Os Caçadores de Vagalumes
   
 
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O acordo Brasil-EUA

O programa espacial chinês:
Alberto Betzler

Alcântara e as comunidades tradicionais

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Barreira do Inferno
A Estação Espacial Internacional, um projeto científico?

Exploração espacial e desenvolvimento:
Ronaldo Garcia

A corrida espacial
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Vida extraterrestre:
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Observatórios e a divulgação da ciência

Formação de sistemas planetários:
Carlos Alberto de Oliveira Torres

Ascenção e queda de satélites

Pedras no caminho:
Ulisses Capozoli

Cometas, asteróides e meteoros
O que matou os dinossauros?

Bólidos caem no Amazonas:
Ramiro de la Reza

Poema
 

Carlos Vogt

Eu nunca cacei cometas,

nunca nenhum saci cavalgou na garupa dos cavalos em que viajei,

jamais dobrei a noite das esquinas de Sales Oliveira, sem que tivesse medo de topar

com a ausência brusca da cabeça escura da mula-sem-cabeça.

Eu fui, isso sim, um grande caçador de vagalumes,

com vidros cheios de lanternas vivas, iscas de tiques e estalos de pescoço,

com tições em brasa riscando a escuridão do Triângulo,

que abastecia de lenha as máquinas da Mogiana.

Ali, onde meu pai, menino, jura ter visto aparições temíveis,

vi apenas o meu e o medo de outros meninos com medo das aparições.

Mas o cometa Halley, este sim, eu vi, quando era menino,

cortar de silêncio e espetáculo o poente do céu da infância de meu velho pai;

vi também muitas outras coisas com os olhos adultos e as mãos atentas de seleiro,

que cortavam o couro e teciam arreios para os colonos e fazendeiros dos cafezais,

com estes olhos e aquelas mãos que cortavam o couro e teciam enredos.

 

Por Sales Oliveira, passaram muitos cometas,

desses mais triviais que o tempo deixou sem uso e superstição,

cometas-vendedores, de roupas, de jóias, de supérfluos, de bijouterias,

que pousavam na pensão de Dona Itália;

mais freqüentes que os do céu, mais transitórios na terra,

fortes, contudo, na regularidade e cíclicos na invenção,

cheios de histórias e fantasias, de mundos estrangeiros, de prosopopéias,

feitos não só de silêncios luminosos, mas de lâminas sonoras de persuasão.

 

Quando o cometa Halley aparecer de novo e meu pai tiver completos seus oitenta anos,

já não serei eu mesmo, sem ter sido outro,

não estarei em Sales, tampouco a selaria, a Mogiana, os colonos, os cafezais,

não haverá cometas, desses sem uso de compra e venda, por desusados;

juntos estaremos a olhar as terras que olham retas o risco branco que corta a noite,

a mesma noite em que, meninos, seremos velhos, perto e distantes na solidão.

   
           
     

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Atualizado em 10/02/2001

   
     

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