ONGs pedem precaução com nanotecnologia
durante o FSM
Um
dos maiores temores dos pesquisadores em nanotecnologia é
que ela se transforme em alvo de tantas controvérsias quanto
a transgenia. Para a ONG canadense de ação sobre
Erosão, Tecnologias e Concentração (o ETC
Group), que pede por um maior controle social da ciência,
a nanotecnologia corre mesmo esse risco se não forem implementadas
medidas que diminuam o poder das grandes corporações
sobre a pesquisa científica e que permitam ao público
tomar decisões sobre o destino e o uso das novas tecnologias.
Ambas, a nanotecnologia e a transgenia, estariam hoje fora do
controle do público e apenas serviriam aos lucros das grandes
empresas.
O pedido por maior controle social da ciência foi exposto
no debate "Novas tecnologias para um novo mundo possível:
a nanotecnologia é a nova solução?",
dia 28, durante o Fórum Social Mundial (FSM). Além
de pesquisadores do ETC Group, estiveram presentes cientistas
sociais e nanotecnólogos da Europa, América Latina
e dos EUA. Houve divergência, principalmente entre os membros
do ETC e alguns dos nanotecnólogos, que afirmam que os
riscos às vezes são superestimados pelos ativistas.
A nanotecnologia é a manipulação de elementos
ao nível atômico (nanométrico) e engenheiros,
físicos e biólogos em seu campo de pesquisa. A escala
nanométrica é ainda menor do que a escala milimétrica.
Ao mesmo tempo em que existem promessas de novos medicamentos
e novos materiais para um futuro não tão distante,
há também um grande receio quanto aos riscos de
contaminação ao meio ambiente por partículas
nanométricas e com relação a aplicações
militares da tecnologia. Um mesmo elemento, manipulado em escala
nanométrica, apresenta propriedades diferentes de quando
está em tamanho natural. Segundo os ambientalistas, testes
apropriados ainda não foram desenvolvidos.
É isso que pensa Kenneth Gould, pesquisador da Universidade
de St. Lawrence (EUA), que somou-se ao coro dos que pedem pelo
controle mais rígido da tecnologia e pediu uma legislação
global que a regulamente. "Não sabemos mais sobre
potencial poluente porque isso não interessa às
corporações e nem ao Estado", afirmou. Para
ele, o que hoje tem sido tratado como controle democrático
da ciência não passa de uma campanha de divulgação
disfarçada de consulta ao público e que só
acontece depois que os investimentos já foram feitos e
as tecnologias já foram desenvolvidas. "E o pior,
isso tudo tem sido feito pelas próprias empresas interessadas",
completou.
A fala que despertou maior reação e incômodo
dos defensores da nanotecnologia foi a da jornalista e pesquisadora
Silvia Ribeiro, do ETC Group, que há 15 anos dedica-se
ao estudo e a campanhas pelo controle social da ciência.
Ela foi acusada por pesquisadores da área de nanotecnologia
de ser "reducionista" e de divulgar informações
incompletas que induziriam ao erro e ao medo da tecnologia. Mas
não se abalou: "Nesse tipo de argumento há
algo muito arrogante. Existe uma ciência muito sofisticada
na mão dos indígenas, dos camponeses. E é
algo absolutamente aberto ao escrutínio da comunidade e
que funciona justamente por isso, porque é uma ciência
que está sempre em contato com a realidade", disse.
Segundo ela, é preciso haver mais testes antes que as tecnologias
sejam lançadas comercialmente. "A população
não pode servir de cobaia, ser alvo de experimentação",
completou.