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Ciência à vista: USP debate melhorias para museus
Por Kátia Kishi
08/08/2015
Os museus são importantes formas de divulgação científica que podem conversar e despertar reflexões com o público. Muitos espaços como esses estão sob cuidados de universidades públicas, sendo necessária a discussão e a mobilização dessas instituições para promover políticas que verdadeiramente assumam o compromisso de divulgar ciência, como indica Maria Arminda do Nascimento Arruda, Pró-Reitora de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, na abertura do Ciência à vista. 

O evento, que ocorreu nos dias 10 e 11 de julho, fez parte do I Seminário internacional de políticas universitárias de difusão científica, e foi organizado pela USP no Parque CienTec, em São Paulo, com o intuito de discutir quais as melhores estratégias para divulgar ciência nesses espaços. 

Os seminários contaram com as experiências de diretores de museus internacionais, que destacaram a conciliação entre arte e ciência durante a mesa Vocações e provocações. A principal ideia dessa mesa foi discutir o papel dos museus para a divulgação científica e quais experimentações foram positivas, como explica Jorge Wagensberg, diretor do museu CosmoCaixa Barcelona, na Espanha. “Acredito que o mais importante para um museu é dar o estímulo, que é a primeira parte de todo processo de ganhar um novo conhecimento. Primeiro há o estimulo, depois vem a conversação e, por último, está a compreensão. E, dessas três fases, o que melhor faz o museu é a primeira parte, o estímulo”. 

A mesma ideia é defendida por outros museólogos. Sarah Durcan, diretora do Science Gallery, em Dublin, na Irlanda, explica que suas exposições seguem três valores: conexão, participação e surpresa. Os monitores participam das descobertas com os visitantes, e, em vez de apenas explicar o que tem no museu, questionam e convidam o público a participar das visitas. Na exposição Lover Lab, por exemplo, as pessoas poderiam analisar as bactérias de seu próprio beijo e até deixar as imagens expostas no museu. Durcan também defende que esses espaços devem entrar no cotidiano das pessoas e propor estratégias para que elas voltem e se sintam à vontade, além de não poder ter receio de provocar e levantar discussões. 

Apresentações pensadas para provocar os visitantes também é a aposta do National Media Museum, em Bradford, Inglaterra. Segundo a diretora Jo Quinton Tulloch, existem peças para o manuseio do público e espaços para engajar a conversação entre cientistas, adultos e crianças, para que compreendam como a ciência afeta a vida das pessoas, além de medirem o impacto dos visitantes para amostras futuras. Wagensberg, do museu Cosmocaixa, concorda e explica como essas abordagens são importantes. “Os melhores estímulos são aqueles que o visitante pode ver uma contradição entre o que vê e o que crê. Isso desperta. E o resultado é que ele quer aprender, compreender, entrar na conversação. Depois dos estímulos os museus têm que aumentar a probabilidade da conversação entre os visitantes, entre eles e o museu e também entre o visitante e ele mesmo, a reflexão”, aponta. 

Durante o evento, a professora de educação em museus da USP, Martha Marandino, discutiu a baixa conversação nos museus brasileiros devido às falhas na formação de seus monitores, que em sua maioria são bolsistas, estagiários ou alunos de graduação que ficarão por pouco tempo nas instituições, entre outros problemas. “No Brasil, a experiência da monitoria, em geral, está muito centrada no monitor e na informação científica, então existe uma preocupação muito grande dessas instituições com a correção conceitual, em detrimento de pensar também, ou na mesma proporção, a questão da comunicação, como estabelecer essa relação com o público”, destaca Marandino. 

A professora também lembra que o público de museus brasileiros é restrito ao círculo de pessoas muito escolarizadas, sendo complicada a mudança de exposições brusca no país. “No Brasil uma parcela muito pequena frequenta o museu. Então, qualquer programa para pensar em inclusão, inserção, e fazer com que o público participe, tem que partir dessa realidade e pensar em estratégias para convidar mais pessoas para dentro do museu”. Marandino elenca os museus itinerantes como bons exemplos de relação e acesso para outros públicos, que normalmente não iriam a essas instituições. 

O evento Ciência à vista também proporcionou outros debates, como a arquitetura, financiamento e gestão nos museus, com diversos palestrantes. Sobre o recorrente problema de financiamento, o diretor do Departamento de popularização e difusão da C&T do MCTI, Douglas Falcão, explicou que o momento econômico do Brasil é delicado e que, provavelmente, haverá alguns gargalos nos próximos 2 ou 3 anos com restrições orçamentárias. Nesse contexto, o diretor aconselha que algumas instituições elaborem projetos conjuntos e se organizem para defender politicamente os interesses da área. Falcão também alertou para o público estar atento à abertura, nesse semestre, do edital no valor de R$ 2,5 milhões, em parceria com o Instituto TIM e CNPq, para realizações com o tema “Luz, Ciência e Vida”.