e experiência dos autores na sua prática na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

O livro não é apenas crítica em relação aos modelos vigentes, mas, fundamentalmente, propositiva, e talvez resida aí sua maior virtude, uma vez que a assistência integral à população idosa constitui questão premente, que reclama propostas factíveis e pragmáticas.

Frente a uma medicina que muitas vezes tem amesquinhado sua dimensão humanitária à medida que sofistica seu arsenal terapêutico e procedimentos diagnósticos e "fragmenta" em subespecialidades a atenção médica, Veras e colaboradores contrapõem uma gestão com face humana, plenamente integrada à prevenção e à promoção propriamente dita da saúde. Afinal, na saúde, como em todas as grandes coisas a conquistar, cabe combinar "engenho e arte", como bem indica a sabedoria popular.

Alexandre Kalache é médico e chefe do Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde - Genebra

Atualizado em 10/09/02
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2002
SBPC/Labjor

Brasil