Descobertas científicas para salvar feridos de guerra

Durante as guerras, o inimigo não é apenas o país contrário. Muitas doenças acabam provocando mais baixas entre os soldados do que o combate direto. Por isso, os países envolvidos em guerras investem nas descobertas de novos medicamentos ou na produção maciça de produtos já conhecidos. O que inicialmente visava somente a reduzir o número de feridos nas guerras, aos poucos foi alterando o desenvolvimento da medicina. Alguns exemplos disso são:

Penicilina
Durante a 1ª Guerra Mundial, Alexander Fleming (1881-1955) começou a experimentar substâncias antibacterianas e, em 1921, descobriu uma enzima antibiótica que atacava vários tipos de bactérias. Contudo, Fleming não pôde produzir quantidade suficiente de penicilina para uso e sua descoberta ficou mais conhecida como curiosidade científica.

Revista sobre uso da penicilina durante a 2ª Guerra Mundial. (Fonte: The World War II Combat Medic)


Material utilizado na guerra para aplicação de penicilina. (Fonte: The World War II Combat Medic)


Na 2ª Guerra, cientistas da Universidade de Oxford redescobriram o trabalho de Fleming, mas foram os Estados Unidos que investiram na sua produção maciça. O governo autorizou 19 companhias a produzir o antibiótico utilizando a técnica da empresa Pfizer, com a sua concordância. A Pfizer produziu 90% da penicilina usada pelas forças aliadas na 2ª Guerra.

No Brasil, em 1942, chegava a notícia dos "milagres" curativos conseguidos com a penicilina. Nessa época, a exportação do antibiótico era proibida por ele ser considerado uma droga de interesse militar e estratégico, ainda, com produção reduzida. O então diretor do Instituto Oswaldo Cruz, Henrique Aragão, resolveu instalar em Manguinhos uma fábrica-piloto de penicilina. No primeiro semestre de 1943, o antibiótico já estava sendo produzido no Brasil. Embora ainda em estado bruto, foi empregado com êxito em várias infecções bacterianas, tendo sido até enviado para outros países, como a Espanha.

Quinina
Durante a 2ª Guerra, mais de 600 mil tropas americanas na África e Pacífico Sul contraíram malária e a média de mortalidade era de 10%. Para piorar a situação dos soldados americanos, o exército alemão apoderou-se de toda a reserva de quinina (medicamento usado como antimalárico e antipirético) da Europa quando invadiu Amsterdã. Quando os japoneses invadiram a Indonésia, em 1942, os Estados Unidos e seus aliados ficaram quase sem fornecimento de quinina.



A solução encontrada pelos Estados Unidos foi levar das Filipinas quatro milhões de sementes de cinchona (planta com que se produz a quinina), que foram diretamente para Maryland (EUA) e, depois de germinadas, foram enviadas para a Costa Rica para serem plantadas. Como não havia chances de as plantas amadurecerem a tempo de atender às necessidades de quinina na guerra, o governo americano enviou botânicos para coletar novas espécies de cinchona na América do Sul.

Morfina
Depois do invento da agulha hipodérmica, durante a 1ª Guerra Civil americana (1861-1865), as injeções de morfina passaram a ser indispensáveis para a realização de intervenções cirúrgicas. Durante a 1ª Guerra Mundial, a empresa farmacêutica Squibb desenvolveu um método que permitia a aplicação de doses controladas da droga aos soldados feridos para diminuir a dor.

Syrette produzido para o uso de morfina nas guerras
World War II Combat Medic (Fonte: The World War II Combat Medic)


Método para injetar morfina divulgado no Manual para Soldados, em 1943. (Fonte: The World War II Combat Medic)


A Squibb produziu o chamado Syrette, que era como um tubo de pasta de dente em miniatura que continha a morfina. O Syrette tinha uma agulha acoplada ao tubo que era utilizada para perfurá-lo e evitar a superdosagem. Um pequena dosagem combinada com o esgotamento físico era o suficiente para deixar inconsciente o ferido.

Transfusões
Durante a 1ª Guerra Mundial aplicaram-se muitas transfusões de sangue em soldados feridos. Naturalmente, o sangue coagula rápido e existem muitas dificuldades para transportá-lo para o campo de batalha. Durante a 2ª Guerra, o avanço tecnológico permitiu o aumento do uso do sangue, que passou a ser convertido em plasma. Foram realizadas inúmeras campanhas de doações que surtiram efeito. Nesse período, foram doadas cerca de 13 milhões de unidades de sangue convertidas em plasma, nos Estados Unidos. Calcula-se que em Londres mais de 260 mil litros de sangue foram coletados e distribuídos.

Vacina para tifo
Condições precárias de higiene são propícias à propagação do tifo, razão pela qual essa doença é tradicionalmente associada a períodos de guerra, campos de refugiados, prisões e campos de concentração. Causado pela Rickettsia prowazekii, o tifo exantemático (um tipo de tifo) é transmitido pelo piolho que se infecta ao picar um indivíduo contaminado.

Durante a 2ª Guerra foi desenvolvida uma vacina que consegue conter o avanço da doença em pessoas contaminadas. Apesar da técnica de vacinação e de combate ao piolho, o tifo exantemático ainda é uma ameaça constante aos povos miseráveis de todo o mundo.

(LC)