Missão de Pesquisas Folclóricas resgata cultura do norte e nordeste    
 
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A biodiversidade e o novo milênio
Vera de Almeida e Val
Contrastes e confrontos
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As línguas indígenas na Amazônia
Panorama das línguas indígenas
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Lucy Seki e o indigenismo
As várias faces da Amazônia
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Missão de pesquisas folclóricas

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Mamirauá
Vídeo nas aldeias
A música dos Urubu-Kaapor
 

Registrar as manifestações folclóricas do Brasil antes que elas desaparecessem era o objetivo principal do Projeto Missão de Pesquisas Folclóricas. A iniciativa partiu do escritor Mário de Andrade, que, na década de 30, exercia a função de Diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo. Sua preocupação era que o rádio - o meio de comunicação que dominava na época - pudesse acabar com nossas expressões populares.

O projeto de Mário de Andrade consistiu em enviar uma expedição de quatro pessoas escolhidas por ele, em 1938, para gravar em equipamentos de som e imagem, as danças e músicas do Brasil.

A equipe, formada por Luiz Saia, chefe da expedição, Martin Braunwieser, maestro austríaco, Benedito Pacheco, técnico do departamento, e Antônio Ladeira, assistente-técnico da missão, partiu em fevereiro daquele ano rumo ao nordeste e norte do país e só retornou em agosto, por ordem do novo prefeito de São Paulo, Prestes Maia, que afastou Mário de Andrade do cargo e desfez, assim, a expedição.

Na bagagem, os integrantes trouxeram um rico acervo composto por cerca de mil objetos, entre adornos usados pelas comunidades visitadas, fotos, filmes, músicas gravadas e anotações. Ao todo, visitaram 28 cidades dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Maranhão e Pará. Sessenta anos depois, os cineastas Luiz Adriano Daminello e Jorge Palmari se interessaram por refazer o roteiro de viagem comandada por Mário de Andrade e descobrir o que havia restado daquelas manifestações populares.

O Projeto Nova Missão de Pesquisas Folclóricas iniciou-se em 1992, com a leitura dos diários dos integrantes da missão, dos jornais da época e de livros e teses sobre o assunto, além da análise do material coletado pelo grupo.

Depois disso, foi feita uma primeira viagem para contato com os grupos e, em setembro de 1997, os cineastas partiram novamente para uma viagem de três meses, desta vez com equipamentos de som e imagem. Resultado deste trabalho, foi o documentário Missão de Pesquisas Folclóricas, exibido pela TV Cultura.

No final do ano passado o projeto iniciou uma nova etapa, sob a coordenação do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp (Labjor) e o apoio da Fapesp. O objetivo agora é comparar os registros feitos pela Missão de Mário de Andrade com o material coletado pelos cineastas, em relação aos aspectos estéticos, melódicos e do ritual. Além disso, com a participação de pesquisadores do Laboratório, será feito um estudo da interferência da mídia nessas tradições.

Para realizar essas análises, em junho deste ano, os cineastas partiram para uma nova viagem, revisitando alguns lugares e colhendo depoimentos e entrevistas de cantadores e dançadores, a fim de descobrir suas origens, condições sociais e suas opiniões sobre as festas de que participam.

Os dois cineastas percorreram cerca de três mil quilômetros de carro até Belém (PA). Chegaram à cidade durante os Festivais de Pássaros, um tipo de teatro popular. Registraram também diversas apresentações de bois-bumbás e entrevistaram os brincantes.

Para cada manifestação, Jorge e Luiz procuravam o apoio de estudiosos. "Cada tradição possui especialistas e livros publicados. Além disso, as universidades desenvolvem muitas pesquisas sobre os grupos", esclarece Daminello.

Um mês depois, prosseguiram ao Maranhão. Lá, os grupos de bois-bumbás estavam se apresentando em 16 arraiais - espaços que podem ser desde simples cruzamento entre duas ruas até um lugar enorme com barracas de alimentação e jogos.

Durante as festas juninas, cada grupo apresenta-se por uma hora e se transfere para outro arraial, dando vez para o próximo. "Isso alterou a forma tradicional de se manifestar, em que um grupo se apresentava em um único lugar, durante toda a noite, cantando e representando seu teatro, na frente da casa de quem convidava, em troca de mingau e bebida", analisa Luiz Adriano Daminello.

Os bois-bumbás do Maranhão são divididos em estilos ou sotaques. O Boi da Ilha com estilos indígenas, o Boi de Zabumba de forte raiz africana, o Boi de Baixada que possui as raízes nas cidades do interior do estado, o Boi de Orquestra mais musical e feito preferencialmente pelos brancos. Cada um desses grupos possui suas especificidades em relação à fantasia, ao ritmo e à apresentação.

Além dos bois-bumbás, os cineastas filmaram e entrevistaram outras manifestações folclóricas do Maranhão. Um deles é o Tambor de Crioula, um batuque em ritmo de festa dançado por mulheres. Outro é o Tambor de Mina, ritual de religião afro-brasileira, de origem dos negros vindos de Benin. Além do Auto do Boi, nome dado pelos intelectuais para o teatro popular realizado nas apresentações do grupo.

"Durante a apresentação, os participantes do Tambor de Mina cantam e dançam aos toques dos tambores e entram em transe, sendo "possuídos" por entidades mágicas, curiosamente, deuses africanos ou ancestrais europeus, como nobres franceses ou portugueses, como D. Sebastião, e até mesmo caboclos e índios", observa Daminello.

De volta a São Paulo no final de agosto, Luiz e Jorge trazem os registros de cerca de 40 grupos, entre imagens e entrevistas. Eles já se preparam para nova viagem, com destino à Paraíba, com o objetivo de terminar as pesquisas, que será realizada no final do ano, para aproveitar as apresentações dos grupos de folguedos natalinos.

Com o fim das pesquisas de campo serão iniciadas as análises do material coletado e terá início a elaboração de produtos culturais, como o documentário em cinco capítulos e um CD com músicas gravadas na expedição. No entanto, eles esclarecem que, com o apoio de patrocinadores, poderão surgir novos produtos, como um catálogo sobre a Missão de Pesquisas Folclóricas de 1938 e a recente, um site com imagens, sons e pesquisas sobre os grupos folclóricos, entre outros.

Em relação à influência da mídia e à originalidade desses grupos, Daminello salienta que a maior alteração se dá na forma de apresentação. "A partir da bibliografia dos folcloristas deste século, percebemos que, durante as apresentações atuais, não fica claro se eles são folclóricos e tradicionais ou fazem parte da indústria cultural de massa", avalia. "Ainda faltam dados numéricos para demonstrar alguns fatos observados".

   
           
     

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Atualizado em 10/11/2000

   
     

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